Horários de Missa
CAMPO GRANDE/MS
Paróquia São Sebastião
Paróquia São Sebastião
DOMINGO
16:30h - Confissões
17h - Santa Missa
17h - Santa Missa
TERÇA A SEXTA-FEIRA
(exceto em feriados cívicos)
11h - Santa Missa
1º SÁBADO DO MÊS
16h - Santa Missa
11h - Santa Missa
1º SÁBADO DO MÊS
16h - Santa Missa
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Postagens populares
Nossa Sr.ª das Graças
Ave Maria, gratia plena;
Dominus tecum:
benedicta tu in mulieribus,
et benedictus fructus
ventris tui Iesus.
Sancta Maria, Mater Dei
ora pro nobis peccatoribus,
nunc et in hora
mortis nostrae.
Amen.
Nosso Padroeiro
Sancte Sebastiáne,
ora pro nobis.
Papa Francisco
℣. Orémus pro Pontífice nostro Francísco.
℟. Dóminus consérvet eum, et vivíficet eum, et beátum fáciat eum in terra, et non tradat eum in ánimam inimicórum ejus.
℣. Tu es Petrus.
℟. Et super hanc petram ædificábo Ecclésiam meam.
℣. Oremus.
Deus, ómnium fidélium pastor et rector, fámulum tuum Francíscum, quem pastórem Ecclésiæ tuæ præésse voluísti, propítius réspice: † da ei, quǽsumus, verbo et exémplo, quibus præest, profícere: * ut ad vitam, una cum grege sibi crédito, pervéniat sempitérnam. Per Christum, Dóminum nostrum.
℟. Ámen.
Dom Dimas Barbosa
℣. Orémus pro Antístite nostro Dismas.
℟. Stet et pascat in fortitúdine tua Dómine, sublimitáte nóminis tui.
℣. Salvum fac servum tuum.
℟. Deus meus sperántem in te.
℣. Orémus.
Deus, ómnium fidélium pastor et rector, fámulum tuum Dismam, quem pastórem Ecclésiæ Campigrandénsis præésse voluísti, propítius réspice: † da ei, quǽsumus, verbo et exémplo, quibus præest, profícere: * ut ad vitam, una cum grege sibi crédito, pervéniat sempitérnam. Per Christum, Dóminum nostrum.
℟. Amen.
Pe. Marcelo Tenório
"Ó Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote, conservai os vossos sacerdotes sob a proteção do Vosso Coração amabilíssimo, onde nada de mal lhes possa suceder.
Conservai imaculadas as mãos ungidas, que tocam todos os dias vosso Corpo Santíssimo. Conservai puros os seus lábios, tintos pelo Vosso Sangue preciosíssimo. Conservai desapegados dos bens da terra os seus corações, que foram selados com o caráter firme do vosso glorioso sacerdócio.
Fazei-os crescer no amor e fidelidade para convosco e preservai-os do contágio do mundo.
Dai-lhes também, juntamente com o poder que tem de transubstanciar o pão e o vinho em Corpo e Sangue, poder de transformar os corações dos homens.
Abençoai os seus trabalhos com copiosos frutos, e concedei-lhes um dia a coroa da vida eterna. Assim seja!"
(Santa Teresinha do Menino Jesus)
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Homilias
21:15 | Postado por
Sacerdos |
Editar página
25/11/2012
10:33 | Postado por Sacerdos
Homilia do 5º Domingo Após Epifania Transferido
O inimigo semeando o joio em meio ao trigo. Ilustração por René de Cramer.
Por Pe. Marcelo Tenório
Enfim,
mais um dia do Senhor na nossa vida, um Domingo, Dies Domini, dia santo, para nós cristãos a Páscoa semanal. O santo
Evangelho de hoje fala da parábola do joio e do trigo. O patrão, senhor das
terras, mandou que se plantasse trigo. Para que serve joio? Ninguém quer joio.
O joio serve para nada, mas para ser queimado, jogado fora. O inimigo, de
madrugada, semeou joio. De repente, quando o joio começou a crescer em meio ao
trigo, os empregados perceberam que alguma coisa estava errada. E foram até o
patrão: “Senhor, plantamos trigo, e parece-nos também que está nascendo joio.
Temos que arrancá-lo.” E o patrão disse: “Não, deixa estar, porque pode ser
que, arrancando o joio, arranque-se também o trigo, e eu não quero que o trigo
se perca. Vamos deixar o joio crescer. No momento em que forem ceifar, aí sim,
veremos bem, o que é o joio e também o que é o trigo; então, iremos recolher o
trigo para o meu celeiro, e o joio nós vamos queimar e jogar fora.”
Esta
parábola se refere a nós. O patrão, o senhor, é Deus, é nosso Pai. O trigo foi
plantado em nosso coração, na nossa alma, no dia do nosso Batismo. E o que Deus
espera de nós é que sejamos trigo, não joio. O inimigo pode semear na nossa
alma o joio; se crescerá ou não, depende de nós. Nós não somos pessoas
possessas pelo demônio; mesmo os possessos pelos demônios não pecam
voluntariamente, porque não estão nas suas atribuições e faculdades normais, na
sua plena liberdade. Possessões demoníacas não acontecem “em três a cada quatro
pessoas”. De forma que tudo está a critério das nossas decisões. Se queremos
nos transformar em joio, transformar-nos-emos em joio; se queremos nos
transformar em trigo, transformar-nos-emos em trigo. Sabemos muito bem e
claramente, pela palavra de Deus, para onde vai o joio e para onde vai o trigo.
Agora, se durante a vida me tornei joio, não posso esperar que, no final das
contas, vá ser também colocado no celeiro, pois a palavra de Deus é muito
clara: joio no fogo, trigo no celeiro. Se em minha existência me esforço, pela minha
conduta, a ser “trigo”, como bem falava Santo Inácio de Antioquia, com certeza
Deus não falhará em suas promessas; meu destino é o “celeiro”, a casa do Pai,
não há outro objetivo... Agora, se prefiro justamente o oposto, então meu objetivo,
meu fim último é o inferno; o fogo do joio representa o inferno, o fogo dos
condenados.
A
Epístola que acabamos de escutar é uma exortação à nossa santidade, tendo como
princípio fundante a caridade, o amor. Por isso que o grande Mandamento é amar
a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos. Mas a caridade é
o vínculo da perfeição e da paz, isso basta; Santo Agostinho já dizia: “Ame e
faça o que quiseres.” Claro que nós compreendemos muito bem que a frase de
Santo Agostinho não se refere a desejos ilícitos.
Nós
temos o privilégio de assistirmos, todos os domingos, à Santa Missa no Rito de
sempre, o Rito que gerou santos, o Rito que trouxe para a Igreja uma multidão
de mártires, de confessores, de doutores... Um Rito tão perfeito que não há
outro igual. O mesmo Rito que Santa Teresinha do Menino Jesus via das grades do
Carmelo, assim como Santo Afonso Maria de Ligório e outros santos que estiveram
diante deste altar, como nós estamos agora. E qual a diferença destes santos
para nós? A grande diferença é que eles não ficaram apenas olhando o rito. A grande
diferença é que estes não fincaram os pés apenas nos detalhes dos ritos e nas
alfaias do altar, e nem no rito pelo rito. A grande diferença destes santos
para nós é que eles se tornaram o que deveriam se tornar mesmo, e que ainda nós
não temos a coragem de nos tornar: “hóstias com Hóstia”.
Se
a Missa é a renovação do Sacrifício do Senhor, também nesta Missa deve ter o
meu sacrifício, a minha entrega total ao Senhor, renunciando a toda tendência
de ser joio, custe-me o que custar. “Grande diferença” esta, porque o mesmo
Espírito Santo que a multidão de Santos recebeu, também nós recebemos através
do Batismo. E o que falta em nós para permitir que os sagrados Ritos nos
santifiquem? Porque, se eu não quero, Deus não pode: “Aquele que te criou sem
ti, não te salvará sem ti”.
O
que falta para nós? Respondo com uma expressão muito tosca – mas Santa Teresa
de Ávila usava expressões mais pesadas que esta. O que falta para nós todos é vergonha na nossa cara. Se a gente tivesse
vergonha na cara, e olhássemos sério
para o mistério do Calvário, se olhássemos realmente com os olhos da fé o que
os Santos viram em êxtase, verdadeiramente, Cristo em suprema agonia,
derramando Sua última gota de sangue por nós – se nós víssemos isso, nós
iríamos transcender ao Rito, ao estético, ao belo, para nos encontrarmos com o
Belo, com a própria Beleza, que é Deus nosso Senhor. Isso, sim, nos
transformaria, com certeza, em hóstias vivas a se sacrificarem a cada instante,
a cada minuto, a cada momento. Temos que ter muito cuidado, porque sobre nós poderá
cair o que caiu sobre os fariseus: “O Reino dos Céus será tirado de vocês, e
será dado a outro povo.” Assim Deus prometeu, e assim Deus realizou. Não
adianta o exterior se nosso interior não mudou em nada, muito pelo contrário,
piorou.
Nós
estamos divulgando a Carlo Acutis, este jovem do banner ao lado, morto em 2006,
dando a vida pelo Papa. Um jovem como outro qualquer. Um gênio na internet. Um
jovem que, em seu apostolado, usava todos os meios modernos, menos o modernismo.
Viveu até o último instante o seu amor sacrifical por Deus. Depois da sua
Primeira Comunhão, jamais perdeu a Missa. Confessava-se toda semana. Procurava imitar em tudo, inclusive na
prática de penitências, os Pastorinhos de Fátima, pelos quais tinha uma grande
devoção. Embora sua família fosse muito rica, em vez de acompanhar os
amigos para os países tropicais nas férias, ele sempre costumava ir para Assis.
Fazer o que em Assis? Rezar, fazer penitência, sacrificar-se e socorrer os
pobres. E ele não sabia que estava marcado para morrer! Não sabia nada disso...
E ele não assistia à Missa Antiga! Porque não tinha onde morava, e não deu
tempo de conhecê-la... Mas, ah, se ele tivesse descoberto a Missa Antiga!
Interessante isso... E alguém pode
dizer: “Mas ele não assistia à Missa Antiga, como pode ser declarado Servo de
Deus? E como pode ser elevado à honra dos altares?” Então, vocês que assistem à
Missa Antiga, mostrem-me a sua santidade, que eu mostrarei a santidade deste
menino de apenas quinze anos, que assumiu, até o último instante, ser “hóstia
com Hóstia” no altar de sua vida.
E
quando ele menos esperava, veio a notícia da leucemia fulminante, e ele quis
saber do médico até onde ele poderia
sofrer. E vendo os ataques na Europa contra o Santo Padre, um pouco pela
trama diabólica contra a Igreja, outro tanto naquela onda de escândalos de
pedofilia no clero, em que o mundo inteiro – modernista, ateu e herege – exigia
até que o Papa fosse levado a tribunais, este jovem – que não assistia à Missa
Antiga – determinou-se e disse a seus pais: “Ofereço todos os sofrimentos que irei passar pelo Santo Padre.”
Grandiosa esta decisão dele. Ofereceu, e Deus aceitou, porque sofreu
imensamente, durante sua doença até o último instante da sua vida. Pelo Santo Padre,
até o fim, dando a sua vida.
E
deixou oito conselhos aos jovens que servem muito bem para nós, que estamos aos
poucos ficando de cabelos brancos ao mesmo tempo que não tomamos passos em
direção a Deus:
“Desejem imensamente a
santidade. E, se ainda este desejo não tiver nascido em seus corações, peçam
isso a Deus com insistência, e Ele lhes dará.”
“Ide à Missa todos os dias e
façam a Santa Comunhão.”
“Lembrem-se de rezar o Rosário
todos os dias.”
“Confessem-se toda semana,
mesmo que seus pecados sejam pequenos.”
“Se puderem, façam
constantemente um momento de adoração ao Santíssimo diante do altar, lugar onde
realmente Jesus está presente (...).”
“Peçam a seu Anjo da Guarda para
ajudá-los continuamente, de modo que ele se torne seu melhor amigo.”
“Façam pedidos e ofereçam
flores a Jesus e a Maria (...).”
“Todos os dias, leiam uma
passagem das Sagradas Escrituras.”
E,
assim, ele no ensina coisas que ele mesmo testemunhou. Apenas com quinze anos, era
tão ingênuo a ponto de achar que o encontro de Assis seria o momento em que, enfim,
os hereges aceitariam a Jesus e se converteriam. Apesar desta ingenuidade,
Carlo fincou pé com o Catecismo, dando várias e várias catequeses a seu grande
amigo – que era muçulmano – até que o venceu nos argumentos, e se tornou
católico. E, pelo funeral de Carlo Acutis, diante de sua grandeza – seu corpo
exalava um perfume – toda a família muçulmana de seu amigo já católico se
converteu ao Catolicismo romano. Por um menino de quinze anos, que não teve a
chance de conhecer o mistério profundo da Missa Antiga, à qual todos os domingos
nós assistimos... “Ah, mas ele assistia à Missa nova!...” Repito: mostre-me a
tua santidade, e eu te mostrarei a dele!
Corramos
à conversão, porque as prostitutas podem estar nos Céus na nossa frente; encontrando-se
elas com o mistério (da Missa de Sempre), convertem-se, e nós ficamos no pé, só
no resto, só no exterior, e de fato não mudamos nem nos convertemos. Se nós
temos a primícia das primícias – que é a Missa Antiga – temos muito mais
responsabilidade, e Deus irá exigir muito mais de nós, porque não só o rito,
temos a teologia; não só o rito e a teologia, temos a moral de todos os tempos,
a moral cristã autêntica. Então, Deus exigirá de nós muito, mas muito mais que
exigirá de alguém que nem sabe de tantas coisas. “A quem muito é dado, muito
será cobrado.” Que Nossa Senhora nos dê a graça de queremos ser sempre “trigo”,
e de fugirmos do terrível destino do joio, que será lançado fora, às trevas
exteriores, ao fogo – não fogo que consome, mas o fogo que jamais se apaga.
05/11/2012
Homilia proferida em 11 de novembro de 2012.
* * *
O Reinado Social de Nosso Senhor ocorre de forma visível, na Igreja Católica e em sua Hierarquia.
17:20 | Postado por Sacerdos
Homilia da Festa de Cristo Rei
Por Pe. Marcelo Tenório
Cristo Rei. Ilustração por René de Cramer.
A Santa Igreja celebra hoje a Solenidade de Cristo Rei das nações. O santo Evangelho mostra-nos Jesus, diante de Pilatos, afirmando-se Rei: “O meu Reino não é deste mundo. Aqueles que são da verdade ouvem a minha voz. Quem é pela verdade escuta a minha voz.” “Tu és rei?”, pergunta Pilatos. “Tu dizes de ti mesmo, ou alguém te falou que Eu sou rei?”
Nosso Senhor afirma o seu reinado, a sua supremacia sobre o Céu e sobre a terra. Verdadeiramente Cristo é Rei das nações, de todos os povos. E o Seu trono é a cruz, assim Ele o quis. Por isso, a Epístola de São Paulo começa dando graças a Deus porque Nosso Senhor, pela Sua paixão, morte e ressurreição, ou seja, pelo Seu trono glorioso – a cruz – fez-nos dignos de participar da herança dos Santos na luz.
E este senhorio de Jesus está na Santa Igreja Católica, fora da qual ninguém poderá se salvar. O Reinado Social de Cristo é visível, porque resplandece na face da Igreja. Por isto, a Igreja é indestrutível. Enquanto alguns preconizam que a Igreja está se acabando, a nossa fé, as Sagradas Escrituras e o próprio Nosso Senhor nos colocam claramente a perenidade da Igreja, já anunciada em Gênesis: “Ela esmagará a tua cabeça.” A Virgem, a Mulher, a Senhora, a Mãe, a excelsa serva, esmagará a cabeça da serpente e dará, junto com Seu Filho, a vitória, o pleno esplendor da glória de Cristo, Rei das nações.
E este Reinado de Nosso Senhor acontece na visibilidade da Igreja, cujo múnus tríplice continua eficaz: o de governo, o de ensino e o de santificação. E é nestes três pontos, nesta tríplice coroa que aparece para nós, no aspecto da coroa de espinhos colocada pelos romanos, a tríplice coroa gloriosa: o Cristo que é Rei e que, portanto, ensina, governa, santifica seus filhos através da ação sacramental da Igreja. Esta ação sacramental passa pela Igreja – Corpo Místico de Cristo – sobretudo pela sagrada Hierarquia.
Portanto, Cristo reina visivelmente na pessoa de Seu Vigário na terra: o Santo Padre, o Papa, este chefe visível da Santa Igreja. Estar com o Papa é estar com Nosso Senhor: onde está Pedro, aí está Cristo. Logo, estar contra o Papa é não estar com Cristo; e, não estando com Cristo, não se está na Igreja. Enganam-se aqueles que querem ou teimam ser católicos, mas insistem em se separar do Papa; mesmo afetivamente apegados a ele, já não são mais católicos, estão fora da Igreja. É necessária esta adesão filial ao Santo Padre como princípio e fundamento da Igreja. É importantíssimo, para nós, na nossa catolicidade, não compreendermos um catolicismo desvinculado da sagrada Hierarquia, porque isso não existe. E isso tem nome: chama-se liberalismo prático. Há pessoas que permanecem em certas práticas religiosas católicas, mas totalmente desvinculadas da Hierarquia: não têm Paróquia nenhuma, não se submetem a nenhum Bispo legítimo e nem ao Papa... Não são católicos! Não recebem as graças necessárias porque estão na desobediência prática.
O nosso grande São Bento, em sua regra, fala sobre os gêneros de monges, e diz que o pior gênero de monges é o daqueles ditos vagantes, ou giróvagos. São monges que não se submetem a abade nenhum: vão por aqui hoje, amanhã estão ali, depois de amanhã estão acolá. É como se jogássemos milho às galinhas: elas vão para onde tivermos espalhado os grãos, mas elas não estão nem aqui, nem ali e nem acolá. São “católicos” sem Paróquia, são “católicos” que não se submetem a um Pároco nem a um Bispo legítimos (porque não os têm)... Enganam-se! Enganam-se achando que podem trilhar, crescer e ascender no caminho da espiritualidade reta e sadia. Enganam-se achando que podem viver no mundo da graça separados da Santa Igreja de Deus e de seu princípio e fundamento (o Papa), apartados do Bispo diocesano. É um engano terrível, um engano do demônio! São para essas pessoas que Nosso Senhor falou: “...para que, vendo, não enxerguem e para que, escutando, não entendam.”
A Festa de Cristo Rei deve nos levar ao coração da Igreja, e nos unir na sua visibilidade: Cristo é Rei e continua reinando e governando através da Igreja Una, Santa Católica e Apostólica; através do Santo Padre, o Papa; através dos Bispos legítimos e em comunhão com o Papa; através da Paróquia, da paroquialidade. Não existem católicos sem paroquialidade. Um católico que não se submete a Pároco nenhum nem a Bispo nenhum é pior que os monges giróvagos de que São Bento falava. A Festa de Cristo Rei deve nos levar para o coração da Igreja, para o coração do Santo Padre. Sem isto, é impossível haver catolicidade; sem isto, impossível haver salvação.
Ao olharmos a vida de todos os Santos, vemos que todos eles nutriam uma profunda veneração e adesão de amor pelo Papa e pelo seu Bispo local. Olhemos para Padre Pio: quantas injustiças sofreu, sobretudo as de seu Bispo iníquo dos anos 1920 e que depois chegou a ser deposto pelo Santo Ofício; mas Padre Pio ficou firme na obediência, porque reconhecia naquele Bispo a figura do próprio Cristo, mesmo que o Bispo não fosse santo quanto deveria. Lembremo-nos de Santa Teresinha, que apelou ao Bispo de Roma a fim de entrar no Carmelo aos quinze anos. Lembremo-nos de São Francisco de Assis, que, amigo da pobreza, e mesmo que Inocêncio III lhe beijasse os pés, foi até este Papa para entender, compreender aonde ele, Francisco, “possivelmente teria errado”. Todos os Santos, dos mais eminentes aos menos notados, se dobraram diante da autoridade do Papa. E nenhum santo foi nada sem esta adesão filial e afetiva ao Santo Padre. São nada aqueles vagantes que pretendem estar em comunhão eucarística na Missa, mas não estão em comunhão alguma com a Igreja visível e com a sagrada Hierarquia. Que este pecado grave não caia sobre nós! Que este ato temerário não esteja sobre nossas costas! Sobretudo aqui em nossa Paróquia: esta é a casa do Papa, esta é a casa do Bispo diocesano, e aqueles que não estão em comunhão nem com o Papa nem com o Bispo diocesano aqui não têm lugar e nem são bem-vindos.
Nesta Festa de Cristo Rei das nações, ao olharmos para a Sagrada Hóstia a elevar-se, peçamos ao Senhor a graça de permanecermos firmes e unidíssimos à Santa Igreja de Deus e à sua sagrada Hierarquia, para que Cristo verdadeiramente reine em nossos corações, e que Seu Reinado Social assim se estabeleça em nossa terra através da nossa submissão visível aos nossos pastores legítimos. Assim seja.
Homilia proferida em 28 de outubro de 2012.
* * *
Homilia proferida em 08 de Julho de 2012 (Domingo).
07:39 | Postado por Sacerdos
Homilia da Missa do 6º Domingo Após Pentecostes
13:19
| Postado por Sacerdos
Homilia
proferida em 24 de Junho de 2012 (Domingo), festa da Natividade de São João Batista.
Homilia proferida em 3 de Junho de 2012, no Festa de Pentecostes.
22:18 | Postado por Sacerdos
Homilia proferida
em 26 de Maio de 2012, no 1º dia da Visita das Relíquias de São Sebastião a Campo Grande/MS
09:42
| Postado por Sacerdos
06/08/2012
09:30
| Postado por Sacerdos
Homilia da Missa do 7º Domingo Após Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena, Dominus tecum,
benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
R: Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis
peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
V. Ora Pro nobis Sancta Dei Genitrix
R: ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Na Epístola que acabamos de escutar, extraída da
carta de São Paulo aos Romanos, fala-se claramente da escravidão da carne, e
ele fala como homem aos homens: “Vou falar como homem atendendo à fraqueza da
vossa natureza carnal.” E acrescenta: “Já que vocês se entregaram à escravidão
do pecado, vivendo na impureza e na concupiscência, então que se tornem
escravos das virtudes.” “Já que foram escravos do vício, que se tornem escravos
das virtudes. Quando éreis escravos do pecado, estáveis livres quanto à
justiça; ora, que frutos tirastes então daquelas ações?”
Pecado gera pecado. Quem está no pecado, está
mergulhado na escravidão do pecado. Quem se deixa escravizar nas virtudes, não
deixa predominar em si nenhum tipo de escravidão, mas muito pelo contrário: é
genuína de verdade que habita na sua alma. Ora, não podemos nos deixar levar
pelo pecado. Devemos constranger a própria carne para que possamos permanecer
nas virtudes.
O Santo Evangelho vai nos falar justamente que devemos
nos guardar dos falsos profetas. E Nosso Senhor nos dá a graça de uma luz de
discernimento. Uma árvore boa sempre dá bons frutos. Não se pode, de uma árvore
boa, tirar maus frutos; não se pode, de uma laranjeira, sair figos. De forma
alguma... Árvore boa dá bons frutos. É pelos bons frutos que podemos reconhecer
a boa árvore.
(Também) Nosso Senhor nos coloca, claramente, que
não se trata, aqui, de (fazer) muito alarde. Deus não quer aparências; Deus
quer decisões. É o coração que Deus quer; são as atitudes que Deus deseja. Não
adianta falar muito; não adianta fazer algum tipo de barulho se, na verdade, o
coração continua escravo do pecado. Não é aquele que diz “Senhor, Senhor” (que
agrada a Deus), não é o que fala bonito, não é o que reza bonito... A oração
ajuda a alma; mas, se esta alma, mesmo rezando, permanece no pecado, esta
oração, como ensina São Luís Grignon de Montfort, “em vez de um louvor a Deus,
torna-se a própria condenação, torna-se blasfêmia” porque, se se reconhece a
ação de Deus e se se reconhece a Sua grandeza na oração e, diante da grandeza
de Deus, não se muda de vida; se não há conversão, se não se conforma a Deus –
e conformar-se é “tornar-se da mesma fôrma”, é ficar semelhante – se não há
isso, então a oração, os terços, as Santas Missas a que assistimos tornam-se,
diante de Deus, blasfêmias, porque estamos diante dEle, estamos no Seu culto
mas, de forma nenhuma, queremos mudar, de forma nenhuma pensamos em abandonar a
escravidão do pecado.
Nosso Senhor nos chama, aqui, e com toda clareza,
para um compromisso, um compromisso de fato e de verdade com a nossa conversão
interior. Porque o que está escondido depois vem à tona; nada escondido
permanece oculto. De forma nenhuma. Quem tem a vida reta deve transparecer a
sua retidão nas coisas, nas obras, no falar, no estar, no locomover-se... Toda
esta vida tem que ser um verdadeiro Evangelho; a nossa vida deve ser, para o
outro, um verdadeiro Evangelho.
Certa vez, São Francisco saiu com Frei Leão para
anunciarem boas obras. Chamou Frei Leão e disse-lhe: “Vamos anunciar o Reino de
Deus, vamos até a cidade.” E, ao chegarem à cidade, apenas deram voltas na
praça. E, nisto, chamou Frei Leão para retornar ao convento. “Mas, como, Pai
Francisco? Como fazer isso? O senhor não falou nada; o senhor não falou com
ninguém.” E São Francisco lhe disse: “Se eles não são capazes de entender a
minha presença aqui, não serão capazes de entender as minhas palavras.” As
palavras são importantes, mas é a presença, é o testemunho, é a vida reta que
iluminam a vida dos outros. Semelhante a um espelho, quantos se convertem
apenas em olhar e em perceber a vida exemplar daquele que está próximo! Assim
são certos casais que, observando como vive santamente um determinado casal e
como este construiu a casa na rocha (isto é, debaixo das leis da Igreja e de
Deus), resolvem então fazer a mesma coisa. Ou os jovens que, diante do
testemunho de outro jovem – testemunho firme, cristão, de pureza, de castidade,
de obediência – também resolvem se deixar “escravizar” por esta Lei suave. “O
meu jugo é suave e meu peso é leve”, diz Nosso Senhor sobre Seu jugo, que não
escraviza de forma alguma, muito pelo contrário: torna-nos cada vez mais
livres, de uma liberdade interior jamais vista que nada neste mundo pode nos
conceder.
Esta é a nossa missão: não muitas palavras, não
muitas orações, não muitas penitências... Aliás, Santa Catarina de Sena relata,
em seu “Diálogo”, justamente receber a seguinte mensagem de Nosso Senhor, que
nos orienta muito bem: “Muitos querem penitências muito pesadas, mas não querem
mudar de vida.” As penitências ou as mortificações só têm sentido quando já se
está em plena conversão. Porque muitas vezes queremos muitas penitências, mas o
essencial não fazemos, que é a mudança de vida, a santificação da nossa alma.
E aí está o nosso grande tesouro: não muito a
fazer, não só as práticas exteriores, mas determinar-se por Deus
verdadeiramente, abandonando tudo aquilo que possa nos afastar dEle,
fazendo-nos crescer, ascender na prática das virtudes. Isso é que interessa:
a prática das virtudes, o crescer e o galgar algo mais além na prática das
virtudes. É isso que Deus deseja e espera de nós, para que os nossos frutos
sejam verdadeiramente frutos que possibilitem a outros, olhando para nós, se
edificarem. Por isso, aquele texto belo do Evangelho: “Vós sois a luz do
mundo, para que os outros vejam a Vossa luz, as vossas boas obras, e
glorifiquem o Pai que está nos Céus.” É verdade que devemos fazer com a direita
para que a esquerda não veja, ou vice-versa, mas é mais verdade ainda que, se
não fazemos às claras, se estas boas obras não aparecem (não para o nosso
engrandecimento), deixaremos de iluminar a muitas almas que precisam,
justamente, do nosso testemunho para perceberem que vale a pena abandonar o pecado
e que devem abandonar o pecado, que devem guerrear contra os vícios para,
enfim, galgarem e crescerem nas virtudes.
* * *
05/08/2012
07:39 | Postado por Sacerdos
"A Missa não é um palco para apresentações, onde há 'fãs e ídolos'. Isso não é Missa! A Missa é o Calvário; nela não há palcos, há o altar da cruz." (Pe. Marcelo Tenório) |
Homilia da Missa do 6º Domingo Após Pentecostes
Pe.
Marcelo Tenório
Na Epístola de São Paulo aos Romanos fala-se que o
centro teológico é justamente a vida nova em Cristo pelo Batismo. Participamos
da morte de Cristo através das águas sagradas do nosso Batismo. E dizem as
Santas Escrituras que “se com Ele morremos, com Ele iremos ressuscitar”. Participamos
da Sua Paixão, somos mergulhados e lavados no Seu sangue.
No Livro do Apocalipse, quando São João vê aquela
grande multidão de branco e indaga: “Quem são estes diante do trono do
Cordeiro?”, vem a resposta: “Estes são aqueles que vieram da grande tribulação
e lavaram as suas vestes no Sangue do Cordeiro.” Lavamos as nossas vestes, podres
pelo pecado original, já na pia de nosso Batismo, no Sangue do Senhor, na Sua
redenção. Por isso, nos tornamos homens novos; o homem velho morre, é deixado
de lado. Ora, se nos tornamos novos, devemos viver vida nova. E, noutra
passagem, encontramos: “Vós estais mortos, e a vossa vida está escondida com
Cristo em Deus.” E é verdade. Morremos no Batismo: morremos para o mundo,
morremos para o pecado. O pecado não pode ter em nós a última palavra. Não
vivemos para ele; não pertencemos a ele; morremos para ele e nascemos para
Deus.
A nossa grande luta enquanto aqui estivermos é
justamente correspondermos à graça de Deus. São Paulo, reconhecendo suas
falhas, reconhecendo seus limites, suas fraquezas, pede a Deus três vezes para
que retire o espinho de sua carne, e Deus lhe responde: “Basta-te a Minha
graça.” O que basta para nós é a graça de Deus no Sacramento do Batismo, e em
nenhum momento, e por nada, devemos nos afastar desta vida nova, desta graça
santificante.
(Nele vemos) Jesus que tem compaixão, que se
compadece; o texto original fala que “as Suas entranhas se contorceram”,
“compadeceram-se”, “as entranhas se compadecem”. Deus que se compadece da fome
do Seu povo – que não era aquela fome material – multiplica os pães não tendo
em vista o bem material, mas para alertá-los, ensiná-los ou atraí-los para algo
mais importante. Depois, quando a multidão se volta para Ele, vai lhe dizer:
“Vocês vieram aqui não pela Minha palavra, mas porque comeram e ficaram
saciados. Trabalhai, buscai o Pão que, se vocês comerem dele, terão a vida
eterna; Minha carne trará vida ao mundo.”
Em todo o Capítulo 6 do Evangelho de São João,
Nosso Senhor nos dá a belíssima catequese sobre a Santíssima Eucaristia. Então,
o Batismo está ligado perfeitamente à Santíssima Eucaristia. Os pães que servem
aqui para alimentar a vida material do povo, saciar sua fome, é a prefiguração
do Pão do Céu: “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.” Os sete cestos que
sobraram significam a perfeição deste alimento. “Vossos pais comeram o maná no
deserto e morreram; mas aquele que comer deste pão viverá eternamente, porque o
pão que darei é a Minha carne para a vida do mundo.” E aí está a Missa. O que é
a Missa? A Missa é a renovação do mistério da cruz. E o que aconteceu na cruz,
o que aconteceu no Calvário? Morte, paixão [=sofrimento, n.d.r.], dor... E, se
participamos desta morte, também participaremos da Sua ressurreição.
Padre Pio dizia: “A Missa é uma eterna agonia, e a minha
responsabilidade é única no mundo.” A Missa é isto: uma eterna agonia. É o
sofrimento de Deus que se humilhou por nós e que foi elevado na cruz, no
martírio, na ignomínia, pois a cruz era sinal de maldição para os romanos.
A Missa não é um palco para apresentações, onde há
“fãs e ídolos”. Isso não é Missa! A Missa é o Calvário; nela não há palcos, há
o altar da cruz. A Igreja não vive de fãs, a Igreja vive de fiéis, fiéis que
esperam aos pés do Calvário o sangue redentor que se renova neste mistério da
Paixão e do sacrifício da cruz. Aqui não há ídolos, aqui não há fãs, aqui não
há animação! O grande sinal de que não se entende a Missa é a busca por Missas
“animadas”. “Missas animadas” não existem, porque não existe um Calvário
animado! Você ficaria tão animado assim na morte do seu pai, ou do seu irmão de
forma tão trágica? Você pularia de alegria? Você dançaria rodopiando ao redor
do caixão? Não existe Missa animada, porque a Missa é o sacrifício da cruz:
Cristo que padece, Cristo que sofre, Cristo que está só, Cristo que morre para
a salvação da humanidade inteira.
“Mas Ele ressuscitou!”, dizem. Sim! Ressuscitou...
Mas o que se espera de Deus, que é
a vida? Que esteja vivo! A Teologia Católica não se fundamenta na Ressurreição.
São os protestantes que nela se fundamentam e por isso suas cantigas
cantaroladas falam muito de que Cristo está vivo, de que Cristo vive... Mas a
Teologia Católica é da cruz. Diz São Paulo: “Eu vos prego Cristo, Cristo
crucificado.” Por quê? Porque o grande mistério não é o de Deus vivo. É óbvio
que se esperaria isso Deus! O grande mistério, na verdade, é um Deus que é
vivo, que é a própria vida,
que é essencialmente vida, que não pode morrer e que não pode sofrer, mas que
sofreu verdadeiramente e morreu por nós, assumindo as nossas dores, assumindo a
nossa humanidade. Este é o grande mistério! E é este mistério que renovamos na
Missa, onde é dada para nós a Eucaristia: o Corpo e Sangue, Alma e Divindade de
Nosso Senhor Jesus Cristo. A Eucaristia que permanece para nossa adoração
escondida no silêncio do sacrário.
Então, isto é a Missa... A Missa nada mais é do que
o sacrifício da cruz. Por isso não nos cabe dizer: “Vou àquela Missa porque gosto
disso”, ou “Gosto de Missa assim e assado...”. Ora, a Missa não é para ti! A
Missa é o culto supremo que a Igreja, por mandato de Jesus, presta a Deus. A
Missa não é para ti, nem para os outros; a Missa é para Deus. E nesta Missa, o
que acontece? Nesta Missa, Cristo Se oferece ao Pai destruído, partido, por nós
homens, e pela nossa salvação. Isto é Missa.
Logo, não existe Missa animada ou Missa alegre, assim
como não deve existir um velório alegre. Existe, sim, uma alegria cristã
profunda. Podemos afirmar que Nossa Senhora estava no Calvário profundamente alegre,
por quê? Porque Ela sabia que ali acontecia a redenção da humanidade. Mas a
alegria dEla não era eufórica. Há uma alegria extrema, interior, profunda, que se
sente mesmo na dor. O resto é periférico; são euforias passageiras; sentimentalismos
etéreos que mais atrapalham do que ajudam a compreender o que realmente é a
Missa. E como devemos estar na cruz? Como os outros estavam, diz Padre Pio:
“Como estava a Virgem Maria, como estava São João, como estavam os Apóstolos,
como estavam as Santas mulheres”: aos pés da cruz olhando para o Crucificado.
Ele mesmo falou: “Quando Eu for elevado, atrairei todos a Mim.” Isto é a Missa,
nada mais que isto.
* * *
23/07/2012Sangue de Cristo, preço da nossa salvação, salvai-nos! |
Homilia
da Missa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
Pe.
Marcelo Tenório
V. Ave
Maria, Gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus
frutus ventris tui Jesus.
R:
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis
nostrae. Amen.
V. Ora
Pro nobis Sancta Dei Genitrix
R: ut
digni efficiamur promissionibus Christi.
A
Igreja celebra hoje a Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor, cuja
Epístola enuncia a grandeza deste Sangue, que não pode ser comparado ao sangue
de touros e de cabritos – e, se se acreditava que o sangue de um cabrito
pudesse retirar algum pecado e restaurar a humanidade, muito mais deve-se crer
no Sangue do Cordeiro sem mancha.
São
João Batista, cuja solenidade foi recentemente celebrada, apontava aos seus:
“Ecce agnus Dei” – “Eis o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”. E
como Ele tira os pecados do mundo? Pelo Seu sacrifício. O sacrifício, mesmo na
época dos fariseus, ou bem antes, não consistia em matar a vítima. A morte da
vítima era consequência. O sacrifício consistia no derramamento de sangue. E
esse sangue derramado era justamente a parte central do sacrifício. Cristo, no
Evangelho de hoje, derrama o Seu sangue todo pela humanidade inteira. E, quando
não tinha mais sangue para verter, diz o Evangelista: “Do Seu coração sai
água”. Sangue e água. Por isto, hoje é celebrada esta grande festa dedicada ao
Santíssimo Sangue de Jesus.
Dizem
as Sagradas Escrituras: “Completo na minha carne o que faltou à Paixão do
Senhor”. Somos chamados a nos conformar com Nosso Senhor também nas dores,
também nos sacrifícios. Somos chamados a seguir os Seus passos não nas glórias,
mas na cruz. Na glória um dia queremos estar; desejamos, esperamos ansiosamente
por isso. Mas, antes, nosso caminho é o Calvário, é estar ao lado do Senhor,
como Maria esteve, como São João Evangelista esteve. Alguém perguntava a São
Padre Pio: “Como devo assistir à Missa?” E ele disse: “Como Maria e São João
Evangelista, ao lado do Senhor.” É na cruz o nosso lugar. Na cruz se encontra
toda graça, toda redenção. Nesta cruz que está diante de nós, neste mistério do
Calvário que se renova no Santo Sacrifício da Missa. Neste sangue de Cristo que
é derramado, que cai sobre a humanidade. Deus que desce: sinkatabasis [=
“descer junto” (ao homem), expressão grega empregada por São João Crisóstomo para
designar a Encarnação do Verbo, n.d.t.] de Deus, aniquilamento de Deus, faz-se
igual a nós em tudo, menos no pecado.
E, como
dizia o grande e antigo Ofício (popular) de Nossa Senhora: “Deus desce das
sumas alturas para o homem se elevar até Ele.” Ele desce para, através de Sua
descida, de Seu aniquilamento – e aí está o Seu sacrifício da cruz – pudéssemos
também nós, unidos a este sacramento augusto, a este sacrifício augusto,
fazendo a nossa vida também sacrifício, fazendo do nosso dia uma ação sacrifical
de nosso ser, da nossa vida, rompendo com o pecado, trilharmos com esperança o
caminho do Céu, o caminho da glória. A nossa meta, o nosso único objetivo, é
Cristo, e Cristo crucificado. Neste mundo, nosso único lugar é na cruz, com
Nossa Senhora, com São João Evangelista: se com Ele sofremos, com Ele um dia
também iremos nos alegrar.
Portanto,
que esta festa do Santíssimo Sangue de Jesus nos dê as graças necessárias para
que, heroicamente, não fujamos da cruz, mas que Nosso Senhor coloque em nós a
têmpera dos mártires. Se morrermos pela nossa fé católica, se derramarmos o
nosso sangue – de forma concreta se for preciso, ou de forma moral – mas que
não fiquemos alheios ou amorfos, jamais reneguemos o sinal da cruz um dia feito
sobre a nossa fronte no augusto momento do nosso Batismo. Que o Cristo Rei, que
reina pela cruz – este Cristo que, quando já não tinha mais sangue, do Seu
coração aberto saiu água – possa nos dar a graça. E saibamos que a graça das
graças não é começo, mas a graça das graças é terminarmos bem esta nossa vida
sobre a terra, unidos aos corações de Jesus e de Maria, fazendo jus ao nosso
nome de cristãos, fazendo jus ao que recebemos na Crisma quando nos tornamos
soldados da Igreja, soldados de Cristo, para derramarmos, até o fim e se preciso
for, o nosso sangue – hóstia com hóstia. Deus que Se deu e Se entregou por nós,
espera que também façamos por Ele a mesma coisa.
Que o
Sangue de Cristo, Preciosíssimo, possa se derramar em nós – e que estejamos
abertos às graças que, por certo, nesta Santa Missa, ser-nos-ão derramadas. E
não deixemos passar este momento. Não façamos como aquele povo do Calvário que
passava indiferente pelo Crucificado.
Homilia proferida em 01 de
Julho de 2012 (Domingo), Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor.
10:32
| Postado por Sacerdos
* * *
09/07/2012São João Batista, rogai por nós! |
Homilia
da Missa da Natividade de São João Batista
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave
Maria, Gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus
frutus ventris tui Jesus.
R: Sancta
Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae.
Amen.
V. Ora Pro
nobis Sancta Dei Genitrix
R: ut digni
efficiamur promissionibus Christi.
“João será o seu nome.” A
Igreja celebra a Solenidade do Nascimento de São João Batista. Os Santos, na
Igreja, são celebrados na morte, seu trânsito. João Batista é o grande entre os
santos, de forma que a Igreja não celebra a sua morte com garbo, mas a sua
Natividade de modo solene.
Pois bem. João Batista, o
último dos profetas. A ele coube encontrar-se com o Messias, apontar o Messias.
Há poucos dias tive a graça de estar no lugar onde São João Batista nasceu,
numa colina belíssima de frente a Jerusalém, vizinha a Jerusalém. Há próximo
dali uma fonte, chamada “Fonte de Maria”, na qual a Virgem Mãe, a Virgem
Santíssima, ajudando a sua prima, às tardinhas descia sempre àquela fonte para
pegar água e subir até a casa de Santa Isabel. Foi naquele lugar onde nasceu
São João Batista.
“João será o seu nome”. Diante
do anúncio do anjo, antes, a Zacarias, e o anjo anuncia da parte de Deus que Isabel,
apesar da sua idade avançada, teria um filho, Zacarias, em vez de acreditar,
duvidou: riu-se interiormente. E, por castigo, Deus tirou-lhe a voz, ficou
mudo. E, neste momento em que a mãe – o que é uma exceção, é sempre o pai que
dá o nome ao filho – e neste momento em que Santa Isabel
determina o nome, e Zacarias confirma: “Será mesmo João, o amado de Deus”, sua
língua se solta, e Zacarias começa a louvar a Deus. Um louvor tardio, de
agradecimento; deveria ter feito antes, no momento em que o anjo lhe anuncia a
grande novidade.
Podemos comparar o
enrudescimento de Zacarias, a sua falta de fé, com a exultação de Maria e a sua
fé firme em seu
Deus. Zacarias se cala, ou é calado; Maria exulta no
Magnificat: “Minha alma glorifica ao Senhor”. Imediatamente a Virgem Santíssima
louva a Deus por aquela providência, por aquele plano, pelo Filho, pelo Fruto
de suas entranhas. Tardiamente, Zacarias louvará a Deus por tudo o que Ele está
fazendo por seu povo, Israel.
João é o último dos profetas. É
aquele que encerra, de certa forma, o profetismo antigo e aponta para o novo.
De tal forma e com tal força que a Igreja, na sua Sagrada Liturgia, sempre
repete: “Ecce Agnus Dei, qui tollit
peccata mundi” – “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do
mundo”. Não quis que o povo e os fiéis ficassem com ele. Muito pelo contrário:
“Que eu desapareça, mas que Ele se eleve”.
João vai morar no deserto, vai
viver extremamente uma vida de penitência, preparando-se para o anúncio do
Reino de Deus. E, assim, do deserto, sua voz, a voz que clama do deserto:
“Preparai os caminhos do Senhor”, que escutamos tanto no Tempo do Advento.
“Preparai os caminhos do Senhor”, “Endireitai as Suas veredas”, “O Reino dos
Céus está próximo”, “Toda árvore que não der fruto será cortada, lançada ao
fogo; eis que o machado foi posto à raiz das árvores”, “Convertei-vos”. E não
só ao povo, mas ao Rei, que vivia em adultério, que vivia com a mulher do seu
irmão. E, como o pecado era público, João se levantava publicamente contra o
Rei, sem medo, sem temor; olhos fixos somente em Deus, e com zelo, com amor
profundo pelas almas e pela salvação das almas. Assim foi o grande João
Batista. Por isso que o seu nascimento traz um véu de mistério, tanto que as
pessoas dizem aqui no Santo Evangelho: “Este menino será grande”. “E tu,
menino, serás profeta do Altíssimo; irás à frente do Senhor, para preparar os
Seus caminhos.” É o Canto de Zacarias, o Benedictus,
que todas as manhãs a Igreja entoa na oração das Laudes.
E
o que é que João diz para nós? Que nos convertamos! “Quem roubou, não roube
mais; quem adulterou, não adultere mais; quem mentiu, não minta mais...” Essa é
a voz do deserto que clama para nós. Não com doces, não com harmonias, não com
músicas que trazem para nós tanto “açúcar” que só atrai formigas, nada mais do
que formigas, e que não fazem de nós, de forma nenhuma, heróis da nossa fé; não
fazem de nós pessoas fortes, capazes de renunciarmos ao pecado – ou, melhor,
cortarmos com esse machado que está posto à árvore, mesmo que nos custe, mesmo
que nos faça sofrer a raiz em nós de todo mal. É o que Deus espera de nós: uma
conversão profunda, precisa, imediata, sem delongas!
Noutro momento, Nosso Senhor
fará um grande elogio a João Batista. “O que vocês foram ver no deserto? Um
homem vestido com roupas finas, com gestos elegantes? Esses homens não estão no
deserto, estão nos palácios. O que vocês foram ver no deserto?”, indaga Jesus.
E, noutra parte, Ele vai dizer: “Daqueles que nasceram de mulher, nenhum foi
maior que João Batista.” Nenhum! É o grande elogio de Jesus. Mas, em seguida,
Ele dirá para nós: “O menor no Reino dos Céus, este é maior que João Batista.”
De forma que, no mundo da graça, ninguém é maior, ninguém é menor; ninguém tem
menos, ninguém tem mais; Deus distribui as Suas graças. Sem delongas, sem
moleza; sem estarmos caídos, debruçados sobre o nosso pecado; sem estarmos
chorando num eterno muro de lamentações sem provocar em nós, destes choros, uma
autêntica, precisa, mudança de vida. Deus não quer de nós choros, nem tampouco que
“rasguemos as vestes”, se atrás disto ou se depois disto não vem a prática de
uma vida convertida, de uma vida nova.
Não é com palavras bonitas, não
é com musiquinhas bonitas, não é com novos métodos que iremos salvar a nossa
alma, mas com determinação, com austeridade, com violência contra nós mesmos,
contra nossa carne que nos arrasta para o pecado. Por isso Nosso Senhor, noutra
passagem, vai nos dizer: “O Reino de Deus é dos violentos.” E só os violentos
entram; os molengas, os efeminados, não entrarão no Reino dos Céus por quê?
Porque não se determinam para isso.
Que Deus, Nosso Senhor, neste
dia da Natividade de São João Batista, nos dê a têmpera dos mártires, para que,
sem moleza, possamos, assumindo a nossa austeridade de cristãos, rumarmos para
a vida eterna, cortando – de imediato, sem delonga alguma – com o pecado, com
tudo aquilo que impede a nossa salvação. Sem medo de forma alguma, sem espanto,
mas com a fé viva no Cristo Senhor ressuscitado e sob a ajuda da poderosíssima
Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria.
“De mil soldados não teme a
espada quem vive à sombra da Imaculada.” Que Nossa Senhora nos ajude a um bom
termo nesta vida.
* * *
29/06/2012
Em Pentecostes, não houve a incompreensão de línguas, mas o
entendimento daquilo que Deus quer falar
04:48
| Postado por Sacerdos
Homilia
da Missa do Domingo de Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus,
et benedictus frutus ventris tui Jesus.
R: Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora
mortis nostrae. Amen.
V. Ora Pro nobis Sancta Dei Genitrix
R: ut digni efficiamur promissionibus Christi.
A Igreja celebra hoje a solenidade de Pentecostes, a descida do Espírito
Santo no Cenáculo sobre Maria, os Apóstolos e os discípulos.
A Santa Igreja nasce do lado aberto de Jesus Cristo na cruz, mas hoje é
como que inaugurada publicamente. O Espírito Santo desce com força, com poder,
com autoridade. Derramam-se sobre os Apóstolos com Maria, em forma de línguas
de fogo, os dons, o carisma, tudo aquilo que é necessário para a missão
apostólica da Igreja é derramado pela ação e pela graça do Espírito Santo.
Tinham-se completado os dias de Pentecostes, ou seja, cinquenta dias
após a Páscoa. Estavam todos os discípulos no mesmo lugar quando, de repente,
sobreveio do céu um estrondo como de vento soprando impetuosamente. E desce o
Espírito Santo, e eles começam a falar em línguas conforme o Espírito lhes
concedia que falassem. Estavam ali gregos, medos, elamitas, de várias
nacionalidades... E ficaram maravilhados porque os Apóstolos começaram a louvar
e a bendizer a Deus e aqueles que ali se encontravam compreendiam perfeitamente
em sua própria língua. É o que a Igreja chama de “glossolalia”, o que aconteceu
justamente em Pentecostes. É o famoso dom de línguas, que não é a incompreensão
de línguas, mas muito pelo contrário: é a compreensão daquilo que Deus
quer falar.
Como tantos estrangeiros poderiam compreender os Apóstolos? Compreendiam
porque, ao descer o Espírito Santo sobre a Igreja nascente, todos escutavam as
maravilhas de Deus na sua língua. Aqui não há diversidade de línguas pela ação
do Espírito Santo; tal obstáculo surgiu antes da descida do Espírito Santo [pois as diferentes línguas surgiram em Babel, n.d.t.].
Imaginemo-nos numa peregrinação a Roma ou à Terra Santa: em meio a tantos
grupos e a tantas nacionalidades, ai está a diversidade de línguas, porque não
se entende se não se conhece o idioma daquele local. Em Pentecostes, não houve
uma diversidade de línguas: em Pentecostes, houve a unidade das línguas.
E esta unidade das línguas é no Espírito Santo: quando desce o Espírito Santo,
todos compreendem, todos escutam, todos entendem; a língua já não é mais um
empecilho, porque o dom das línguas que é derramado.
Claro, é um fenômeno, um milagre o que aconteceu naquele momento de
Pentecostes. Hoje, se você não estudar o francês, o inglês, o italiano, claro,
você chegará em Lourdes e, se for se confessar, não entenderá o que o padre te
falará, nem tampouco o padre entenderá você, porque a cada um falta-lhe o
conhecimento intelectual daquela língua pronunciada pelo outro.
O Espírito Santo não costuma fazer espetáculos de poder. O Espírito
Santo não costuma nos dar aquilo que não temos. Ele costuma aprimorar,
recordar, ajudar naquilo que, pela nossa inteligência dada por Deus,
aprofundamos e melhoramos. Àquele estudante que não faz nada, não estuda,
gastou o tempo de estudo em brincadeiras e, na hora da prova, invoca o Espírito
Santo, claro que o Espírito Santo não o ajudará descerá e tampouco dará a esse
aluno uma boa nota. Por quê? Porque esse aluno não fez aquilo que deveria ter
feito: estudar, ter o domínio da matéria. Aí, sim, tendo estudado e adquirido o
domínio da matéria, o Espírito Santo invocado irá ajudar aquele cristão
católico, irá recordar, iluminar. Se você não sabe inglês, não pense que o
Espírito Santo lhe fará interpretar a língua inglesa sem nunca ter se debruçado
sobre os livros e a gramática ingleses.
Aqui é o momento fundante da Igreja. Acontece a glossolalia: na
diversidade de línguas, a unidade da Igreja. Por isso que até hoje o Latim
é a língua oficial da Igreja. Por quê? Porque se nós estivermos na China, se
nós estivermos na Croácia, se nós estivermos na Polônia, poderemos, com muita
tranquilidade, assistir à Santa Missa, compreender a Santa Missa, cantar os
hinos, entoar o Credo sabendo aquilo que estamos cantando. O Latim, esta língua
belíssima da Igreja, nada mais é do que uma figura da unidade das línguas
acontecida justamente no Domingo de Pentecostes.
A variedade de línguas é que necessita de interpretação das línguas. E
aí São Tomás vem nos ensinar, sobretudo, que as línguas estranhas são coisas
incompreensíveis, e Deus não quer que fiquemos em coisas incompreensíveis; Deus
quer que saibamos bem, porque se fosse para Ele nos falar e não compreendermos,
então para que Ele iria nos falar? Na verdade, no dia de Pentecostes não houve
confusão de línguas. No dia de Pentecostes houve a unidade das línguas, a
compreensão – todos compreenderam.
E, na Sequência cantada antes do Santo Evangelho, a Igreja invoca:
“Vinde. ó Espírito Santo, mandai-nos lá do Céu um raio da Vossa luz; vinde até
nós, pai dos pobres, caudal de todos os dons, e fulgor dos corações”. É a
invocação da Igreja, a Igreja que clama para que o Espírito Santo desça, para
que este Espírito Santo venha sobre nós. Um dia fomos batizados e naquela pia
batismal recebemos o Espírito Santo. Fomos batizados no Espírito Santo e no
fogo, recebemos o signo da Santíssima Trindade e, ali, todos os dons, todos os
Sete Dons do Espírito Santo, e mais as Virtudes Teologais que, infusas em nós,
nos capacitam, ou nos ajudam, ou são condições sine qua non para que
cheguemos até Deus, para que amemos a Deus, para que façamos a Sua santa
vontade; estas virtudes são justamente a Fé, a Esperança e a Caridade.
Que neste Domingo de Pentecostes, a descida do Espírito Santo no
Cenáculo sobre Maria, os Apóstolos e os discípulos, nos traga essa graça de
compreendermos a importância da unidade da Igreja, a importância da unidade das
línguas na Igreja; não a confusão de línguas, não a confusão em ideias, não a
confusão em teologia, não a confusão em pensamentos.
Estamos em tempos tão difíceis que, mesmo em livrarias católicas, temos
muito trabalho em encontrar livros que realmente nos ensinam a verdadeira fé, o
verdadeiro Catecismo da Igreja. É a confusão das línguas: teólogos que não se
entendem, teólogos que se levantam contra o Papa e contra o seu Magistério,
sacerdotes também que desejam ou que buscam, muitas vezes, não a unidade, mas a
confusão do pensamento, mesmo estando no seio da Igreja.
Todas essas questões levaram Bento XVI no ano passado, quando estava
indo até Fátima, dizer aos repórteres: “Os inimigos da Igreja não estão fora,
estão dentro.” E são inimigos da Igreja aqueles que não trabalham em prol da
unidade das línguas, mas, pelo contrário, em prol da confusão, em prol de
semear o joio, de confundir, de perturbar a Igreja de Deus. Pentecostes é a
inauguração da Igreja, a Igreja nascida no lado aberto do Senhor, manifestada
com sua glória neste Domingo.
Rezemos pelo Santo Padre, rezemos pela unidade da Igreja e fujamos
sempre da confusão das línguas, buscando a unidade das línguas na qual
compreenderemos bem, sem equívoco, esta fé apostólica que nos foi transmitida
até pelo sangue dos mártires.
Hoje temos a honra e a graça de termos em nosso meio a relíquia de São
Sebastião. Parte de seu corpo, que vem nos visitar, que vem nos abençoar. São
Sebastião não derramou seu sangue praticando aggiornamento, ou cedendo
em pontos de sua fé, mas foi por testemunhar Nosso Senhor, e por não recuar em
relação à fé. Derramou seu sangue pelo reino de Deus, pela Igreja, por Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Neste Domingo de Pentecostes, no dia em que é rezada esta Santa Missa ao
lado da relíquia de São Sebastião, peçamos a ele, a este grande mártir, a este
poderoso mártir, que interceda por nós, para que tenhamos não a moleza dos
modernos, mas a têmpera dos mártires para darmos a nossa vida, derramar o nosso
sangue se preciso for pela Igreja, pelar Virgem Santíssima e pelo Papa.
* * *
20/06/201222:18 | Postado por Sacerdos
Homilia da Missa Votiva em Honra a São Sebastião no Tempo Pascal
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena, dominus tecum,
benedicta tu in mulieribus, et benedictus frutus ventris tui Jesus.
R: Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis
peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
V. Ora Pro nobis sancta Dei Genitrix
R: ut digni efficiamur promissionibus Christi.
É uma grande honra para nós recebermos hoje nesta
Paróquia as relíquias de São Sebastião. São Sebastião, que viveu no final do
século II para o século III, e que morreu sob o imperador Diocleciano, um
grande sanguinário. São Sebastião se tornara cristão e se convertera à religião
católica, diante do poderio do Império Romano. Como nós sabemos era um grande
Oficial do Imperador, um dos mais queridos. E Diocleciano tinha planos para
Sebastião devido à sua admiração por ele, por se tratar de um exemplar oficial.
Todavia, Sebastião tinha recebido o batismo cristão; e os cristãos eram
encarcerados, perseguidos, aniquilados, assassinados, torturados... E Sebastião
levantou-se em favor dos cristãos, pois que sendo também cristão, foi
descoberto como tal e não renunciando, nem abjurando a sua fé, foi condenado à
morte.
A tropa que ele mesmo chefiava, por ordem do
Imperador, na floresta, disparou contra ele flechas e o abandonou ali para que
sangrasse até morrer. Parecia morto, mas Sebastião não morrera. Uma mulher – Santa
Irene – o encontra, leva-o para casa e
cuida das suas feridas. Recuperado, poderia ter fugido, poderia ter ido embora,
pois já era dado como morto. Mas, não: diante das barbaridades que Diocleciano
fazia com os cristãos, numa grande festa pública se apresentou diante do
Imperador para protestar. O Imperador mandou que ele fosse executado no circo e
com flagelos de chumbo, pauladas, espancamento até a sua morte. E morre
Sebastião, derramando o seu sangue justamente pelos cristãos e pela Igreja
nascente, de forma que sua fama se espalhou imediatamente, sendo jogado o seu
corpo em uma vala para evitar veneração por parte dos cristãos, mas novamente santas
mulheres – entre elas, Santa Luciana – recolheram seu corpo e o enterraram nas
chamadas catacumbas de Roma. Lá até hoje se encontra a belíssima Basílica de
São Sebastião, onde ele está sepultado.
Suas relíquias não são muitas, são pouquíssimas no
mundo inteiro. Mas hoje recebemos esta relíquia de São Sebastião, aqui em Campo
Grande, Mato Grosso do Sul. Uma parte de seu braço, um pedaço pequeno de seu
braço, que contém sua massa óssea. Diferente de um santo do século passado que
se tem ainda mais partes do seu corpo, como São João Bosco ou Santa Rita de
Cássia, que são bem mais novos, é claro, em relação a São Sebastião.
As relíquias de santos, sobretudo dos mártires,
muitas vezes costumam assinar suas venerações através de milagres portentosos e
de prodígios. Mais ou menos pelo século V houve uma grande peste em Roma, uma
grande epidemia. Então, por ordem do Papa, fizeram uma procissão com as
relíquias de São Sebastião, e, milagrosamente Roma foi salva daquela terrível
epidemia, vindo a saúde e a calmaria na cidade romana. A partir daí, muitos o
invocavam – e ainda hoje o invocam – contra a peste, contra a guerra, contra a
fome, contra as epidemias. Esta Paróquia, há 75 anos, começou a partir de uma
grande proteção de São Sebastião. Era tudo fazenda a este redor. E um senhor
que tinha muito gado viu-se cercado de fazendas vizinhas nas quais o gado todo
estava morrendo por uma peste. Então, ele prometeu: “Se em minhas terras a
peste não atingir nenhuma cabeça de meu rebanho, prometo construir uma capela a
São Sebastião”. E, mesmo morrendo o rebanho das propriedades vizinhas, em nenhuma
cabeça de seu gado este fazendeiro perdeu. Mas Deus tem seus planos: quem ficou
doente foi o fazendeiro, vindo a falecer, embora antes tenha pedido que seus
amigos continuassem com este projeto. E eles foram fazendo churrascos, quermesses
e eventos desde 1937, e construiu-se uma pequena capela. Então, a Paróquia São
Sebastião é fruto de uma ação concreta deste tão grande santo, conhecido e
venerado no mundo inteiro. Não existe diocese, não existe cidade que não se
tenha pelo menos uma Igreja dedicada a São Sebastião.
E aqui ele está hoje através de suas relíquias. E Deus
costuma oferecer graças imensas e milagres quando veneramos as relíquias dos
santos. Foi assim com Santo Agostinho: quantas graças, quantos milagres
alcançados pela veneração das relíquias que existiam na Igreja onde Santo
Agostinho era pastor... E noutras regiões, através das relíquias de outros
santos, sobretudo os mártires, que para Deus são a melhor parte, por que deram
o sangue, derramaram o sangue mas não renunciaram a sua fé. Não fizeram aggiornamento,
não fizeram ecumenismo com os pagãos! São Sebastião não fez ecumenismo com o
Império Romano, nem tampouco com os deuses inexistentes. Muito pelo contrário:
morreu por reafirmar a sua fé no Deus único, no Deus verdadeiro.
A Epístola que acabamos de escutar fala justamente disso:
“Os justos levantar-se-ão com toda a afoiteza contra aqueles que os atribularam
e que só manifestavam desdém em face dos seus trabalhos.” Então, os justos vão
se levantar contra os iníquos, e estes serão julgados a partir dos justos. Não
que os justos farão justiça por eles mesmos. Não: o seu exemplo, o seu
testemunho, a sua vida santa, a sua fama santidade, a vitória que aquela morte
proporcionará mais tarde, vai deixar os seus algozes e pérfidos julgados diante
das injustiças e misérias que praticaram contra os justos. Então, a vida mesma
dos justos julgará os injustos e insensatos: “Estes são aqueles de quem nós
antes zombávamos e cobríamos de sarcasmos.” Isto, no juízo universal, os justos
poderão contemplar. Dizem as Sagradas Escrituras: “Os justos brilharão como o
sol; quem são estes com estas vestes brilhantes? Estes são aqueles que lavaram
suas vestes no sangue do Cordeiro.”
Os mártires nos dão exemplo de determinação e de
luta em prol do reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, muitas vezes,
parece que Cristo está banido da sociedade pelas leis, pelo Estado. De alguma
forma ou de outra, parece que a vitória do mal impera na nossa sociedade. Mas (esta
vitória) é só aparência, é só aparência... Há pouco tempo escutamos e vimos a
decisão iníqua, injusta, do Supremo Tribunal do Brasil, quando aprovava o
assassinato de crianças nascituras. Pareciam deuses julgando em suas causas
próprias... Ah! Os anos passarão, as décadas virão e nós iremos ver o resultado
destas pessoas que se levantaram contra Deus, contra Sua Lei e contra o Seu
poder.
Bem lembrava o Cardeal Eugênio Salles: “Aonde estão
os inimigos da Igreja no passado? Todos mortos! Mortos e esquecidos. Aonde
estão os mártires que sofreram por causa deles? Reconhecidos, e ainda vivem,
ainda são exemplo para nós!” Exemplos de fé, exemplos de determinação, exemplo
de força; embora fracos, fortaleceram-se em Cristo. E, fortalecendo-se nos
exemplos dos mártires, muitos e muitos não renunciaram à sua fé. Não titubearam!
Não fizeram aggiornamento! De forma nenhuma! Mas testemunharam Cristo
crucificado, e lutaram, até onde puderam, pelo reinado social de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Os verdadeiros católicos não “aggiornam”. Os verdadeiros
católicos defendem a sua fé, até o martírio se for necessário, como lembrava o Papa São
Pio X: “São poucos, mas aí está a verdadeira Igreja Católica”.
* * *
13/06/2012
13:37
| Postado por Sacerdos
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena, dominus tecum, benedicta tu in mulieribus,
et benedictus frutus ventris tui Jesus.
R. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora
mortis nostrae. Amen.
A Santa Igreja celebra o Domingo depois da Ascensão. Na quinta-feira
passada foi celebrada a Ascensão do Senhor: Cristo que volta ao Pai. Esteve em
meio a nós, no meio dos Apóstolos, entre os discípulos. Vive três anos em meio
a nós, depois sofre, padece, morre e, no terceiro dia, ressuscita; aparece aos Apóstolos
e aos discípulos, dá suas últimas instruções, dentre elas: “Não saiam de
Jerusalém, porque João batizava com água, mas vós sereis batizados no Espírito
Santo e no fogo”. Para que? Para que sejamos suas testemunhas.
O que é o batismo no Espírito Santo e no fogo? É o Batismo sacramental.
Nosso Senhor nos promete o Espírito Santo no Domingo de Pentecostes com a
inauguração pública da Santa Igreja nascida do lado aberto de Jesus na Cruz.
Lembremo-nos que, quando Cristo morre na cruz, do seu peito rasgado, quando não
tinha mais sangue para escorrer, saiu água. Do seu peito sai sangue e água,
significando para nós os Sacramentos. E através dos Sacramentos dAquele que
sobe ao Pai é que, a partir de então, o veremos pelo véu dos Sacramentos, não
com os olhos da carne, mas com os olhos da fé.
Este mesmo Jesus que subiu aos céus irá nos santificar, governar e
ensinar através da Santa Igreja, dos Sacramentos e, assim, pela ação
sacramental, continuar a Sua obra, de forma que a grande realização de
Pentecostes não foi o Batismo sacramental para os Apóstolos – porque eles já
eram Bispos da Igreja e já tinham recebido esse Batismo do próprio Senhor no
dia de suas sagrações – mas a manifestação pública da Igreja. É “como a Crisma”:
o Sacramento da Crisma é a confirmação pública daquilo que já somos. Por este
motivo só podem receber este Sacramento aqueles que querem realmente trabalhar
no apostolado católico, aqueles que querem ser testemunhas de Cristo. Receber o
Espírito Santo, para quê? Para ficar em casa? Não! Para anunciar com a alma,
com ardor, com a própria vida! Tanto que todos os Apóstolos derramaram o seu
sangue por Cristo, com exceção de São João Evangelista, por desígnio de Deus.
No grego, a palavra usada para “testemunha” é “Mártir”; então,
testemunho no grego é martírio. Todos nós, batizados, somos selados por Deus, tornamo-nos
filhos no Filho e somos chamados ao martírio, que nem sempre se dá,
necessariamente, com derramamento de sangue.
Sabemos que nos países não cristãos acontece uma onda de atentados
contra os cristãos católicos. Quantos morreram na Missa da Vigília de Natal,
justamente por serem cristãos. E, agora, a começar da Europa, está entrando no
Brasil o que se está chamando de “cristofobia”. Ninguém aceita mais o Reinado
Social de Nosso Senhor! E querem tirar as imagens sagradas dos estabelecimentos
alegando que o Brasil é um país laico. Isto é um absurdo! Primeiro que não
existe país laico, não existe a laicidade do estado, visto que a lei suprema é
a Lei Divina, e todas as leis humanas, positivas, devem apontar para e
respeitar a Lei divina. De forma que, se o estado pretensiosamente quer se
colocar laico, saibam seus governantes que o povo é profundamente religioso e,
em se tratando do Brasil, o povo é profundamente católico. Nascemos à sombra da
Santa Cruz. Então, nós temos campo mais do que fértil para darmos testemunho,
sermos mártires, literalmente ou pelo nosso Batismo: ou derramando o nosso
sangue pelo martírio de fato, ou pelo martírio moral, que significa assumir,
custe o que custar, a nossa condição de cristãos, de batizados, de filhos de
Deus; significa sermos sinal de contradição numa sociedade modernista, numa
sociedade pagã, numa sociedade que excluiu Deus. Esta é a nossa missão e para
isto viemos.
O que estamos fazendo neste mundo? Para onde estamos indo? Para a
eternidade; para a eternidade, cedo ou tarde. Uns são levados mais cedo, outros
ainda ficam mais um tempo. Quem pode acrescentar um milímetro, um segundo à sua
vida nesta terra? Ninguém! Estamos caminhando para Deus. Por isso, na Epístola,
São Paulo vai nos falar justamente: “Sede prudentes e velai na oração,
sobretudo mantendo entre uns e outros um indefectível caridade mútua.” Viver no
amor, viver na fraternidade, na comunhão, no amor-caridade, que é o próprio
amor de Cristo. Não um amor romântico, mas um amor que é capaz de dar a vida, é
um amor sacrifical.
E o santo Evangelho nos fala sobre o Espírito Santo, sobre o Advogado, o
Paráclito que nos foi prometido para nos dar a força no testemunho. E Nosso
Senhor nos diz: “Vão colocar vocês para fora das sinagogas, vão prender vocês,
vocês serão expulsos, maltratados por minha causa, por causa do Meu nome, mas
alegrai-vos.” Nosso Senhor não nos prometeu vida fácil. Nosso Senhor não nos
prometeu aplausos. Nosso Senhor nos prometeu a vida eterna, a vida feliz no
céu, com perseguições aqui na Terra. De forma que o cristão católico é sempre
perseguido. Mas aí está: somos chamados para dar a nossa vida.
Por que não devemos buscar neste mundo nada, não devemos buscar neste
mundo coisa alguma? A vida passa muito rápido. Todos se dirigem para a casa de
Deus, para a eternidade, para o encontro decisivo com o Senhor no seu
julgamento. E é necessário estarmos prontos e preparados.
Certa vez, São Luís Gonzaga – que era jovenzinho, mas já tinha fama de
santidade – estava jogando bola, e alguém chegou e perguntou a ele: “Luís, se o
mundo fosse acabar agora, o que você faria?” E ele respondeu: “Continuaria
jogando bola.” Que resposta maravilhosa! Se alguém perguntasse para nós agora:
“Se o mundo fosse acabar daqui a dez minutos, o que você faria?”, será que
diríamos a mesma coisa? Ou será que sairíamos correndo para um lado e para o
outro, uns atrás de um padre para fazer a confissão de última hora, outros para
pedirem perdão para alguém... Quantos assuntos pendentes? Não, não! Aquele que
deseja se converter amanhã, jamais se converterá. Vivamos o hoje como se daqui
a meia hora fôssemos estar na presença de Deus. São Luís Gonzaga, tão jovem,
pôde dizer “continuaria jogando bola” porque ele estava preparado, vivia
preparado, vivia buscando a Deus, e não queria de Deus se afastar de forma
alguma. Esta é realmente a nossa meta: buscar a Deus, viver em Deus.
E o Espírito Santo nos dará a graça para tanto. O Espírito Santo que
veio em Pentecostes e que recebemos no nosso Batismo, nos dará a graça, nos
dará o meio, nos dará a forma de darmos o testemunho de Cristo. Nosso Senhor
diz no Evangelho: “Aquele que der testemunho de mim diante dos homens, eu irei
dar também testemunho dele diante do Pai. Aquele que se envergonhar de mim
diante dos homens, eu também irei me envergonhar dele diante do meu Pai.” Santa
Teresinha dizia: “Quero o amor e nada menos.” Então queiramos Deus, queiramos
Nosso Senhor Jesus Cristo, não nos afastemos dEle pelo pecado. Procuremos viver
uma vida na caridade, no amor, para nos apresentarmos diante dEle. Vivamos como
São Luís Gonzaga, e, no bom sentido figurado do “continuarei jogando bola”
deste santo, possamos também, àqueles que nos perguntarem sobre nossa última
hora, testemunharmos: “Estou pronto para o Senhor; logo, continuarei em meus
afazeres”.
Homilia proferida em 20 de Maio de 2012.
* * *
13/06/2012
12:23
| Postado por Sacerdos
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena, dominus tecum, benedicta tu in mulieribus,
et benedictus frutus ventris tui Jesus.
R: Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in
hora mortis nostrae. Amen.
A Igreja celebra hoje a Festa da Ascensão do Senhor. O Senhor que volta
para o Pai, que volta para o Céu, e que desaparece à vista dos Seus Apóstolos
que, a partir de então, viverão pela fé. A fé é justamente a certeza das coisas
sobrenaturais que não vemos.
No Céu não haverá nem a fé, nem esperança, porque veremos e
contemplaremos a Deus, e a esperança não será mais necessária. O único carisma
realmente necessário – e que continuará até o Céu – é o amor, o amor que vem de
Deus. Então, Nosso Senhor hoje entra no véu do mistério, permanece nos Sacramentos
da Igreja a governar, santificar e a ensinar, mas sempre no véu dos Sacramentos,
sempre no véu do mistério. E aí entra a nossa fé: ninguém vê, ninguém percebe,
mas nós damos adesão a esta verdade que está presente entre nós, no meio da sua
Igreja. Através das autoridades legítimas, Ele nos governa, nos orienta, nos ensina,
e nos santifica através dos ministros consagrados. E, sobretudo, Ele se dá e se
faz presente, entre outros Sacramentos, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.
Então, Nosso Senhor nos diz o que disse a Tomé: somos bem-aventurados
porque não vimos, mas acreditamos nesta presença sacramental de Nosso Senhor,
que continua através da Santa Igreja. De forma que, para nós, resta-nos buscar
crescer cada vez mais nas virtudes que nos levam até Ele, que são: a fé, a
esperança e a caridade. A fé, para que alimentemo-nos sempre e mais desta
verdade; a esperança, para que não nos cansemos em meio ao caminho, com nossos
olhos fixos na promessa de Nosso Senhor; e a caridade, o amor, que nos leva à
prática das boas obras e que nos leva ao céu.
Aqui Nosso Senhor prepara os Apóstolos para a vinda de Pentecostes, para
o Paráclito que descerá e recordará tudo o quanto já tinha sido dito. É um novo
envio, como diz Santo Agostinho: “uma nova benção”. É, realmente, a inauguração
da Igreja: aquela que nasceu no coração aberto de Jesus é inaugurada, então, no
dia de Pentecostes, e eles são batizados no Espírito Santo. Não nesses
“batismos carismáticos” que escutamos por aí, mas no batismo do fogo, no
sentido de que a graça do batismo sacramental e o Espírito Santo que já se
encontram neles, gerarão, pela graça, a compreensão plena da verdade e dos
mistérios de Nosso Senhor.
Isto é extremamente importante para nós. Nosso Senhor, sempre preocupado
com nossa salvação, nos possibilita uma nova graça por causa do Espírito que já
está em nós. Como somos fracos e miseráveis, o Senhor não nos deixa entregues à
mercê dos males e dos ventos: porque somos fracos na nossa fé, Ele sempre nos
possibilita uma nova benção, um novo envio do Espírito Santo.
Quando fomos batizados, recebemos a graça do Espírito Santo, mas é
necessário praticá-los na graça de Deus – e pela graça de Deus. Existem pessoas
que não rezam, não têm nenhuma motivação para com as coisas sagradas, ou seja,
possuem toda a piedade, mas vivem como se não a possuíssem; outros têm o temor
de Deus, mas vivem como se Deus não existisse, embora tenham dentro si o dom do
temor de Deus.
Que Nosso Senhor, no dia da Sua Ascensão, possa nos dar a graça de
jamais negligenciarmos o Espírito Santo que há em nós e que recebemos no dia do
nosso Batismo, e que não o deixemos à porta a nos esperar, a esperar a nossa
adesão. Parafraseando Santo Agostinho: “Tenho medo do Deus que passa”, pois
cada vez que o Espírito vem sobre nós, é uma passagem de Deus sobre a nossa
vida, sobre a nossa história; é a graça derramada, a qual muitas vezes pisoteamos.
Seremos julgados justamente por cada graça que Deus nos enviou e tenhamos
desprezado, por cada bênção que Deus nos concedeu e que tenhamos desprezado.
Homilia proferida em 17 de Maio de 2012, festa da Ascensão de Nosso
Senhor.
* * *
21/05/2012"Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará" |
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena,
dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus frutus ventris tui
Jesus.
R: Sancta Maria, mater Dei, ora
pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
V. Ora Pro nobis sancta Dei
Genitrix
R: Ut digni efficiamur
promissionibus Christi.
A
Igreja celebra hoje o 5º Domingo Após a Páscoa, na alegria do dia da grandiosa
aparição de Nossa Senhora de Fátima. Não é à toa que Fátima é considerada o
altar do mundo: em Fátima está a síntese de todas as aparições; em Fátima,
Nossa Senhora conclui o ciclo de todas as aparições anteriores, anunciando as
desgraças, os castigos, mas também a vitória, o triunfo do seu Coração Imaculado.
E quem está no Coração Imaculado de Maria? Cristo. É a vitória de Cristo sobre
o mal, a vitória de Cristo sobre todas as heresias, a vitória da verdade contra
o erro, contra a falsidade; é a vitória de Cristo anunciada em 13 de maio de
1917.
Pois
bem. Embora, nos domingos, nos debrucemos sobre o Sacrifício de Cristo no
Calvário [n.d.r.: Santa Missa] – por isso
geralmente não se celebram festas ou memórias de santos aos Domingos – e embora
as aparições de Fátima não sejam impostas como dogmas – visto que se tratam de
revelações particulares, não públicas – não podemos deixar de dar a nossa
adesão, pois a Igreja e os próprios Papas lá estiveram para agradecer, para
honrar a Santíssima Mãe de Deus, sob o título de Nossa Senhora Mãe do Rosário de
Fátima.
Hoje,
para nós católicos, é um grande dia: 95 anos das aparições. Há 95 anos, a
humanidade foi advertida: a Santíssima Virgem se dignou estar em nosso meio, a
descer ao nosso mundo para anunciar um prêmio e um castigo. Um prêmio para
aqueles que desejam, que se esforçam e que querem viver na intimidade com o seu
Filho, numa conversão constante – e aqui se encaixa a Epístola de São Tiago: “Não
contenteis só em ouvir a Palavra de Deus”. Todas as vezes que vamos à Santa Missa,
escutamos a Palavra de Deus; é Deus que nos fala, sobretudo no santo Evangelho.
Mas não podemos fazer as vezes daquela pessoa que, como diz São Tiago, “... se
olha no espelho vendo a cara que a natureza lhe deu, contempla-se e (...) logo
se esquece do que é”; apenas isso acontece: uma contemplação, nada muda... São
aquelas pessoas que estão sempre na Igreja, são aquelas pessoas que assistem
sempre à santa Missa, são aquelas pessoas que fazem novenas, que rezam, etc.;
que pedem a Deus suas graças, mas não mudam de vida, não se convertem, não se
colocam na atitude de conversão profunda. E a conversão profunda passa pela
busca de Deus. Como sabemos que estamos caminhando para a conversão? Sabemos se
estamos buscando Deus. E como buscamos Deus? Com a nossa oração.
O
Santo Padre Pio dizia coisa análoga a São Francisco de Sales: “Quem reza muito
se salva, quem reza pouco está em perigo, quem não reza será condenado!” Em qual
destes estágios estamos? Rezamos muito e já podemos, se não ter certeza da
salvação, pelo menos ficar um tanto contentes pela nossa busca pela oração a
ponto de nos aproximarmos da presença de Deus? Ou rezamos pouco? Se rezamos
pouco, estamos em perigo... Ou não rezamos de forma alguma? Se não rezamos de
forma alguma é sinal de que realmente nos condenaremos.
O
grande problema nosso é que achamos que depois de nós as trombetas tocarão. “Nem
passaremos pela morte! Nós não morreremos, só os vizinhos nossos, só aqueles
que estão ao nosso lado, só aqueles que conhecemos; esses sim, desgraçadamente,
serão assassinados, atropelados, ou sofrerão outra fatalidade física qualquer, etc.
Nós não; nós os vivos aqui, depois de nós virão as trombetas tocando, e iremos
nos encontrar nas nuvens com Deus.” No fundo, inconscientemente, é isso que
pensamos! Porque se pensássemos em nos preparar para a morte, se pensássemos
que a morte vai chegando aos poucos, devagarzinho e que, a qualquer momento,
ela se aproxima, e que é necessário já estarmos convertidos...
Nossa
Senhora em Fátima nos exorta a apressarmos a nossa conversão. E o caminho de
conversão passa pela mudança de vida, sim, por escutar a palavra de Deus e pô-la
em prática. E o grande combustível para isso é justamente a “oração”, para nos
colocarmos na intimidade de Deus, para que Deus possa nos moldar nEle e, assim,
Suas verdades ficarem cada vez mais claras para nós.
No
santo Evangelho, no epílogo da presença de Cristo visível entre os seus – pois
na quinta-feira celebrar-se-á a Festa da Ascensão do Senhor: Cristo que volta
ao Pai – Nosso Senhor, concluindo, diz justamente isto: “Já não falarei em
parábolas para vocês, pois claramente vos explicarei quem é o Pai”; “Já não vos
chamo de servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz; eu vos chamo
de amigos”. Este é o grupo de Senhor, e a este grupo que quis a conversão, quis
viver nesta intimidade com o Senhor, que, agora, sobre este grupo, é derramada
a graça da compreensão de todas as coisas, porque o Espírito Santo lhes é
concedido.
A
palavra de Deus se dirige para nós também; tanto a Epístola quanto o santo Evangelho,
sobretudo neste dia em que Nossa Senhora de Fátima iniciou as suas aparições na
Cova da Iria. E esta mensagem de Fátima até hoje ecoa em nossos ouvidos. Nossa Senhora
não nos pediu grandes sacrifícios; Nossa Senhora nos pediu a oração: “Rezai o
terço todos os dias.” Nem nos pediu para irmos à Missa. Interessante: a Mãe de
Deus não nos manda assistir à Missa. A Mãe de Deus nos manda rezar o terço
todos os dias. Por que isto? Claríssimo: pela contemplação dos mistérios da
vida do seu Filho seremos levados ao Santo Sacrifício da Missa. De forma que
não temos para onde ir: “Para onde iremos, Senhor?” Ou por um caminho, ou pelo
outro; ou pelo caminho daqueles que desejam a Deus e que querem converter-se a Ele,
ou pelo caminho daqueles que, iludidos, desprezam a salvação, entregam-se aos
seus prazeres e aos perfumes no mundo.
Entre
as tantas fases das aparições de Fátima, uma me impressiona: uma senhora muito
rica leva até Lucia, a vidente mais velha, um precioso perfume para que, assim
que Nossa Senhora aparecesse, Lucia o apresentasse a Ela, dizendo: “A senhora fulana de tal está Vos presenteando com
este perfume”. Um perfume caríssimo... Fico imaginando, na hora da aparição, essa
senhora, que deveria estar próxima de Lucia para saber a reação da Mãe de Deus;
afinal de contas é um presente muito caro, é um perfume, etc. E conta-nos irmã
Lucia, na sua idade avançada, mas lembrando-se da cena, que, quando na aparição
ela apresentou o perfume caro que aquela dama da sociedade havia trazido, Nossa
Senhora, que antes apresentava uma feição graciosa e um leve sorriso nos
lábios, ficou com semblante sério, desfazendo-se toda a sua feição serena e, numa
simples frase, retrucou para Lucia: “De que serve isto aqui na eternidade?” Não
agradeceu gentilmente, não fez um afago àquela senhora, de forma nenhuma. “Para
que serve isto aqui na eternidade?” Para que servem as honras, os perfumes do
mundo? Para que servem os prazeres do mundo, por melhores que sejam para a carne?
Os prazeres melhores para a carne são aqueles que a destroem por dentro. De que
serve tudo isso na Eternidade? Ah, se nós soubéssemos o que é a eternidade! Ah,
se soubéssemos o que significa “um segundo” apenas na eternidade, correríamos e
apresaríamos a nossa conversão!
Hoje,
13 de maio e há noventa e cinco anos, a humanidade foi advertida: um prêmio e
um castigo. De que lado nós estaremos? Fiquemos com a nossa Mãe e retribuamos a
sua visita com as nossas orações, com a nossa adesão a Deus, sobretudo na
colaboração com o triunfo do seu Coração Imaculado. Nossa Senhora de Fátima, rogai
por nós.
Homilia
proferida em 13 de Maio de 2012, festa dos 95 anos da primeira aparição de
Nossa Senhora aos três pastorinhos em Fátima, Portugal.
14/05/2012
06:56
| Postado por Sacerdos
* * *
14/05/2012
Ego Sum Via Veritas et Vita |
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena,
dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui,
Jesus.
R: Sancta Maria, mater Dei, ora
pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amen.
V. Ora Pro nobis, Sancta Dei
Genitrix
R: Ut digni efficiamur
promissionibus Christi.
Mais
uma Santa Missa dominical na qual Cristo se dá por nós; é a renovação do
mistério da cruz. A santa Missa é sempre a renovação do mistério da cruz, de
forma que ir à Santa Missa nada mais é do que estar ao lado do Senhor na Sua paixão,
morte e ressurreição. São Pio [n.d.r.: de Pietrelcina] que entrava em êxtase na Santa
Missa, chorava muito ao celebrá-la. Alguém lhe perguntou: “Por que o senhor
chora tanto?” “Por causa da ingratidão dos homens.” E é verdade. Quantas e
quantas Missas são celebradas no altar do calvário, no altar de Deus, ante a
indiferença dos homens? É a Missa que crava no crânio de Adão a destruição da
morte; a morte “morre” pelo sacrifício de Cristo na cruz. Por isso o véu do
templo é rasgado; aquilo que impedia e nos separava da graça, agora é
destruído, porque Cristo nos salva definitivamente por este mistério da cruz.
No
santo Evangelho, Nosso Senhor promete a vinda do Espírito Santo e anuncia a sua
retirada visível deste mundo: “Vou ao Pai; se eu não for, Ele não poderá vir,
mas se eu for, enviarei o Espírito Santo, o Paráclito”. O Espírito Santo é
enviado pelo Pai e pelo Filho. O Espírito Santo, como sabemos muito bem pela
nossa catequese, não é uma pomba, não é uma força, uma nuvem, um vento
impetuoso. O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é Deus
verdadeiro. É a expiração do amor entre o Pai e o Filho, entre o Filho e o Pai.
O Espírito Santo é chamado “o dom”, mas também é chamado “o amor”, o amor com o
qual o Pai ama o Filho, o amor do Filho para com o Pai. E, como só pode existir
um Filho – porque Cristo é o Filho, então o Espírito Santo não é “filho” do Pai
– o Espírito Santo é a expiração deste amor entre a Primeira e a segunda Pessoas
da Trindade.
O
Espírito Santo é prometido por Jesus: “Muitas coisas tenho ainda a vos dizer,
mas não compreendereis agora; mas, quando vier o Paráclito, o Consolador, Ele
vos ensinará todo o resto, Ele vos recordará todas as coisas.” Este é o
Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado
e glorificado. É o Espírito Santo que pairava sobre as águas quando não existia
nada. É o Espírito Santo que desceu ao ventre santíssimo da Virgem no momento
da concepção do Cristo. É o Espírito Santo que descerá em Pentecostes, que desceu
sobre a Igreja nascente, sobre os Apóstolos. É o Espírito Santo que desceu
sobre nós no dia de nosso Batismo com profusão e pôs em nossa alma os dons
infusos, as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. E este
Espírito Santo que já recebemos continua agindo, falando, orientando,
conduzindo e santificando através da Santa Igreja, que possui em plenitude o
Espírito Santo.
Então
este Cristo que sobe ao Pai, continua presente, governando, ensinando e
santificando através da Santa Igreja. E aí é que está a perfeita unidade
católica, esta unidade que está para o coração da Santíssima Trindade – Pai,
Filho e Espírito Santo – que nos revela, através das Sagradas Escrituras, da Tradição
Apostólica e do Magistério, a verdade.
E só a Igreja possui esta verdade. Não
existem várias verdades! Se há duas pessoas que estão discordando sobre um
ponto, entre elas uma está com a verdade, pois a verdade não pode ser relativa.
“A verdade é aquilo em que eu creio...” De forma nenhuma! Não é o que você crê
que torna aquilo verdadeiro ou falso, mas é o que realmente é! Então a verdade
é objetiva e não subjetiva; ela não está no sentimento, no coração, no
“achismo” de um e de outro, não! Do meu lado esquerdo há um Círio pascal, uma
vela grande, é uma vela. Alguém poderia dizer: “não é uma vela, é um lampião”,
mas na verdade não é um lampião ou qualquer outro objeto, é uma vela: os
acidentes são de vela, a sua essência é cera, há um pavio ao meio, em cima há
chama, então é vela! Então, as pessoas que discordam que aqui do meu lado há
uma vela não há outra solução para elas do que se converterem à verdade
objetiva. “Mas eu senti que poderia ser tal coisa...” Ah, pareceu-te... Mas
isso não justifica, não muda a verdade objetiva!
A
verdade é imutável. Por isso Deus não muda, porque Ele é a própria Verdade. “O
que a Igreja acreditava ontem, hoje não pode mais crer, porque os tempos
mudaram, estamos em tempos modernos...” De forma alguma! Deus não muda. Não é
Deus que tem que Se converter ou Se modificar por causa dos tempos ou da
humanidade, mas é a humanidade e o tempo que têm de se converter nesta verdade
objetiva, inalterável, inequívoca de Deus que está presente só – e somente,
apenas – na Igreja.
Por
isso o ecumenismo, como é pregado atualmente, é falso em si mesmo, porque não
se pode colocar o erro ao lado da verdade. Só existe uma verdade: Nosso Senhor
Jesus Cristo. Só existe um caminho: Nosso Senhor Jesus Cristo. Só existe uma
vida: Nosso Senhor Jesus Cristo. E os budistas? Que se convertam a Nosso Senhor
Jesus Cristo! E os muçulmanos? Que se convertam a Nosso Senhor Jesus Cristo! E
como se converterão? Primeiro, pelo testemunho de vida, de fé, dos bons
católicos. Segundo, pelo nosso trabalho missionário; a Igreja é essencialmente
missionária. Deus não disse: “Ide e dialogai”. Na pessoa do Filho, Deus nos
manda ensinar, ensinar a verdade, a verdade sobre Deus, sobre o homem, a
verdade sobre o mundo. De forma que os princípios ecumênicos e o ecumenismo exacerbado
como se percebe lá fora, pondo em pé de igualdade Deus e Maomé – até poderíamos
dizer, pondo em pé de igualdade Deus e o demônio – “verdades” falsas, não se
sustentam de forma alguma. Porque Cristo é o Senhor, e é a Ele que devemos
recorrer, e é a esse Senhor – e Ele mesmo nos fala: “Quando eu for elevado,
atrairei todos a Mim” – que a humanidade inteira deve acorrer. “Mas isso é para
os cristãos...” “Isso é somente para os católicos...” De forma alguma! É para a
humanidade inteira. Não existe outra verdade senão a verdade católica. Cristo,
caminho, verdade e vida, brilha, resplandece, na face da Sua Igreja.
O
Espírito Santo, que é derramado em Pentecostes, inaugura de forma solene a
Igreja. E o que é a Igreja? A Igreja é o corpo místico de Cristo, da qual Ele é
a cabeça e nós somos os Seus membros. Nós recebemos de Cristo toda a seiva,
como o ramo recebe da sua videira. E esta verdade de Cristo deve nos atingir de
tal forma que possamos em todos os momentos, até nos momentos difíceis,
permanecermos firmes na fé, agarrados à Tradição dos Apóstolos, não ao “tradicionalismo”
– porque até os pagãos são tradicionalistas – mas à Tradição Apostólica, às Sagradas
Escrituras (como interpretadas pela Igreja) e ao Magistério perene da Santa
Igreja. E, assim, estaremos seguros, estaremos imersos nesta verdade de Cristo
que brilha na face da Igreja.
“Ah,
mas são muitos que já não acreditam nisto...” Mas a verdade não é diagnosticada
pela quantidade de pessoas. A verdade não depende de números! Não estamos numa “democracia
cristã”! O Cristianismo não é democrático! A Igreja não é democrática! Deus não
é democrático! A família não deveria ser democrática. Este é o princípio da
autoridade. Ninguém aqui pediu para nascer, Deus não fez um plebiscito para
saber se você queria isso ou aquilo nas leis imutáveis da natureza ou das leis divinas;
simplesmente estamos, e temos que obedecer. “Ah, eu sou livre para isso, para
aquilo...” Mentira! Mentira... Se você é livre para tanta coisa, seja livre
para não respirar! Faça “uma revolução contra o ar que você respira” para ver o
que sobra de você; não sobrará muita coisa, porque morrerá e perecerá! De forma
que a verdadeira liberdade do homem consiste em aderir justamente a Cristo Caminho,
Verdade e Vida, e crescer neste mesmo Caminho, nesta mesma Verdade e nesta
mesma Vida, que é Cristo nosso Senhor. E, quanto mais estamos em Deus, em
Cristo, no coração da Trindade, mais o Paráclito vai “derramando em nós um novo
envio, uma nova benção” como nos ensina o grande santo Agostinho.
Que
estes dias que antecedem o Domingo de Pentecostes sejam para nós uma
preparação, para que, festejando solenemente a vinda do Paráclito, sejamos cada
vez mais fiéis – não às novidades, não às coisas novas, não ao espírito adúltero
do modernismo “aliado” à fé cristã; não, não a isto! Mas possamos permanecer
firmes no Evangelho de sempre, na Doutrina de sempre; possamos permanecer
firmes ao lado do nosso Papa, quando ensina estas verdades imutáveis, porque
nele está Cristo que fala, que governa, que santifica e que nos orienta.
* * *
14/05/2012
05:39 | Postado por Sacerdos
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena,
dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus frutus ventris tui
Jesus.
R: Sancta Maria, mater Dei, ora
pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amen.
O
que nós queremos? Alegria, ou contentamento? São coisas diversas: alegria em
Deus – tanto que, há dois Domingos a Igreja celebra essa alegria no Senhor. Alegria
é aquilo que vem do Senhor, e que nos é dado “como prêmio” dos nossos esforços,
por vivermos em Deus; é um esforço, uma ascese. Buscar viver em Deus é romper
com tudo aquilo que nos afasta dEle. Isso nos custa, porque vivemos na carne, e
isso nos faz sofrer.
Certa
vez, Santa Terezinha cuidando de uma irmã idosa em seu convento no frio de Lisieux;
sozinha naquela enfermaria escutou ao longe música de festa. E, por um segundo,
como que assaltada por uma saudade das coisas do mundo, das festas, das danças,
do conforto, já que se encontrava num convento pobre e frio, como são naturalmente
frios os interiores das igrejas. Mas, logo em seguida, lembrou-se que tinha
escolhido a melhor parte: sua carne sofria, desejaria estar do outro lado dos
muros; mas de repente lhe veio a sanidade espiritual – “Não, aqui mesmo é o meu
lugar.” Então há sofrimento, mas a alegria é profunda; esta alegria em Deus, que
já que vivemos neste mundo, ninguém pode tirar. Aqueles que buscam a Deus de
acordo com essa palavra, embora em meio a sofrimentos e incompreensões – os rótulos
que o mundo pagão nos dá – possuem uma profunda alegria.
É
o que dizia São Francisco: “A profunda alegria está justamente em sofrer, em
não compactuar com o espírito deste mundo.” Por isso, Nosso Senhor nos diz: “Ainda
um pouco de tempo, e não mais me vereis.” Nosso Senhor está preparando os
apóstolos para a sua Ascensão. Hoje você chora, e o mundo se alegra; amanhã o
mundo chorará e vocês estarão felizes. Hoje os cristãos choram: renunciam a isto,
renunciam àquilo, deixam de lado tudo aquilo que pode nos tirar de Deus, embora
seja bom para a carne. É uma constante luta, como nos fala o belíssimo Hino do Apostolado da Oração, mas depois
a nossa alegria será completa.
Enquanto
sofremos, o mundo se alegra. Mas chegará o dia em que esse mundo chorará. Entretanto,
a chave para que estejamos sempre no Senhor, e para que a nossa alegria seja
realmente completa, e que não seja jamais tirada (como Nosso Senhor coloca no Evangelho)
está na Epístola: a obediência. Servir
ao Senhor de verdade. Não ter vida dupla. Não “mentir ao Senhor pela tonsura”,
como repreende São Bento aos seus monges. (Os monges que mentem a Deus pela
tonsura são os que tem jeito de monge, cara de monge, tonsura de monge, mas não
são monges.” Cristão que tem jeito de cristão, cara de cristão, tem a “unção”
do Cristo... e não vivem como cristãos! Vivem sob um véu que encobre as coisas más
que já deveriam ter sido eliminadas.
E
o centro é a obediência: obediência à verdade de Deus anunciada pela Igreja. Obediência
aos nossos superiores diretos, ao nosso confessor, ao nosso diretor espiritual.
O grande pecado do demônio é o orgulho que gera a desobediência. Pela
desobediência presenciamos, através da história, os protestantes. O que
aconteceu com eles? Fragmentaram-se. Só em Campo Grande hoje é impossível
contar o número de seitas protestantes... É a desobediência!
Assim
acontece com aquela alma que é desobediente e que não quer seguir os
ensinamentos diretos de Cristo através de seus superiores, que não buscam
obedecer a Nosso Senhor vivendo o seu apostolado.
Quem
já viu católicos que vivem feito satélites: hora vêm aqui na Missa, hora vai
aqui e acolá, compromisso nenhum tem com Paróquia, nem tampouco com apostolado
nenhum? Que tipo de católico é esse? Para que serve? Não serve para nada. Onde
é que está o seu apostolado? Em que está engajado? Está trabalhando em quê? Só
vem receber as dádivas de Deus. E onde está a sua parte no sacrifício, na cruz,
no apostolado, no trabalho apostólico, onde é que se encontra? Isso é extremamente
importante; é a voz de Cristo através da Igreja que nos convida a trabalharmos
com a Igreja e pela Igreja na instauração do reino de Deus.
A obediência é a alma de todo
apostolado. Por que não obedecemos à voz de Deus que nos convida? E por que não
obedecemos à voz de nosso confessor que nos manda fazer tal coisa, ou parar de
fazer tal coisa? E por que não obedecemos à voz de nosso diretor espiritual? Ou
melhor, temos diretor espiritual? Ou somos cegos guiando-nos, ou seguindo-nos a
nós mesmos?
O
santo Evangelho de hoje é muito claro para nós. Para que a vossa alegria seja
completa, para que possamos, enquanto o mundo pagão irá chorar, estar felizes,
porque passou o choro e a ascese, porque passou todo o tempo de trabalho
interior e exterior, e agora possamos gozar das alegrias celestes. Esta é, para
nós, a vontade de Deus. Custa? Custa! Nosso Senhor não prometeu a ninguém vida
fácil. Muito pelo contrário: prometeu-nos o cêntuplo com perseguições!
Que
a Epístola e também o santo Evangelho deste Terceiro Domingo Após a Páscoa iluminem
toda a nossa semana, e que com estas sagradas letras possamos refletir sobre a
nossa vida, sobre a alegria ou o contentamento, sobre o que estamos realmente escolhendo
para nós, em que estamos construindo a nossa existência.
Homilia proferida em 29 de
Abril e 2012.
07/05/2012
09:37
| Postado por Sacerdos
Sonho de Dom Bosco |
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena,
dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus frutus ventris tui
Jesus.
R: Sancta Maria, mater Dei, ora
pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
V. Ora pro nobis, sancta Dei
Genitrix
R: ut digni efficiamur
promissionibus Christi.
No
santo Evangelho, nosso Senhor se coloca como bom pastor, Aquele que dá a vida
por suas ovelhas. Citando outro Evangelho, que trata de uma cena semelhante, Ele
deixa bem claro: “Aqueles que não estão comigo... os que não entram pela
porta... são ladrões e salteadores”. “Todos que vieram antes de mim foram
ladrões e salteadores.” “Eu sou o bom pastor, eu dou a minha vida pelas ovelhas.”
O
mercenário não quer saber das ovelhas, e sim tirar proveito delas. Não se
incomoda com os lobos e, se os lobos estão próximos, ele foge e deixa as
ovelhas ao Deus-dará. Pois bem:
Cristo é o bom Pastor. E há um só rebanho: “É verdade que há ovelhas que não
estão neste aprisco; é necessário que eu vá buscá-las para que haja um só
rebanho um só pastor.”
O
pastoreio de nosso Senhor está para a verdade, a verdade salvífica que tem o
seu núcleo no coração da Trindade. E essa verdade se impõe desde o início,
desde o Gênesis, quando começam as sagradas letras: “Bereshit bará Elohim...” “No princípio, Deus criou...”. Desde este
momento, a Trindade vai se revelando, embora chegue à plena revelação em Nosso
Senhor Jesus Cristo, já no Novo Testamento. Pois bem: este aprisco do Senhor é
o aprisco da verdade, e só pode fazer parte deste aprisco aqueles que são da
verdade, ou aqueles que se convertem à verdade. Não podem haver outros apriscos
e outras verdades. Só uma é a verdade, e um só é o aprisco, que é a Santa Igreja
Católica, fora da qual ninguém pode se salvar. Este é um dogma da nossa fé, tão
esquecido em tempos modernos de pluralismos religiosos, de seitas que antes
eram consideradas como seitas e hoje, “por crescimento econômico”, já são
consideradas “igrejas”.
O
belo documento Dominus Iesus, escrito
pelo então Cardeal Ratzinger, vai colocar precisamente o que é realmente a Igreja:
“A Igreja é a instituição divina já tratada disso por Pio XII na belíssima Encíclica
Mystici Corporis Christi. A Igreja,
que é divina, que vem de Deus, vem do coração da Trindade, que não terá fim, mas
que será consumada na glória. É este o mistério inefável, indelével da Igreja
que deve resplandecer no coração de uma alma católica.”
Pois
bem. Não é de hoje que os falsos pastores tentam infiltrar-se na Santa Igreja.
Querem destruir a Santa Igreja. Querem semear o joio, a discórdia e as
divisões. Isto foi tentado desde o Império Romano, desde sempre, chegando ao
auge no reinado do Papa Pio X, no inicio do século XX. O Papa Pio X coloca bem às
claras os inimigos da Igreja, e diz ele que antes os nossos inimigos estavam
fora, agora não, os inimigo da Igreja estão dentro, para confundir; para,
inventando uma nova teologia, inventando uma nova moral, querer destruir a
verdade autêntica que resplandece na face da Igreja, que é a doutrina de sempre,
a moral de sempre de Nosso Senhor Jesus Cristo e que a Igreja desde a era
apostólica nos transmitiu, de forma inequívoca, até os dias de hoje. Era o
grande Papa Pio X que olhava com o seu olhar de bom pastor, e já denunciava os
maus pastores, denunciava aquelas correntes teológicas não muito católicas, ou que
nada tinham de católicas, que queriam infiltrar-se para minar a Igreja em suas
bases.
E
qual não foi a nossa surpresa quando o Papa Bento XVI, indo a Fátima, no avião
mesmo fala a mesma coisa, de forma análoga, aquilo que o Papa Pio X dizia já na
condenação do modernismo: “Os inimigos não estão fora, estão dentro.”
O
sonho de Dom Bosco mostra claramente os inimigos da Igreja jogando contra a
barca de Pedro livros, e não atirando com canhões, com armas poderosas,
nucleares, não; mas livros. Os livros são ideias, são falsas filosofias, são
falsas teologias. E como é triste perceber que, até no ensino da Filosofia ou
da Teologia em muitos lugares, este ensino foi substituído. São Tomás de Aquino
é deixado de lado, para se fazer com que os alunos se debrucem em filosofias de
filósofos nada católicos, em teologias de teólogos que, se na época de Pio XII
vivessem, estariam com certeza excomungados.
Pois
bem. A Igreja trava uma crise como nunca na sua história. O próprio Papa Bento
XVI, como também seu predecessor João Paulo II já nos seus últimos momentos, reconheciam
isso: “Esta crise na Igreja, no seu cerne, é uma crise de fé.” E esta crise de fé,
que muitas vezes parece abalar as suas estruturas, não vem de hoje, mas de
tempos. Entrou pela porta da frente da Igreja com o romantismo protestante,
através de uma teologia laxa, através de músicas que foram substituindo os
belos hinos católicos que convertiam a nossa alma, ou colocavam em nossa alma o
tom do combate do martírio. Quem se esquece, por exemplo, do “Levantai-vos,
soldados de Cristo, sus correi, sus voai à vitoria”? Hinos belíssimos, e que
nos diziam concretamente, e nos colocavam na missão de soldados, de guerreiros,
cuja bandeira era a bandeira da Santa Cruz, a bandeira da Santa Igreja.
Entretanto,
nestes dias maus, temos que estar, mais do que nunca, unidos ao Papa Bento XVI,
gloriosamente reinante. Ele, agora há pouco, completou sete anos de pontificado;
um pontificado que revolucionou no bom sentido a História da Igreja em quarenta
anos. Bento XVI, que tem a sua preocupação pela doutrina, pela sagrada Liturgia,
sobretudo o seu zelo no sacrifício da Santa Missa. De forma que, unidos ao Santo
Padre Bento XVI, possamos, como dizia um grande Bispo francês: “Reconstruir
enquanto muitos destroem, recolocar Nosso Senhor Jesus Cristo no seu devido
lugar: que Ele reine na sociedade, que Ele reine nos poderes públicos, e que Ele
continue reinando na sua Igreja, sobretudo na pessoa augusta do vigário de Cristo.
Estando
com o Papa estamos seguros. Permanecendo na barca de Pedro, nada, nenhum mau,
nenhum vento inescrupuloso de falsas doutrinas, ou nenhuma voz de falsos
pastores, nada disso conseguirá retirar de nós o que temos de mais sagrado,
aquilo que Dom Bosco ensinava aos seus jovens, os três amores brancos: a branca
Hóstia, a branca Virgem e o branco ancião do Vaticano. Eis aí o remédio contra o modernismo,
eis aí o remédio contra as heresias práticas que, infelizmente, entraram pela porta
da frente.
Mas
Nossa Senhora de Fátima nos assegura a vitória: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”
* * *
02/05/20121º Domingo após a Páscoa: Dominica in Albis
08:11 | Postado por Sacerdos
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena,
dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus frutus ventris tui
Jesus.
R. Sancta Maria, Mater Dei, ora
pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amen.
A
Santa Igreja celebra hoje o Dominica in
Albis, o Domingo de branco. Domingo in
Albis, Domingo de branco justamente pelo costume, na antiguidade, de
aqueles
que receberam o Batismo na Vigília Pascal retornarem no domingo seguinte
revestidos com a mesma veste branca que haviam recebido no dia do seu
Batismo. Voltar com esta veste branca, tendo durante a semana todo o
cuidado em não
manchá-la, indica para nós o Batismo que recebemos – esta roupa nova que
recebemos,
esta alvura brilhante que recebemos no dia de nosso Batismo, já que
fomos
lavados no sangue do Cordeiro – e a nossa responsabilidade de trazermos
de
volta estas vestes brancas do dia do Batismo e que devem continuar
brancas,
límpidas e puras, tal como nossa alma até o momento em que devemos nos
apresentar diante de nosso Senhor.
A
roupa branca, límpida e pura que recebemos no Batismo em nossa alma não é para
ser manchada, não é para ser violada nem tampouco estragada; daí a nossa
responsabilidade de manter bem o nosso Batismo e não nos esquecermos dele, e
não nos apresentarmos diante do Supremo Juiz com as roupas velhas,
esfarrapadas, podres, enegrecidas ou cheias de lama.
E, se por acaso, no
decorrer de nossa existência, tivermos, de uma forma ou de outra, manchado estas
vestes brancas, que recorramos urgentemente ao augusto Sacramento da Confissão,
único capaz de refazer em nós as vestes de nosso Batismo.
†††
A
grande mensagem da Páscoa é justamente a mensagem da paz: “A Paz esteja
contigo”. E Nosso Senhor, após dizer estas palavras que são um desejo, uma
condicional – a paz esteja – logo em seguida mostra as mãos e o lado, os
cravos, as chagas.
“A
paz do Senhor” não é um sentimento; a paz do Senhor não é um contentamento. Estar
em paz não é estar bem. Muitos estão bem e não estão em paz: pensam estar em
paz porque estão bem; confundem a paz com o contentamento e com a felicidade
natural. Alguém diz: “Estou em paz: consegui pagar aquela dívida que há anos
vinha se arrastando”... Mas isto não é paz! Ou: “Estou em paz: criei os meus
filhos e eles agora estão bem, cada um já está solidificado no mundo”... Isto
não é paz! Ou: “Estou em paz porque consegui reaver tal coisa, ou fazer tal
coisa.” Isto é contentamento, felicidade natural. A paz não é um sentimento, e
a paz não nos é dada por coisas exteriores que possamos fazer, alcançar ou
sermos premiados.
Na
Vigília de Natal, a sagrada Liturgia vai nos dizer: “Ele é a nossa paz.” A paz
é Nosso Senhor, a paz é Cristo ressuscitado em nós. Ora, é uma condicional – a paz
esteja – se Cristo está em nós, estamos na paz. Se Cristo está em nós, a paz
está em nós e estamos na graça. E, se estamos na graça, não com a ausência do
sofrimento, porque, para permanecer na graça e para estar na graça, requer-se
de nós justamente sofrimento no sentido de dobrarmos os nossos instintos e convertermos
os nossos corações. Eis aí a paz mostrada com as chagas do Senhor.
O
Domingo in Albis relembra a nossa
grande responsabilidade. O que fizemos do nosso Batismo? O Domingo in Albis nos mostra que um dia estaremos
diante do Supremo Juiz, de juízo reto, que nos julgará diante daquilo que nos
deu. E a primeira coisa que Ele olhará em nós é justamente a nossa veste: como
ela estará no dia do julgamento? Observemos, pois, o nosso Batismo – o que
fizemos com as nossas vestes batismais, como estão estas vestes – e não nos esqueçamos
de que, com estas vestes, nos apresentaremos um dia diante do Supremo Tribunal
de Deus.
Homilia proferida em 15 de
abril de 2012, primeiro Domingo após a Páscoa.
* * *
02/05/2012Domingo de Páscoa: “Ele não está mais aqui. Ele ressuscitou!”
06:47 | Postado por Sacerdos
Pe.
Marcelo Tenório
A alegria do Domingo da Páscoa, após a Quaresma contemplando o
Crucificado; a Quaresma, que nos foi proposta pela Santa Igreja para que
possamos mudar a nossa vida; e, ontem, toda a Igreja diante do túmulo do
Senhor, aguardando a Sua ressurreição. E, assim, a Igreja hoje pode cantar
“Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?”
No santo Evangelho que acabamos de escutar, as santas mulheres com
Maria Madalena vão até o sepulcro. “Quem nos retirará a pedra?” São movidas
pelo amor incondicional ao Mestre, a nosso Senhor: já que não conseguiram
fazê-lo devido ao Shabbat, no
primeiro dia da semana se dirigem ao sepulcro e levam aromas. E, quando chegam
bem próximo do local, vem a indagação: “Quem nos tirará a pedra?” Mas a pedra
estava removida; era uma pedra grande. Ficam assustadas, interrogativas. E, ao
olharem para dentro do sepulcro, está um belíssimo jovem do lado direito. A
palavra do jovem para aquelas mulheres: “Não vos assusteis.” Ou seja: “Não
temais.” As palavras de Nosso Senhor durante as aparições que iremos ver com
mais precisão na Oitava da Páscoa sempre é esta, além de “A paz esteja
contigo”: “Não tenhais medo, não temais, não vos assusteis.”
A morte passou; “a morte, morreu”. Cristo matou a morte! O
vencedor, o poderoso das batalhas, aniquilou a morte! Desce aos infernos para
abrir as portas do paraíso, para destruir o limbo dos patriarcas e, assim todos
podermos entrar na glória de Deus, deslumbrarmos Sua face sagrada,
deslumbrarmos o Seu rosto, gozar das alegrias de seus mistérios e do seu
convívio. De forma que a Igreja, na escuridão, na penumbra do pecado original,
vê aos poucos a luz de Cristo adentrando nas trevas, dissipando tudo o que era
obscuro, eis que tudo fica claro: “A noite será como o dia”, canta o Precônio
da Páscoa. E a Igreja está tão exultante, mas tão exultante nesta salvação, na
ressurreição do Cristo, que canta: “Ó feliz culpa de Adão, que nos mereceu um
grande Salvador”!
“Vocês procuram o crucificado?” Perguntou o jovem. Era um anjo;
mas por que jovem? São João viu um ancião, não um jovem. Nas suas visões em
Apocalipse, São João verá sempre um ancião; aqui é um jovem. É um anjo, jovem,
resplandecente do lado direito. “O Crucificado, vocês procuram? “Ele não está
mais aqui. Ele ressuscitou!”
Na santa Missa de sempre [n.d.r.: Missa Tridentina], encontramos entre muitos grandes significados,
o do lado direito e do lado esquerdo do altar. O lado da Epístola é justamente
o do oriente [n.d.r.: a direção da
Terra Santa], de onde vem para nós esta luz da verdade. E o Evangelho é
proclamado aos incrédulos, aos pagãos, àqueles que precisam de conversão; por
isto, a estante do Evangelho, do lado esquerdo do sacerdote, está sempre
inclinada, não reta, como do lado direito do sacerdote. Por quê? Porque esta
inclinação quer mostrar para nós que a palavra de Deus “se derrama”, o
Ressuscitado deve ser conhecido pela sua palavra e a sua palavra aceita gera
conversão e mudança de vida. O anjo está do lado direito do altar, não do lado
esquerdo, pois do lado direito é de onde vem a salvação.
“O que vocês procuram aqui? O crucificado? Ele já não está mais
aqui, Ele ressuscitou.” Cristo não está nos mortos! Cristo não está entre
aqueles que desceram aos infernos. De forma alguma! Ele ressuscitou! E por isso
nós somos chamados a ressuscitar. São Paulo nos diz: “Se ressuscitastes com
Cristo, vós estais mortos.” Então, nós morremos [n.d.r.: para o mundo] no dia de nosso Batismo; mas, “Se
ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto”, não as coisas baixas.
Quem está no alto? Deus. Quem está no baixo? O demônio. Então, buscai as coisas
do alto, onde Deus está! Porque a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
E, na Epístola da santa Missa de hoje, vimos isso muito
claramente: “Irmãos, purificai-vos do velho fermento.” É Páscoa! Não podemos
colocar remendo novo em roupa velha, de forma alguma. Se ressuscitamos com
Cristo pelo Batismo, é Páscoa em nós e já não podemos buscar o velho fermento.
Muito pelo contrário! Busquemos o fermento novo, um fermento puro, a fim de
que, conformando-nos a Ele, que é a vida, possamos em cada instante, em cada
momento da nossa existência, viver a Páscoa em nossa alma, em nossa vida.
É sempre Páscoa na vida dos santos; embora haja tristezas,
dissabores, sofrimentos, incompreensões e abandonos, é sempre Páscoa na vida
dos santos. Ontem, a Igreja invocava a todos os santos, para que fizessem
conosco a Vigília Pascal. Todos os santos viveram nas suas vidas a Páscoa do
Senhor; desejaram ardentemente esta Páscoa e deram-se totalmente a fim de que,
a cada instante, o Ressuscitado tomasse conta de suas vidas, de suas entranhas,
de suas células, de todo o seu ser. A tal ponto que Santa Teresa d’Ávila pôde
exclamar: “Morro porque não morro; vivo, mas já sem viver em mim”.
O desafio de cada um de nós, enquanto católicos, enquanto
cristãos, é, justamente, seguir esta palavra do santo Evangelho, de não
ficarmos entre os mortos, porque Ele não está entre os mortos – “Por que
procurais aqui? Ele não está, Ele ressuscitou.”; e viver o que diz o Apóstolo –
buscar as coisas do alto, ser o fermento novo, viver realmente a vida de
ressuscitado. Porque viver a vida de ressuscitado é viver a morte batismal, a
morte para o mundo, a morte para a concupiscência, a morte para tudo aquilo que
nos afasta de Deus.
“Vós estais
mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.”
Homilia proferida em 8 de
abril de 2012, no Domingo de Páscoa.
* * *
30/04/2012Missa da Noite de Páscoa: “Por que buscai entre os mortos Aquele que vive?"
15:39 | Postado por SacerdosPe. Marcelo Tenório
Hoje
a Igreja celebra a Ressurreição do Senhor. No Evangelho que acabamos de
escutar, Maria Madalena com outras mulheres vai ao túmulo de Cristo. A pedra
está removida; um anjo resplandecente, dirigindo-se às mulheres, lhes diz: “Não
temais; sei que buscai a Jesus, que foi crucificado; Ele não está mais aqui”. A
grande mensagem da Páscoa é justamente esta do anjo: “Por que buscai entre os
mortos Aquele que está vivo? Jesus de Nazaré, o crucificado, não está mais aqui.”
“Ele não está mais aqui, Ele ressuscitou.”
E
São Paulo vai nos falar que a nossa vida está escondida com Cristo em Deus. E,
se a nossa vida está escondida com Cristo em Deus, devemos buscar as coisas do
alto – onde Deus está – e não as coisas baixas.
Maria
Madalena com as santas mulheres, de forma extremamente caridosa, vai atrás do
corpo de Jesus, para justamente ungi-lo, já que não deu tempo por ser sábado, e
o anjo lhes replica: “Por que buscai entre os mortos a Jesus de Nazaré, aquele
que foi crucificado? Ele não está mais aqui.” Ele não está mais aqui!
“Buscai
as coisas do alto, não as coisas de baixo, porque a vossa vida está escondida
com Cristo em Deus.” A nova vida, a vida verdadeira, está escondida com Cristo
em Deus. Esta é a grande mensagem da Páscoa para nós. Não podemos continuar mergulhados
em nossos pecados, em nossas resoluções mesquinhas. As mulheres são convidadas
a não buscar entre os mortos; as mulheres são convidadas a olhar para o alto. A
pedra é removida; aquilo que pesava, que prendia, agora é retirado. O véu que
separava, agora já não pode mais separar.
A nossa vida está escondida com
Cristo em Deus: por que procurais entre os mortos aquele que vive? Ele está
aqui! Ressuscitou, como disse [alusão a um verso da Antífona Pascal Regina Cæli, n.d.r.].
Homilia proferida em 7 de abril de 2012, noite de Páscoa.
* * *
27/04/2012Sexta-feira da Paixão: "Recebei-nos também, ó Mãe, em vossos braços como O tendes recebido; trôpegos são os nossos passos Mãe, como nós temos vivido."
08:53 | Postado por Sacerdos
Pe. Marcelo Tenório
Hoje, a Igreja celebra a Paixão e Morte de Nosso Senhor. O
mistério da Paixão é o mistério do amor de Deus para conosco. O salmo
interroga: “Quem é o homem, Senhor, para que dele Vos preocupeis?”. Não somos
nada, em nada aumentamos a glória de Deus. E Ele nos criou para Ele. E, ao nos
criar para Ele, nos predestinou a viver a Sua vida, a participar da Sua
divindade. E assim as Sagradas Escrituras nos dizem “Vós sois deuses” no
sentido de participação na divindade do Deus único, do Deus excelso, do Deus verdadeiro
que se torna homem como nós e assume a nossa humanidade, a fim de que a
salvação, o resgate a preço de sangue aconteça. E a vítima verdadeira é Ele,
que se entrega e se dá. Nosso Senhor não é um mártir igual aos outros mártires
por que Ele se dá, Ele se entrega.
No Evangelho solene de São João, quando os guardas chegam ao horto
das Oliveiras, Jesus os interroga: “A quem procurais?” “A Jesus de Nazaré”,
eles respondem; e Jesus lhes diz: “Sou Eu”, ou “Eu Sou”, e de repente eles caem
por terra. É o mesmo nome que Deus responde a Moisés, na sarça ardente, que
havia perguntado a Ele “Quem és Tu? O que direi ao faraó, qual o teu nome?” e
Deus responde a Moisés: “Eu Sou”, “Javé”, “Yahweh”. Quando os judeus, zelosos
em suas tradições, zelosos em sua religião, que acusavam Nosso Senhor de
blasfemo por se dizer Filho de Deus, se aproximam para prendê-lo com paus e
armas e, à frente estava Judas, o traidor, e escutam da boca do Salvador: “Eu
Sou”, o mesmo nome sagrado de Deus. Eles caem por terra, a força deste nome é
tamanha que caem por terra, como que jogados por terra. Isso três vezes, em
sinal de divindade, de perfeição, de autoridade. Novamente, Jesus pergunta: “A
quem procurais?” “A Jesus, o Nazareno.” “Já vos disse: ‘Eu Sou’”; eles caem
novamente, como se a terra tremesse, e eles são jogados ao chão. E, pela
terceira vez, a mesma coisa. Isto nos indica que Ele é o Deus verdadeiro. E não
são os carrascos, não são os fariseus, não são os guardas do templo que prendem
Jesus ou que põem suas mãos nEle: Ele se entrega, porque se Ele não quisesse,
bastava o sopro de Sua boca, como diz o profeta Isaías: “A palavra de sua boca
ferirá o avarento, o violento sopro de seus lábios”. Ele se entrega “Ninguém
tira a minha vida”, diria o Senhor, “Eu vo-la dou.”
Nesse dia solene, sagrado para nós Cristãos, Nosso Senhor dá a Sua
vida como o pelicano que, em falta da comida para seus filhotes, com o seu bico
pontiagudo rasga o seu peito, tira um pedaço de carne de si e entrega a seus
filhotes, para que não morram de fome. Assim fez Nosso Senhor ontem, na Última
Ceia, a primeira Missa que Ele rezou. A primeira Missa: a vítima que se
oferece, que se dá, que se entrega... Nos ritos antigos, o sacrifício consistia
não na morte da vítima – a morte era consequência – mas no derramamento de
sangue e, para isso, era necessário sacudir a vítima: o boi, o cabrito, ou
oferendas menores, eram sacudidos porque isto agitava o sangue, propiciando uma
melhor de aspersão deste sangue sobre o altar do sacrifício. Também no
Ofertório da Missa, no momento em que o sacerdote oferece na patena a hóstia,
ele agita este sacrifício com o sinal da cruz; da mesma forma que se agitava o
animal nos sacrifícios antigos para que o sangue jorrasse a qualquer momento e
a qualquer corte, também a vítima na Santa Missa é agitada, visto que, para
nós, Ele é o perfeito cordeiro que se oferece.
E ontem Ele se ofereceu, antecipando este momento de hoje. A Missa
é a memória, a renovação, em nossos altares, do mesmo sacrifício do calvário;
não outro, mas este mesmo sacrifício do calvário do qual, hoje, pelo mistério
da Sagrada Liturgia, estamos próximos, ao lado do Senhor na Sua angústia, ao
lado do Senhor em Suas dores, ao lado do Senhor no Seu abandono. Ninguém ficou
ao seu lado, nem João. Nem João, o discípulo mais amado; nem ele ficou; todos
correram apavorados, com medo, todos foram embora. Pedro negará Jesus diante de
uma serviçal do templo e de outros; e os demais, cada um, procuram livrar-se da
condenação que pesam sobre eles por serem discípulos ou apóstolos do Senhor.
Para onde teria ido João? Não sabemos; tudo indica que para a casa das Santas
Mulheres. E, com elas, com certeza estava Maria, Nossa Senhora, que já sabia o
que a aguardava desde o dia da profecia de Simeão e, até aquele momento, Ela
espera esta hora, Ela deseja que chegue esta hora: a hora da entrega, do
sacrifício, a hora em que seu Filho, o Cordeiro Santo, irá remir os pecados da
humanidade inteira como aquele bode expiatório, que os antigos usavam para,
sobre ele, invocar os pecados de toda a comunidade dos judeus, e lançarem este
bode à sorte no deserto para morrer, significando que levava todos os pecados.
Por isto este bode expiatório. Por isto São João Batista pôde dizer: “Ecce
Agnus Dei”. Aí está o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
E esta salvação se alarga hoje na
morte daquele que, sendo Deus, não pode morrer, mas morreu verdadeiramente,
padecendo as nossas dores, padecendo os nossos sofrimentos. Fisicamente igual a
nós em tudo, morreu da nossa morte para que pudéssemos ter a Sua vida.
Então, o mundo volta-se ao nada: “Deus está morto!” “Deus está
morto.” “Deus está morto...” Deus morre por amor de cada um de nós. “Pai, em
tuas mãos, Eu entrego meu espírito”, disse Jesus. Veio do Pai, como dom dado de
Deus para nós, e ao Pai Se entrega: “Em tuas mãos; tudo está consumado. Tudo
terminei, agora tudo Te entrego.” A glorificação do Filho está no Pai, em fazer
a Sua vontade. A glorificação do Pai está na vontade perfeita do Filho: o Filho
que glorifica o Pai, o Pai que é glorificado neste mistério da cruz.
Deus que morre. Deus que desce aos infernos e, lá nos infernos,
vai anunciar a salvação. Todos desejavam esta hora, desde os patriarcas, desde
a época de Noé, desde a época de Abraão, de Isaac, de Jacó, desde a época dos
profetas – todos, no limbo, esperavam este momento, o momento da redenção. À
porta que estava fechada e ao selo que selava esta porta do paraíso, o sangue
do Cordeiro abre; a porta é escancarada, a salvação concretiza-se, e o véu que
separava é rasgado de cima a baixo na morte do Senhor. Aquele véu do templo que
se rasga de cima a baixo, o véu que separava uma aliança de outra, agora é uma
aliança eterna. Cristo que entra no templo não construído por mãos humanas,
como fala São Paulo aos Hebreus, mas uma vez só; não com sacrifícios de touros
ou sangue de cabritos, mas Ele se dá, o seu sangue é derramado de uma vez por
todas. E, assim, a humanidade é salva, assim a redenção atinge todo o orbe da
terra; não só o homem, mas toda a criação gemia, esperando este momento da
redenção, este momento que se alarga e é derramado a todos os homens.
Entretanto, é necessário que assumamos esta salvação. Ele se dá,
Ele salva, não a todos, mas a muitos: o sangue é dado por muitos, não por
todos. E por que não por todos? Porque nem todos darão ouvidos, nem todos darão
a sua adesão a esta salvação.
E, ao lado de Jesus, está Maria; e, ao lado de Maria, as santas
mulheres; e, com as santas mulheres e com Maria, João, o discípulo amado. Nos
últimos momentos, o testamento de Jesus: “Mulher, eis aí o teu filho. Filho,
eis aí a tua mãe.” Maria recebe João e, em João, a Igreja inteira e os membros
desta Igreja. João recebe Nossa Senhora e, em João, nós também A recebemos.
E podemos também contemplar a cena
belíssima de Jesus descendo da cruz, já sem vida, desfigurado, massacrado nos
braços da Mãe. Que dor para Nossa Senhora! Quantas lembranças, quantas
recordações! Ela poderia muito bem dizer a Madalena: “Madalena, sustenta os
pés, pois eles não se esqueceram dos aromas da urna de alabastro.” “João,
sustenta a cabeça, que a tua repousou tão docemente em Jesus no último
banquete.” Mas é a Mãe que recebe nos braços o Filho sem vida.
Recebei-nos também, ó Mãe, em vossos
braços como O tendes recebido; trôpegos são os nossos passos, Mãe, como nós
temos vivido.
Sermão proferido na Sexta-feira da Paixão, em 6 de abril de 2012.
* * *
26/03/2012
13:44 |
Postado por Sacerdos
Pe. Marcelo Tenório
V. Ave Maria, Gratia plena, dominus tecum, benedicta tu in
mulieribus, et benedictus frutus ventris tui Jesus.
R: Sancta Maria, mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in
hora mortis nostrae. Amen.
V. Ora Pro nobis sancta Dei Genitrix,
R: Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
A última Ceia do Senhor, a Missa In Cœna Domini, é um
momento de júbilo e um momento de profundo pesar, de uma profunda tristeza. De
júbilo, porque o Senhor instaura o Seu sacrifício, o mistério da Missa - é a
Missa que Ele celebra. E, nesta Missa, Ele se dá: não mais os cordeiros
antigos, não mais o sangue de touros e de cabritos, mas dEle mesmo que se
entrega em resgate. É a primeira Missa que Nosso Senhor celebra como Sumo e
eterno Sacerdote. Por isso, São Paulo vai dizer aos hebreus que Nosso Senhor
não entrou no santuário construído com mãos humanas, mas de uma vez por todas
Ele, como sacerdote eterno, como vítima, com Seu próprio sangue, entra no Santo
dos Santos uma só vez e, assim, resgata por um só ato a humanidade inteira.
É júbilo porque a Missa nos é dada e por que a Santíssima
Eucaristia é entregue à Igreja para que, renovando este gesto, possamos nós, da
Igreja militante continuar na história, até a consumação dos séculos, este
memorial da paixão, morte e ressurreição. Padre Pio respondeu alguém que o
interrogou sobre o que é a Missa:
“A Missa é o calvário todo. E a
minha responsabilidade é única no mundo.”
Também hoje, Nosso Senhor nos dá o mandamento do amor. E
este mandamento do amor é o “amar a Deus sobre todas as coisas”. E é neste amar
a Deus sobre todas as coisas que o Filho nos dá este exemplo, fazendo a vontade
do Pai, e se entrega até a morte e morte de cruz, como cantávamos antes do
evangelho: “Cristo se fez por nós obediente até a morte, e morte de Cruz, e por
isso Deus o exaltou e deu o nome acima de todo o nome”.
Também, a instauração do sacerdócio católico. Hoje, nosso Senhor
não só nos deixa a Eucaristia, o Seu sacrifício; não só nos dá o Seu mandamento
de amor, mas também instaura o Seu sacerdócio. E, como dizia muito bem o nosso
Arcebispo Dom Dimas na Missa dos Santos Óleos: “O sacerdote não é apenas
um alter Christus, um outro Cristo; o sacerdote, na verdade, é
Cristo, porque o sacerdote empresta a Nosso Senhor suas mãos, sua voz, todo o
seu ser, todo o seu corpo, para que, através destas pessoas ungidas, Cristo
continue a governar, a santificar e a ensinar.”
Era São João Maria Vianney que dizia:
“Ide aos anjos e pedi a eles o
perdão dos pecados, e eles vos dirão: não podemos. Ide aos anjos e pedi a todos
eles que vos dê o pão do céu, e eles responderão: não podemos. Ide à Santíssima
Virgem e pedi também o perdão dos pecados e o Pão do Céus, e a Santíssima
Virgem responderá: não posso. Mas, ide ao mais simples dos sacerdotes, santo ou
pecador; só ele poderá responder: teus pecados estão todos perdoados.”
Eis o júbilo da festa de hoje, acompanhado pelos sinos e
pelo Gloria. Mas, daqui a pouco, Nosso Senhor se despede e vive aquilo que O
espera: o martírio, o calvário, o abandono. E, então a Igreja entra no
sofrimento do Senhor e convida a todos nós a estarmos juntos com Ele
no Getsêmani, a não abandoná-lo, a não deixá-lo sozinho. Todos foram
embora, ninguém ficou. Até mesmo João, que volta depois; mas, naquele momento
todos vão embora. João não ousa, em nenhum momento, dizer: “Que me preguem na
cruz com o meu Senhor”. Apenas some, desaparece. Cristo está só, mas Sua Mãe
Santíssima, com certeza, o acompanha de longe, talvez sem nem saber onde seu
Filho estava preso, onde seu Filho se encontrava, mas Ela estava unida a Ele.
Os demais fugiram apavorados diante do aparente fracasso de Nosso Senhor; este
fracasso que vai ser aniquilado com a vitória da cruz no Sábado Santo, aos
primeiros raios de sol do Domingo da Páscoa.
Este momento, para nós, é um momento sagrado, é um momento
sublime, em que podemos contemplar Nosso Senhor em dois aspectos: na sua
profunda alegria em ter consumado tudo e feito a vontade do Pai ao extremo,
como João vai nos falar “Amou-nos até o fim” – In fine dilexit –
mas também na angústia, na dor, na desolação que cairá sobre Ele.
E o que nós sabemos?
Que o peso da cruz é o nosso peso,
que somos nós que lhe pesamos na cruz. O Seu suor com sangue é por causa dos
nossos pecados: somos nós que Lhe pesamos, somos nós que aumentamos as Suas
angústias. Não foram os demônios que condenaram Jesus à morte, fomos nós: nós o
condenamos, nós somos os responsáveis pela Sua morte e – o pior – nós somos
responsáveis pela Sua paixão, que se arrasta até o fim dos séculos em cada
pecador que se obstina no pecado, até em nós quando continuamos imersos em
nossas falhas, em nossas podridões, ou até mesmo em pecados veniais que, diante
de Deus e diante daquilo que Ele deseja para nós – a perfeição e o Céu – não
deixa de ser atraso e empecilho contra o testemunho do primeiro amor, do
primeiro Mandamento que é amar a Deus sobre todas as coisas, e do mandamento de
amarmos ao próximo como, ou – às vezes, ou muitas vezes, ou quase sempre – mais
que a nós mesmos.
Que esta santa Missa in Cœna Domini abra
para nós a porta das graças de Deus, a fim de que, neste Tríduo Santo, tenhamos
a graça das graças, que é perseverar até o fim, até o último instante da nossa
vida, como costumo dizer: “A graça não é começada em mim, a graça é terminada
em mim.” Se começamos bem e não terminamos bem o que fizemos, acontece o que
São Domingos Sávio dizia: “Se no final de minha vida não tiver me
tornado santo, foi inútil ter passado por esta vida.”
Acompanhemos Jesus em cada instante, em cada momento, em Sua
paixão que se abre nesta Última Ceia, ao lado de São João, o discípulo que Ele
mais amava; ao lado de São Pedro que, apesar de seu temperamento, amava a Nosso
Senhor; ao lado dos demais; mas, entre eles, estava Judas, o traidor, aquele
que seria melhor nunca ter nascido.
* * *
26/04/2012
13:03 |
Postado por Sacerdos
Clique aqui para visualizar as fotos do Domingo de Ramos.
Pe. Marcelo Tenório
Entramos
na Paixão de Nosso Senhor, o 2º Domingo da Paixão, o Domingo de Ramos. É neste Domingo
que a Igreja canta, anuncia a Paixão de Nosso Deus. Um Deus que nos amou até o
fim, até a morte, e morte de cruz.
Ao
chegarmos diante da Igreja fechada, podemos contemplar o paraíso fechado pela
culpa de um só homem, do velho Adão. Poderíamos contemplar o limbo dos
patriarcas, o limbo dos santos onde todos aguardavam o momento da Salvação. É a
porta que está fechada, a porta selada pelo pecado de um só homem. Pela
obediência do novo Adão, de Cristo Deus, a porta é aberta e jamais será fechada.
São as portas do Reino, do Paraíso que se abrem para todos aqueles que desejarem
por ela entrar.
O
2º Domingo da Paixão, de Ramos, deve ser para nós esta porta aberta que nos
convida a deixar a vida velha, o pecado de Adão, para podermos cravar a cruz de
Cristo, que é a nossa ressurreição, sobre o crânio do antigo Adão. Como alguém
já dizia: “Santo sepulcro, eis a cova; nela é
deitado o homem velho: o homem velho seja abandonado na cova, e que saia o
homem novo deixando aos vermes o pecado.”
Que
possamos, neste dia santo, neste dia de reflexão, diante deste imenso amor de
Deus por nós – que não precisava, mas quis nos amar -, responder com prontidão,
como São Pedro após a negação: “Senhor tu sabes tudo de mim, tu sabes que eu Te
amo.”
Na
narrativa da Paixão, Cristo pergunta a Judas “Amigo, a que vieste?” A mesma pergunta Nosso Senhor faz a cada um
de nós: “Por que estais aqui? Por que vieste me ver?” Vamos dar nós o beijo
traidor na face do Mestre, ou vamos segui-Lo a cada ponto, a cada instante, a
cada dor, até a glória da ressurreição?
Se
queremos segui-Lo, preparemo-nos para a cruz, para o martírio, para as dores. Não
faltarão conosco os cirineus. As trevas, vez ou outra, se transformarão em luz;
a dor não será tirada, mas aliviada. Entretanto, depois desta caminhada, lá
longe, contemplaremos o mistério da Paixão, a cruz do Senhor. Do Rei avança o
estandarte, fulge o mistério da cruz.
Homilia proferida em 1º de
abril de 2012, Domingo de Ramos.
* * *
26/04/2012
12:34 |
Postado por Sacerdos
Padre Marcelo Tenório
V. Ave Maria,
Gratia plena, dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus frutus
ventris tui Jesus.
R: Sancta
Maria, mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis
nostrae. Amen.
Enfim chegou o
Domingo da Paixão do Senhor. Cristo que sobe para o patíbulo. É o estandarte da
cruz que avança, como canta o hino antigo “Do Rei, avança o estandarte, fulge o
mistério da cruz”. A partir de agora, a Igreja entra ao lado do seu Senhor para
com Ele padecer e morrer. Se com Ele morremos, com Ele
também haveremos de ressuscitar.
O
santo Evangelho
mostra a tensão de Jesus com aqueles que tramam a sua morte. A tensão
vai
aumentando à medida em se aproxima o dia de seu suplício, da sua Paixão.
Aqui Nosso Senhor fala algo muito duro para os fariseus; os
fariseus, na verdade, queriam um motivo para condenar Jesus à morte.
Nosso
Senhor revela, de forma inequívoca, a sua divindade e a sua
consubstancialidade
com o Pai: “Antes que Abraão fosse, Eu Sou”.
O Evangelho de João, quando fala “Eu Sou”, quer, na verdade, remontar ao Nome Santíssimo de Deus, quando nos é revelado no Antigo Testamento para Moisés: “Que direi eu ao faraó? Que nome tu tens?” “Diga-lhe que Eu Sou”.
O Evangelho de João, quando fala “Eu Sou”, quer, na verdade, remontar ao Nome Santíssimo de Deus, quando nos é revelado no Antigo Testamento para Moisés: “Que direi eu ao faraó? Que nome tu tens?” “Diga-lhe que Eu Sou”.
Javé, Yahweh, Eu
Sou. É o nome sagrado de Deus que até hoje os judeus não pronunciam em sinal de
respeito. Naquela época também não se pronunciava, mas a força deste nome de
Deus - “Eu Sou” - está na pessoa, na obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. E
entrou no Santo dos Santos, não construído com mãos humanas (como fala São
Paulo aos Hebreus), não levou sangue de touro nem de cabritos, não ficou
repetindo ano a ano esta entrada como fazia o sumo sacerdote que, uma vez ao
ano, entrava no Santo dos Santos sozinho, com sangue aspergia todo o lugar
sagrado e pronunciava uma vez só o nome de Deus para a expiação de todos os
pecados. Pois bem: o sumo sacerdote, Cristo Nosso Senhor, entra no santuário,
não construído com mãos humanas; não leva sangue de nada, é Ele mesmo que se
oferece, é o seu próprio sangue, não pronuncia outro a não ser o seu mesmo
Nome, que é o da sua consubstancialidade com o Pai: “Eu Sou”.
Os fariseus se
apavoram, pegam pedras para apedrejá-lo, mas Ele sabiamente desaparece no templo.
Por quê? Porque ainda não havia chegado a sua hora. É o drama da Paixão a que
nós devemos assistir, mas não de forma passiva; assistir de forma ativa a cada
momento, a cada instante.
Hoje, Domingo da Paixão, o estandarte avança para ser cravado no Gólgota sobre o crânio de Adão; uma vez cravado no Gólgota sobre o crânio de Adão, Cristo restaura a aliança perdida. Por isso Ele pode dizer: “Quando Eu for elevado, atrairei todos a mim”.
Hoje, Domingo da Paixão, o estandarte avança para ser cravado no Gólgota sobre o crânio de Adão; uma vez cravado no Gólgota sobre o crânio de Adão, Cristo restaura a aliança perdida. Por isso Ele pode dizer: “Quando Eu for elevado, atrairei todos a mim”.
A cruz, então, será mais que sinal: um sacramental da salvação estendida à
humanidade inteira. E, assim, nós podemos cantar na Sexta-Feira Santa:
“Vitória, tu reinarás; ó cruz, tu nos salvarás”, ou “Ave, ó Cruz, nossa única
esperança”. É o nosso estandarte.
Entretanto,
neste
estandarte da cruz, também estamos nós: somos nós que lhe pesamos na
cruz, são
os nossos pecados, é o seu, é o meu pecado que faz a Sua cruz ser mais
pesada;
esta cruz que Ele abraçará – aliás, esta cruz que Ele abraçou desde o
mistério da Sua encarnação, cuja festa comemoramos amanhã devido a ter
caído
hoje no Domingo da Paixão. E alguém dizia: “Ele não se encarnou e
sofreu, mas
sofreu e por isso se encarnou”. Sofreu no sentido de que Deus não
abandonaria
a Sua obra prima: não abandonaria o homem, a Sua criação perfeita na
qual Ele
colocou Sua alma, colocou algo que só Ele tem, mas envia o Seu Filho
único,
para que, através desse mistério grandioso que encerra o estandarte da
cruz,
pudesse religar novamente o homem ao Seu Criador.
E,
neste mistério
da Paixão do Senhor, cabe-nos esta assistência ativa. Primeiramente
rompendo de
uma vez por todas com esse peso que somamos à cruz do redentor. Somos
nós que
Lhe pesamos na cruz. Rompamos com os nosso pecados. Determinemo-nos em
termos
uma vida santa. Não deixemos para amanhã se podemos fazer hoje,
apressando a
nossa conversão. E, apressando a nossa conversão, com a carne que nos é
dada de seu peito - e daí São Tomás o vê como pelicano de Deus,
aquela ave que, não tendo alimento para seus filhos, com o seu bico
pontiagudo
rasga o seu próprio peito para alimentar as suas crias - Deus nosso
Senhor
desce, rasga o peito, entrega-nos o Seu corpo e o Seu sangue para que
através
deles - corpo e sangue - nós na graça vivêssemos, vivêssemos na
santidade.
É uma ousadia
nossa; é um pecado gravíssimo; chega a ser um sacrilégio, então, desonrarmos essa
salvação - se é que se pode desonrá-la - mas fazer pouco caso desta salvação
que custou ao Filho de Deus Sua carne, Seu sangue, Suas dores. Nossa resposta
deve ser imediata; diante de tanto amor de um Deus que desce e que deseja que
subamos a Ele, a nossa resposta deve ser imediata. “Senhor tu sabes tudo,
tu sabes que eu te amo”, assim como Pedro respondeu ao ser indagado por Jesus
por duas vezes - em vez do uso do verbo agape, Pedro usa o verbo filioste.
“Pedro tu me amas?” “Gosto”. “Pedro tu me amas?” “Gosto”. “Pedro, tu gostas de
mim?” Então Pedro percebe e consegue rever aquilo que havia perdido: “Senhor tu
sabes tudo, tu sabes que eu te amo”. Que o nosso amor por Deus nosso Pai e pelo
seu Filho seja aquele amor agape, sacrifical, capaz de dar a
própria vida.
Na santa Missa
Cristo se dá a nós, mas também nesta mesma Missa a que assistimos, devemos
nos dar totalmente a Cristo: hóstia com hóstia, o sacrifício dEle - único,
perfeito e eterno - e o nosso sacrifício no sentido de romper com tudo que nos
afasta de Deus para sermos todos de Deus. Perder tudo para ter Tudo, no “tudo
que é Deus”, como nos ensinava São Francisco de Assis.
Homilia proferida em 25 de março de 2012.
Homilia proferida em 25 de março de 2012.
* * *
19/03/2012
07:15 |
Postado por Sacerdos
Homilia da Missa do 2º Domingo da Quaresma
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Estamos
no 2º Domingo da Quaresma. Na Quarta-Feira de cinzas, a Igreja
solenemente nos lembrava a grande e terrível verdade objetiva que paira
sobre todos nós: “Memento homo...” “Lembra-te, homem, que és pó, e
que ao pó tu hás te tornar.” A Igreja não nos diz: “Lembra-te, homem
que sereis pó”, mas afirma: “Lembra-te que és pó.”
O
padre Antonio Vieira, num dos seus sermões da Quaresma – o Sermão da
Quarta-Feira de Cinzas – coloca isso bem claro para nós. É verdade que
outros sermões do padre Antônio Vieira não eram tão ortodoxos assim, mas
este sermão vale a pena ser lido. “Lembra-te que és pó e em pó te
tornarás”, ou seja, já somos pó; a miséria nos atinge como um raio.
Somos nada, pó, poeira que passa. Seremos o que já somos: pó, poeira... “Memento homo” – “Lembra-te, homem.”
O
homem que busca “imortalizar-se” em suas obras, naquilo que constrói.
Mas, o que encontramos nos sepulcros quando os abrimos? Pó, apenas pó.
Reis e plebeus, simples e nobres, papas e imperadores... Ao abrimos os
seus sepulcros, o que encontramos? Pó envolto em alguma seda já acabada
pelo tempo, já de certa forma decomposta pelos vermes. Somos pastos de
vermes. Parece-nos uma tragédia, uma
lembrança terrível que nos poderia causar uma angústia espiritual, se
entendermos este pó, este nada, para aquém daquilo ao qual, por graça,
fomos chamados a ser.
Então,
quando a Igreja lembra que o homem é pó, e que ele será pó, ela quer
dizer que ele é, humanamente, apenas isso: pó. Se ele vive na carne, se
ele se fixa na carne, aí está a sua tragédia. Será aquilo que já é: nada
e pó.
Deus
nos fez filhos no Filho. Deus nos deu a adoção, e nos convida a viver a
vida no coração da Trindade. Então, mesmo que sejamos e que seremos pó,
Deus é capaz de dizer a este pó: “Levanta-te!” No grego, o verbo que
significa “ressurreição” é justamente o verbo “levantar-se”.
E, aqui, vemos o Evangelho da Transfiguração. Com Pedro, Tiago e João – somente os três – Nosso Senhor sobe a montanha. A
montanha é o local no qual Deus se encontra, no qual Deus fala. E,
diante desses três, Nosso Senhor se transfigura: torna-se reluzente,
esplendoroso – o rasgão no véu do mistério – mostrando a Sua divindade. E
aparecem Moisés e Elias. Por que Moisés e Elias? Em Elias, todos os
Profetas; em Moisés, toda a Lei. Jesus é o centro da revelação: de um,
lado Moisés; do outro, Elias; Jesus não está ao lado, mas ao centro. É a
plenitude de toda a Revelação. E, nesta manifestação clara da
Santíssima Trindade, o Espírito Santo é a nuvem que envolve a todos, e a
voz que sai de dentro da nuvem é do Pai: “Este é meu filho amado no
qual pus todo o meu afeto; escutai-O”.
Esta
é justamente a grande mensagem para nós nesta Quaresma: Cristo deve ser
escutado por nós. Esta é a vontade do Pai. E, durante estes rápidos
momentos, os apóstolos puderam vislumbrar a Cristo na Sua glória. Por
que vislumbrar Cristo na Sua glória? Por que a Santa Igreja coloca, no
2º Domingo da Quaresma, o Evangelho da Transfiguração? Porque é
necessário ver Cristo glorificado. Ou, melhor: Deus quis transfigurar o
Seu Cristo diante de Pedro, de Tiago e de João, para que, ao chegar o
tempo das trevas, ao chegar o tempo do aparente fracasso do Filho do
Homem, ao chegar o tempo da desilusão, os dias maus, eles pudessem se
lembrar deste momento solene, e desta voz que afirma: “Este é Meu Filho
amado, no qual coloquei toda a minha complacência; escutai-O.”
Assim
é para nós. “Lembra-te de teu Criador antes que cheguem os dias maus”,
dizem as Sagradas Escrituras no Antigo Testamento. Lembrar-se do Senhor,
estar com o Senhor, viver com Ele, percebê-lO antes que cheguem os dias
maus... Aqui está a mística da Transfiguração. Embora estejamos no
tempo da Quaresma; embora arrojados no jejum, na oração e na esmola;
embora sofrendo o peso e a dor humana, terrível, às vezes desoladora, da
conversão dos costumes – porque a carne grita – não fiquemos olhando
para a tragédia da nossa vida – a qual nos fala: “És pó e serás pó” –
mas olhemos para a Transfiguração do Senhor, esta manifestação
Trinitária. E é por esta Transfiguração de Cristo, por esta manifestação
trinitária, que olhamos para o Crucificado, para o derrotado na Cruz,
para o fracassado na Cruz, e compreendemos ali o aparente aniquilamento
de um Deus que desce.
E
se quisermos chegar lá no monte da Transfiguração, gozar da companhia
de Cristo e de seus Santos, receber dEle todo este esplendor e toda esta
glória, o caminho é por aqui: [n.d.t.: o padre apontou, neste instante, para o crucifixo do altar] passando
pelo Calvário, passando pela Cruz, passando pelas ignomínias, sendo
considerados malditos como Jesus foi considerado; e assim, sofrendo as
Suas dores, recebendo a marca da Sua Paixão, unidos em Seus sofrimentos,
chegaremos, por fim, àquilo que Deus deseja que cheguemos. Agarrados a
Cristo no Seu sofrimento, e imitando as Suas dores, chegaremos também à
Sua gloriosa ressurreição.
Homilia proferida em 4 de março de 2012.
* * *
24/01/2012
08:25 |
Postado por Sacerdos
Homilia da Festa de São Sebastião (20/01/2012)
Pe. Marcelo Tenório
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
Celebra-se
hoje, nesta Matriz, a solenidade de seu padroeiro, São Sebastião, que
viveu sob o governo de Diocleciano, um dos piores Imperadores de Roma a
massacrarem os cristãos. São Sebastião poderia, de certa forma, ter tido
uma ascensão política muito grande, a tal ponto de ser um dos mais
queridos e privilegiados do Imperador. Entretanto, tendo se convertido à
fé cristã, não titubeou em escolher – ante as honras, as famas e o
poder – ficar com Nosso Senhor Jesus Cristo.
São
Sebastião não era ingênuo, pois sabia muito bem o que lhe esperava se
assim continuasse. Tanto que, uma vez descoberto, o Imperador o chamou
e, diante de todos, ordenou que ele renunciasse à fé cristã, ou seria
expulso do rol dos grandes oficiais da Legião Romana e executado. Em
nenhum momento ele pensou duas vezes. Diante de todos, afirmou a sua fé
em Nosso Senhor Jesus Cristo, o que lhe valeu o suplício a flechadas e
deixado sozinho numa árvore, a sangrar. À noitinha, uma piedosa senhora
chamada Irene (n.d.r.: Santa Irene da Tessalônica, cuja festa é comemorada em 5 de abril) vai até Sebastião com outras mulheres; percebendo que está vivo, leva-o para casa e trata as suas feridas.
Mas
Sebastião, que poderia tranquilamente fugir e proteger a sua
integridade física e moral (o que, em si, não é nenhum pecado), quis dar
testemunho e ir contra o massacre de cristãos realizado pelo Imperador.
Foi ter com Diocleciano e protestou por causa dos massacres, sendo
novamente condenado, desta vez, à morte a pauladas e flagelação com
bolas de chumbo, vindo a falecer. Seu corpo foi sacudido nas fossas,
para que se evitasse a veneração pública; mas uma senhora chamada
Luciana (n.d.r.: Santa Luciana, cuja festa é comemorada em 30 de julho) junto com outras piedosas mulheres recolheram o corpo de São Sebastião.
Num
certo ano – se não me engano, entre 500 e 600 – houve uma grande peste
em Roma, e os devotos de São Sebastião, com o seu corpo, seus restos
mortais, fizeram uma grande procissão, e a peste veio a cessar
imediatamente. Por isso, até hoje recorremos a São Sebastião contra as
guerras, as pestes e as epidemias.
Que a coragem e a determinação de São Sebastião nos inspirem, tal como canta um hino em sua homenagem: “Ele
era uma pomba entre os fracos, mas um leão entre os fortes; desprezou
toda a corte, desprezou todo o temporal, desprezou toda a honra, toda a
glória, por Cristo Nosso Senhor”.
Sigamos
a São Sebastião e vivamos o nosso martírio, se não físico, mas um
martírio moral, como um bom cristão deve ser capaz de suportar.
Que São Sebastião, do Céu, interceda por todos nós, e mais particularmente por esta Paróquia que o venera e o honra.
* * *
09/02/2012
Missa de Natal: "Sempre é Natal na alma daquele que vive em Deus!"
07:28 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do Dia de Natal, em 25 de Dezembro de 2011
Pe. Marcelo Tenório
Pe. Marcelo Tenório
Enfim, é chegado o Natal. Desde as Missas Rorate
estávamos juntos com Nossa Senhora esperando a chegada do Salvador e a
Igreja nos convidava a uma conversão profunda, nos apresentando a pessoa
de São João Batista, que gritava no deserto.
Deus
vem “gritar” para nós. Já não há mais tempo para um convite sutil com
voz mansa e apelos em tons baixos. Deus, através do profeta, brada para
nós com violência: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”.
Tudo o que não presta será lançado ao fogo; o machado já está posto na
árvore, e a árvore que não der fruto será cortada, jogada fora.
Deus,
através de João Batista, clama para que possamos ouvir e, assim,
respondermos de forma coerente com nosso Batismo aos apelos de Nosso
Senhor. Deus “grita” no Tempo do Advento. E por quê? Para que possamos,
mudando o rumo da nossa vida, nos preparar bem e, assim, preparando-nos
bem, acolhermos de forma digna o Menino Jesus que vem no Natal.
Na
Missa do Galo a Igreja proclamava o nascimento do Salvador. Na Missa da
Aurora, a Igreja nos apresentava a Virgem Maria, aurora do Sol de
Justiça que é Nosso Senhor. E, agora, na Missa de Natal, a Igreja nos
insere no mistério da Encarnação: “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós”.
Sabemos que Deus não pode “subir”, pois que é infinitamente grande, de forma que só pode descer, e Ele quis descer! “Quem é o homem, Senhor para que dele vos preocupeis?”
Quem somos nós? Vermes! Deus não deseja nada a não ser a Si próprio.
Deus Se basta, mas Ele quis nos amar! E nos amou até a última
conseqüência, que culmina hoje no mistério da Encarnação. Deus se
humilha, “se aniquila”, como diz São Paulo [n.d.r.: Fp II, 5-11], se despoja de Sua divindade, de seu poder, de sua grandeza infinita para se tornar criança indefesa no seio da Virgem Maria.
“Et verbum caro factum est”.
E o Verbo se faz carne e vem habitar entre os homens, assumindo a nossa
humanidade. Igual a nós em tudo, menos no pecado, assume a limitação
desta condição humana, e desce do céu na noite santa do Natal para, com
os braços abertos, acolher a humanidade inteira. Assim como refletíamos
nesta madrugada, os braços abertos do Menino Deus significam que Ele
quis estar entre nós para abraçar a cruz que já se faz no altar. A cruz
que, apesar das luzes e das flores, espera esta criança. Ele que é a
matéria para o sacrifício, se deitará sobre a lenha, sobre o madeiro da
Cruz. E diferente do velho Adão, caído pela árvore do “prazer” [n.d.r.: do prazer iníquo da desobediência a Deus e de querer ser como Ele], assumirá, pela nossa redenção, a “árvore” da dor.
Olhemos para esta criança. Contemplemos o Menino Deus. Na Missa da madrugada, o anjo nos anunciava: “Nasceu-vos um Salvador, Cristo Senhor”.
Que possamos viver este Natal como se fosse o último das nossas. A
graça que Deus derrama sobre nós neste Natal é única, não voltará mais;
outras virão, esta não. Ele dá esta graça para que, recebendo-a,
possamos nos aproximar dEle e, enfim, viver o Natal, sempre. Porque
sempre é Natal na alma daquele que vive em Deus, que prefere perder
todas as outras coisas, pessoas e interesses, mas jamais perder Aquele
que é a razão da nossa existência.
Que
Nossa Senhora das Graças nos ajude com Sua materna intercessão, a não
cambalearmos de forma alguma e a mantermo-nos fiéis neste amor
incondicional a Nosso Senhor.
Homilia proferida em 25 de Dezembro de 2011, Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.
* * *
01/02/2012
Missa da Aurora: "Antes que o Sol se firme no céu, vem a aurora, Nossa Senhora, preparando a chegada do Sol de Justiça, Nosso Senhor."
06:53 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa da Aurora de Natal, celebrada no dia 25/12/2011, às 5 horas da manhã
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
O Intróito da Missa de hoje, à Aurora, diz: “Hoje
uma luz brilhará sobre nós, porque nasceu-nos o Senhor; será chamado
Admirável, Deus Príncipe da Paz, Pai dos Séculos Futuros, cujo reino não
terá fim; hoje uma luz brilhará sobre nós”. E é impossível, no
início deste dia de Natal, não voltarmos o nosso olhar para a Santíssima
Virgem Maria, que é Aurora da Redenção, da qual nasceu o Sol da
Justiça, a grande luz.
Diz um adágio: “Deus amanhece devagar”, pois Deus não tem pressa. Quantos séculos Deus “esperou” para enviar Seu Filho ao mundo! E São Paulo vai dizer: “Chegada a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher”.
Por isso, alguém disse: “Deus amanhece devagar”.
Mas, antes que haja um amanhecer, antes que o sol se firme e espalhe
seus raios e, assim, dissipe toda treva, e como necessitamos da luz
durante a noite para que possamos enxergar bem as coisas, eis que vem o
sol, e já não precisamos mais de outra luz; já não precisamos de
lâmpadas, já não precisamos de nada menor, porque o sol basta, o sol
tudo clareia, invade, mostra, o sol tudo descobre. Nosso Senhor é este
grande Sol.
Mas, antes que o Sol se firme no céu, vem a aurora, que é Nossa Senhora, preparando a chegada deste grande Sol de Justiça que é Nosso Senhor.
“Hoje uma luz brilhará sobre nós.”
Que alegria estarmos quase que em vigília, desde a Missa do Galo,
anunciando o nascimento do Menino-Deus, e estar com Ele até este
momento. Ainda há treva, ainda há escuridão, mas daqui a pouco, isso
tudo será dissipado, invadido pelos primeiros raios do Sol da Justiça.
Daí o nome desta Missa: “Missa da Aurora”, a Missa da manhã que se inicia.
Sabemos
que a Missa é o maior culto de adoração que podemos prestar a Deus,
porque na Santa Missa oferecemos à Deus Pai o seu próprio Filho imolado e
sacrificado por nós.
E, nas Missas Rorate, no auge do tempo do Advento, lembrávamos a “expectativa” de Nossa Senhora; Ela, que esperava no silêncio, entre os “ós” da admiração e da exultação e os “ais” da dor, pois Nossa Senhora sabia que Aquela criança se tornaria o Cordeiro de Deus rasgado pelos nossos pecados.
Nesta
Aurora que começa a surgir podemos também contemplar Nossa Senhora do
“Ó” e do “Ai”. Nossa Senhora que, no silêncio da madrugada do dia 25
contempla Seu Filho, o Salvador, que nos é dado. Tudo Ela contempla: o
cantar dos anjos, o modo como aqueles pastores achegaram-se à gruta fria
de Belém, a vinda dos magos com seus presentes... Nossa Senhora tudo
percebe, tudo entende e tudo guarda em seu coração. Algumas coisas serão
mistérios, diante dos quais Ela silenciar-se-á, mas também guardará
todas estas coisas no seu coração.
O Santo Evangelho desta Missa da Aurora noz diz: “Vamos até Belém, e vejamos o que lá se sucedeu, e que o Senhor nos manifestou”. Bethelem, a casa do Pão...
E aqui é Belém, porque conosco está Aquele que é o Pão descido dos
céus, o qual receberemos logo mais na Comunhão. Receberemos o Senhor,
Aquele mesmo Senhor que se encarnou no seio da Virgem, e Aquele mesmo
Senhor que nasce na noite Santa – Ele mesmo, não outro – o receberemos
não na Sua grandeza, mas no Seu rebaixamento, na Sua humilhação. Deus,
em sua infinita grandeza e majestade não pode subir mais, só pode
descer. Deus não pode subir, pois já é infinito. Então, Deus desce.
Desce até chegar a nós; Ele vem e desce ao encontro da humanidade, para
que subamos a Ele.
Acompanhemos
esta Santa Missa com toda contrição possível. Acompanhemos este santo
sacrifício, que vai além da noite santa, e nos colocará diante da cruz.
Aquela criança é Aquele que foi crucificado. Podemos contemplar Aquela
criança nos braços da mãe, como no ícone de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro. Embora criança, é Deus, é Aquele mesmo que será sacrificado, é o
Cordeiro, a matéria do Sacrifício. E Aquela criança olha para o Anjo
que está ao Seu lado, e este anjo Lhe apresenta a cruz, e os cravos: a
Sua missão. Esta criança nascida nesta noite de alegria, nesta noite de
júbilo, também é a mesma criança, é a mesma carne, é o mesmo Cordeiro
que um dia, mais tarde, será rasgado pelos nossos pecados. E só assim
entre a alegria e o sofrimento antecipado, podemos penetrar na alma da
Santíssima Virgem Maria. Como diz aquela bela música “a criança que chora e que ri” – a criança chora, mas ao mesmo tempo ri; ao mesmo tempo está alegre, ao mesmo tempo está chorando [n.d.r.: O Padre se refere à música “Convidando esta la noche”. Disponibilizamos a letra e o áudio logo abaixo, após a transcrição desta homilia]. Que aparente contradição entre os “ais” e os sorrisos, entre os “ós” (de admiração) e a cruz que, por detrás das flores, dos hosannas e do Gloria in excelsis Deo,
aparece! Longe no tempo, mas ali já percebe Aquela criança tão bela –
Deus criança – o que Lhe espera: é a cruz! Maria não olha só para a
criança. Maria olha para a “sombra” por detrás da criança, e o que Ela
vê? Vê a cruz... E por isso suas alegrias e sofrimentos.
Que
Nossa Senhora da Alegria e da Esperança, que é a Mãe do Salvador, neste
dia santo de Natal, nos dê a graça de entendermos os “ais”, mas também os “ós”,
e, sobretudo, nos dê a graça de aceitarmos os sofrimentos da nossa
vida. Esta é a parte que nos cabe com o Senhor, no Seu sofrimento, no
Seu abandono. É a nossa escolha; não podemos escolher apenas as
alegrias, mas, sobretudo os sofrimentos. Por eles estaremos cada vez
mais unidos ao Deus Menino que está de braços abertos como que abraçando
o mundo, mas, no fundo, é a cruz que Ele deseja abraçar.
Homilia proferida às 5 horas da manhã de 25 de Dezembro de 2011.
Música: "Convidando esta la noche"
Aquí de mucicas varias
Al recien nacido infante Canten tiernas alabanzas Ay que me abraso, ay Divino dueño, ay En la hermosura, ay De tus ojuelos, ay Ay como llueven, ay Ciendo luçeros, ay Rayos de gloria, ay Rayos de fuego, ay Ay que la gloria, ay Del Portaliño, ay Ya viste rayos, ay Si arroja yalos, ay Ay que su madre, ay Como en su espero, ay Mira en su lucencia, ay Sus crecimientos, ay Alegres cuando festivas Unas hermosas zagales Con novidad entonaron Juguetes por la guaracha En la guaracha, ay Le festinemos, ay Mientras el niño, ay Se rinde al sueño, ay Toquen y baylen, ay Por que tenemos, ay Fuego en la nieve, ay Nieve en el fuego, ay Pero el chicote, ay A un mismo tiempo, ay Llora y se rie, ay Que dos estremos, ay Paz a los hombres, ay Dan de los delos, ay A Dios las gracias, ay Por que callemos, ay |
Convidando está a noite
Aqui, de músicas diversas À criança recém nascida Cantem doces louvores Ai, que eu ardo, ai Divino mestre, ai Na formosura, ai De teus olhinhos, ai Ai, como que caindo, ai Cem estrelinhas, ai Raios de glória, ai Raios de fogo, ai Ai, que a glória, ai, Do portal de Belém, ai Já vemos a gélida aurora, ai Brilhando ao redor, ai Ai, que sua mãe, ai Com expectativa, ai Olha o brilho, ai Do que gerou, ai Alegres celebrando Umas formosas camponesas Entoarão novas Rimas para a guaracha (dança) Na guaracha, ai Festejemos, ai Enquanto o menino, ai Se rende ao sonho, ai Toquem e dancem, ai Porque temos, ai Fogo na neve, ai Neve no fogo, ai Mas o pequenino, ai A um mesmo tempo, ai Chora e ri, ai Que dois extremos, ai Paz aos homens, ai Vem dos céus, ai Demos graças a Deus, ai Porque passamos, ai |
* * *
27/01/2012
Missa do Galo: "É um menino, uma criança, mas é o Deus de todos os séculos, é o Deus Verdadeiro."
07:51 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do Galo, celebrada à meia-noite, de 24 para 25/12/2011.
Pe. Marcelo Tenório
Nesta
noite Santa, é celebrada a encarnação do Verbo Divino. Todos os
mistérios da vida de Nosso Senhor começam aqui nessa noite Santa de
Natal.
Deus
sempre existiu desde toda a eternidade. Ele que é único em três pessoas
distintas – Pai, Filho e Espírito Santo – É pleno, Se basta, não tem
necessidades de nada para ter e ser na Sua infinita
grandeza. De forma que, como diz São João: “Deus é Amor”, e neste Amor
estão envolvidos o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Em Deus não há
carência, pois Ele nada deseja a não ser a Ele mesmo.
Quando
desejamos algo, é porque não o possuímos. Desejar alguma coisa é sinal
de que não a temos e por isso a desejamos. Em Deus não há desejo, porque
Ele se basta. Deus não deseja nada que não seja a Ele mesmo. Nisto
consiste o grande mistério da noite de Natal. Porque Deus quis desejar o
homem, e criou o homem à sua imagem e semelhança. E, devido ao pecado
original, devido à desgraça que assolou a humanidade, devido à
humanidade ter sido definitivamente perdida por sua separação de Deus,
Deus envia o Filho, que é Deus verdadeiro, para que, tornando-se homem
como nós, igual a nós em tudo, menos no pecado, assumisse o pecado e a
maldição que caíram sobre a humanidade. Por isso que, mais tarde, São
João vai dizer: “Ecce Agnus Dei, qui tollit peccata mundi” – Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, o “cordeiro expiatório”, Aquele que, mesmo inocente, assume por nós a culpa dos pecados da humanidade inteira.
E
este é o grande mistério desta noite de luz, desta noite de glória,
desta noite de Natal: Deus que desce. É verdade. Deus não pode fazer
outra coisa a não ser descer; subir mais não pode, pois já é
infinitamente grande, então Ele desce. É o sinkatábassis, o
rebaixamento: Deus assume a natureza humana, Ele se deixa aprisionar
nessa natureza fragilizada, e se faz criança no seio da Virgem Maria,
que não é uma pessoa qualquer; muito pelo contrário, Nossa Senhora é
aquela criatura na qual Deus colocou todas as suas Graças, tendo em
vista, justamente, esta grandeza que envolveria Nossa Senhora, isto é, a
maternidade divina. É através – e por causa desta maternidade divina –
que Deus a fez mais esplendorosa que o sol, mais formosa que a lua; não
só exteriormente, mas sobretudo na alma.
Imaginemos
a alma de Nossa Senhora, que grandeza! Ela teria que receber em si o
próprio Deus, o Deus que criou o céu e a terra, o Deus que criou as
coisas visíveis e invisíveis... O Deus que a criou, agora criança
indefesa no seu ventre materno! Desde a Anunciação – 25 de março – até a
noite santa de 25 de dezembro... E, hoje, Deus desce. Deus desce do
céu, torna-se visível numa criança. E Nossa Senhora, e São José
contemplam esta criança nascida.
São João vai dizer no Prólogo: “Veio para os seus, mas os seus não O receberam”.
Sejamos
nós uma manjedoura; esteja o nosso coração pronto para este acolhimento
verdadeiro, iluminado, bem preparado, já que passamos o tempo do
Advento nesta constante busca de estarmos prontos justamente para esta
noite, a fim de que esta criança pudesse nascer em nosso coração. E se
esta criança nasce em nosso coração que abrimos, porque preparamos a
nossa alma, logo é Natal em nós. E em nós sempre será Natal se
conservarmos em nós esta Criança Divina que hoje nasce para abraçar o
mundo inteiro – urbi et orbi – com a Sua graça e com a Sua misericórdia.
Ele, que recebe o Nome de Iesus, ou de Yeshuha – Deus salva – e no Seu Nome está a Sua missão: o Salvador.
Por isso, no Evangelho, os pastores são surpreendidos pelos anjos, que
dizem: “Anuncio-vos uma grande alegria: nasceu-vos o Salvador, Cristo, o
Senhor!” E o anjo guia os pastores, que encontram o Menino Deus deitado
numa manjedoura e envolto em faixas.
Uma
noite belíssima para nós, cristãos. O gesto de Deus que “desce”, o
“rebaixamento” de Deus, nos leva e nos ensina também a “descer”, a
dobrar o joelho, a estarmos prostrados diante do Salvador que chega.
É um menino, é uma criança, mas é o Deus de todos os séculos, é o Deus Verdadeiro.
Nos
ícones antigos, sobretudo lembrando o ícone de Nossa Senhora do
Perpétuo socorro, observem: a criança sempre tem um rosto envelhecido,
uma face enrugada, uma feição de velhice. Não para mostrar decrepitude,
mas para indicar que Aquela criança é Deus. E, sendo Deus, é Eterno. E,
sendo Deus, é sábio: a sabedoria que envolve Aquela criança é a
sabedoria divina.
Acolhamos
esta criança que chega! Abramos o nosso coração para que Ela entre e
possa ser bem acolhida! Mas não nos esqueçamos, jamais, que esta criança
que deseja nascer hoje para nós, é o Deus de todos os séculos, o Deus
Verdadeiro.
Que Ele encontre o nosso coração aberto, a nossa alma límpida, iluminada, para que em nós Ele tenha pousada.
Que
não sejamos mais do grupo daqueles para os quais Ele veio, mas que O
rejeitaram, como lembra São João no Prólogo: “Veio para os seus, mas os
seus não O quiseram receber”. Nós, não! Estamos aqui porque queremos que
Ele realmente entre, tome posse de nossa alma, que realmente seja Nosso
Senhor.
Homilia proferida na Missa da Meia-Noite (Missa do Galo), de 24 para 25 de Dezembro de 2011.
* * *
23/01/2012
4º Domingo do Advento: Que nosso coração esteja preparado para acolher o Menino Deus!
11:32 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do 4º Domingo do Advento
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Estamos na última semana do Advento. Passamos por todas as fases deste tempo litúrgico; desde as Missas Rorate,
como nas Missas dos Domingos do Advento, Nosso Senhor nos fala
claramente sobre a vigilância, a necessidade de estarmos prontos,
esperando por Sua chegada.
Há
dois aspectos desta chegada do Senhor: o primeiro, pela graça – e isto
acontece mediante a recepção digna dos sacramentos e pela permanência
nessa graça; segundo, a vinda real, concreta, no último momento de nossa
vida sobre a terra.
Neste
tempo do Advento, nos santos Evangelhos, Nosso Senhor nos falou muito
sobre a vigilância, sobre a necessidade de se estar pronto. Neste último
Domingo do Advento, o santo Evangelho nos apresenta a figura de João
Batista, o qual vai clamar: “Sou a voz que clama no deserto: Preparai os
caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas.” A última voz que
escutamos neste Domingo, último do Advento, é justamente a voz de João
Batista, a nos dizer: “Preparai os caminhos do Senhor”. “Preparai”,
“Endireitai as suas veredas”.
A
Epístola que acabamos de escutar, escrita por São Paulo, nos ensina que
o que se espera de um ministro de Deus – mas também cabe a todos nós – é
que ele seja fiel.
O que se espera de um católico, de um batizado, é que ele seja fiel.
Mas, fiel a quê? Fiel a Nosso Senhor! E através da Igreja permanecemos
fiéis a Nosso Senhor.
Em
que consiste esta fidelidade a Nosso Senhor? Sobretudo em viver a vida
segundo a vontade de Deus, submeter-se a Deus. Não basta buscarmos
outros tipos de fidelidade, até certos “fideísmos”. Não adianta nada
disso se, no fundo, não praticarmos o que de fato interessa, que é a
fidelidade a Deus, que é a fidelidade à Igreja. E esta fidelidade a Deus
passa por um primeiro momento, que é a nossa conversão – endireitar os
caminhos do Senhor, preparar o caminho do Senhor, estar pronto
constantemente para a vinda do Senhor.
Não
sabemos quando será a vinda do Senhor, por isso temos que estar
preparados. Pode ser hoje ou daqui dez anos; não sabemos o dia em que
deixaremos esse mundo e não sabemos o momento em que morreremos. Mas
sabemos que Ele vem em cada Missa e que Ele se dá em cada santa
Comunhão; que Ele está presente pela graça nos Sacramentos. Ora, isto
sabemos. E, se sabemos que em cada Domingo há uma santa Missa, e que
nesta santa Missa recebemos verdadeiramente Deus em corpo, sangue, alma e
divindade, então é uma vinda já anunciada. E se sabemos que Ele se faz
presente nestas ocasiões, que Ele se dá em sacrifício, que com Ele nos
encontraremos na santa Comunhão, qual a justificativa de não estarmos
prontos para este encontro? Qual a justificativa para que não estejamos
prontos para esta vinda? Só existe uma única “justificativa”: o pouco
caso que fazemos de Deus. Brincamos com Deus! E nos dizem as Sagradas
Escrituras: “Presta atenção: com Deus não se brinca”.
E
nos acostumamos a brincar com Deus, e muitas vezes, de forma indigna,
recebemos os santos Sacramentos ou, senão de forma indigna, de uma forma
duvidosa, uma vez que não há em nós uma contrição perfeita, um desejo
na alma de romper com o pecado, a busca de se recompor dos erros de
outrora e de recomeçar concretamente.
Pois
bem! Última semana do Advento, último Domingo do Advento, daqui a
poucos dias estaremos celebrando o Natal do Senhor. Já é para estarmos
prontos, bem preparados para essa vinda do Senhor.
Nestas
alturas, com certeza já fizemos uma grande, santa e boa confissão.
Nestas alturas, com certeza, já colocamos diante de Deus toda a nossa
miséria. Nestas alturas, com certeza, o nosso coração já está límpido, qual manjedoura digna de acolher a Nosso Senhor na noite santa de Natal.
Se não estamos ainda, temos a obrigação fazê-lo. Tivemos quatro semanas
e, até agora, em nada nos preparamos? Talvez a casa esteja em ruínas.
Talvez a nossa manjedoura não seja digna do Menino-Deus, mais própria de
manjedouras para porcos, quando, na verdade, quem deve se deitar sobre
esta manjedoura é Nosso Senhor, que descerá do céu por cada um de nós.
É
extremamente necessária a nossa preparação. É extremamente necessário
levar a sério esta vinda mística, espiritual, pela graça. Através,
sobretudo, da Santa Comunhão, mas, para isto, antes, a santa, sincera e
boa confissão, que já era para termos feito. Se não a fizemos, temos que
repensar por que, na verdade, estamos na Igreja para
mudar de vida de vez, para romper de vez com o pecado ou para buscar
matérias e mais matérias para nossa condenação ao fogo do inferno? Porque
quanto mais nos aproximamos de Deus e não rompemos com o que Lhe é
antagônico; quanto mais estamos na casa de Deus, mas em nada mudamos;
quanto mais escutamos os Seus apelos e não respondemos favoravelmente;
tudo isso, todas essas questões, todo esse tempo perdido de graça será
motivo de condenação em nosso julgamento. “Dei-te tantos dias, tantas
semanas, tantos anos; dei-te tantas semanas de preparação para o tempo
do Advento, para que, chegando meu Natal, estivesses, enfim, pronto; e o
que fizeste deste tempo? Dei-te tantas e tantas graças; quais delas
aproveitaste? Pisaste nelas como os porcos fazem com as pérolas – porcos
não sabem diferenciar bolotas de pérolas”. E, muitas vezes, fazemos com
as graças de Deus o que os porcos inconscientemente podem fazer com
coisas preciosas que algum desatento tenha deixado cair próximo de onde
eles comem.
Lembremo-nos
da máxima de Santo Agostinho que diz “Tenho medo do Deus que passa”. O
Natal se aproxima. Daqui a poucos dias, Nosso Senhor estará nascendo nas
Igrejas, nos templos sagrados, misticamente na santa Missa pela
renovação do santo sacrifício. A graça de Deus é infundida em nossas
almas na santa Comunhão, mas, sobretudo, antes de tudo isso, pelo
Sacramento augusto da confissão.
Que
o Natal do Senhor seja para nós esse Natal onde verdadeiramente Cristo
nascerá no aconchego da nossa alma iluminada, no aconchego da nossa alma
preparada, no aconchego da nossa alma pronta para receber tão grande
graça, a Graça das graças, que descerá no Natal e que quer habitar em
nosso meio. Ele se faz carne para habitar entre nós; em toda Missa, é
lido do Último Evangelho: “E o verbo se fez carne, e habitou entre nós”.
Que
possamos, reconhecendo este tão grande mistério, não desperdiçar o
tempo que nos dá a misericórdia de Deus, porque este tempo que nos dá a
misericórdia de Deus para a nossa conversão um dia poderá ser para nós
violência de Deus – condenação divina sobre aqueles que, tendo tempo,
não o aproveitaram; passando pelo tempo, não o viveram dignamente como
cristãos, ou seja, aproveitando cada instante, cada segundo,, o que lhe
resta para estar cada vez mais perto de Deus e fazer do coração sempre
uma digna morada para Nosso Senhor.
Sempre
será Natal naqueles em que a graça habita, naqueles cujos corações
iluminados pela presença divina não conhecem a decrepitude de uma noite
sem luz, de uma noite mergulhada nas trevas.
Imitemos
as pessoas que, na nossa vida, deram exemplo de santidade, sobretudo os
Santos, que estão em nossos altares e que nos testemunharam esta grande
verdade de tudo rejeitar, de tudo recusar, de perder tudo para não
perder O TUDO que é Nosso Senhor, como dizia São Francisco: “Meu Deus e meu tudo”.
* * *
12/01/2012
3º Domingo do Advento: "Alegrai-vos sempre no Senhor; repito, alegrai-vos!"
07:08 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do 3º Domingo do Advento
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
A
Santa Igreja celebra hoje o Domingo da Alegria, o Domingo “Gaudete”.
Por isso, a Missa de hoje, o seu Intróito, como também a Epístola,
exortam-nos a nos alegrarmos no Senhor: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete”. “Alegrai-vos sempre no Senhor; repito: alegrai-vos”.
O Terceiro Domingo do Advento é o domingo em que a Igreja, na certeza
da vinda do Senhor pela graça do Natal, já goza antecipadamente das
alegrias da festa que se aproxima.
O
tempo do Advento, como sabemos, não é um tempo de festa; é um tempo de
penitencia, é um tempo – usando um português vulgar – de fazermos uma
retrospectiva minuciosa da nossa vida, um balanço, como se diz no
comércio. O que se faz no comércio durante o balanço? Fecham-se as
portas, joga-se tudo ao chão, tira-se tudo da gaveta, e vai-se ver o que
presta e aquilo que não presta, e que, portanto, deve ser jogado fora,
no lixo.
Assim
para nós é o tempo do Advento, que não é um tempo de festa, mas é um
tempo para pararmos e observarmos bem a nossa vida. Por quê? Porque o
Senhor se aproxima de nós, e se aproxima de nós pela graça. É claro que
naturalmente Ele já nasceu; entretanto, pelo Sacramento nós temos esta
esplêndida graça de estarmos verdadeiramente no momento de Seu
nascimento, e, neste momento, que também a nós envolverá, recebermos a
graça reservada a esta ocasião. Não é uma recordação, não é uma memória
histórica, nada disso; é uma memória no sentido teológico de estar
acontecendo naquele momento, e isso, somente pela ação do Espírito
Santo, sobretudo no santo sacrifício da Missa.
De
forma que os ritos do Advento são gradativos. Nas primeiras semanas, a
Igreja se abstém das flores dos altares e coloca, ao invés das flores,
ramos secos. Por que esta “secura”? Porque ela quer nos lembrar o
deserto, o deserto onde João estava, e onde João convidava o povo a se
aproximar para fazer penitência – sair da vida velha para a vida nova.
Na secura não há água, não há vida; por isso a Igreja coloca no tempo do
Advento, sobretudo nas Missas Rorate cæli, esta esplêndida ação do
sacerdote pelos fiéis, na qual roga a Deus que rasgue as nuvens e faça
chover sobre este deserto, sobre esta terra seca, a salvação. E este
deserto, esta terra seca e estes ramos secos colocados nos altares nada
mais são do que as nossas almas, e nosso coração que despreza as graças
que Deus constantemente nos dá. E, como lembrávamos ontem na Missa
Rorate cæli, as graças de Deus são como o orvalho que molha o deserto do
nosso coração e que nos impulsiona para Deus.
É
um grande momento de graça o tempo do Advento, onde a misericórdia de
Deus se desfaz em névoa e orvalho. Entretanto, para muitos e muitos que
não aproveitam estas graças – e, aqui, lembramos das pérolas lançadas
aos porcos, da comida, dos pães jogados aos cães - aí nos veremos como
porcos, aí nos veremos como cães, porque não são os demônios que
rejeitam a graça de Deus, somos nós! Não são os demônios que desdenham
da grandeza, da misericórdia divina, somos nós! A cada Advento, a cada
ano, continuamos secos, com os corações endurecidos; e a Igreja clama
que as nuvens orvalhem a justiça de Deus, e nós permanecemos sob estas
nuvens desarmados; recebemos este orvalho e pensamos que sabemos cuidar
muito bem dele para santificar em nós as flores da graça, mas só
“fazemos de conta”, porque na verdade atravessamos o Advento
impermeáveis até chegar o Natal. E, quando chega no Natal, ocorre uma
catástrofe, porque, em vez de o Senhor nascer no solo fértil do nosso
coração, irrigar nosso coração, nasce na podridão de uma vida velha, das
graças desprezadas.
E
esta grande misericórdia que foi para nós o tempo do Advento, no dia de
nosso juízo se transformará no grande dia de ira e vingança. Por quê?
Pelo mesmo motivo que Jerusalém foi destruída; quando nosso Senhor chora
sobre Jerusalém, Ele fala: “Jerusalém, Jerusalém quantas vezes eu quis
te reunir como a galinha reúne os seus pintinhos, e tu não quiseste!
Pois tu ficarás deserta, e destruídas as tuas ruas, porque não soubeste o
tempo em que foste visitada”.
Santo
Agostinho nos traduz outra frase: “Tenho medo do Deus que passa”. E é
verdade. Mais um Advento e continuamos secos. Por isso que, no Advento,
as flores não são colocadas nos altares, a cor roxa mostra-nos o peso da
nossa responsabilidade, de mudarmos de vida – primeiro, com uma boa e
santa confissão, rompendo definitivamente com o pecado, fazendo nosso
propósito de mudança de vida; praticando a esmola, a oração, o jejum;
redobrando as vigílias, redobrando as penitências, sempre, claro, com a
confirmação do confessor ou do diretor espiritual.
E
chega, então, o Domingo da Alegria, em que a Igreja, em vez do roxo, se
reveste da cor rósea, sendo um gozo antecipado da alegria do Natal. E,
neste dia a Igreja pára a penitência, a Igreja coloca flores cor de rosa
em seus altares para lembrar a nós: “Ele está próximo!” “Alegrai-vos,
porque a vossa salvação se aproxima”.
A
alegria é um dos frutos do Espírito Santo, e que não podemos confundir
com a euforia, porque a euforia é avassaladora, vem e passa, e, muitas
vezes ao vir, sempre deixa o rastro de destruição. O carnaval, como
festa diabólica que é, não contém alegria, porque a alegria vem de Deus,
o Espírito passa por nós, nos edifica e a Deus volta; a euforia, não, a
do carnaval, das festas pagãs, etc. Esta vem de forma avassaladora, e
deixa o quê? Destruição! Desnorteamento! E afastamento de Deus. Isso não
é alegria. A alegria vem de Deus, e deve voltar a Deus. E edifica. E
santifica. E renova. Isso é a ação de Deus.
A
alegria não é a ausência da dor. A Santíssima Virgem, aos pés da cruz,
tendo o seu coração rasgado pela dor, estava profundamente alegre,
porque a sua alegria era in Domino, como cantam o Intróito e a Epístola:
“Alegrai-vos no Senhor”. A nossa alegria só tem sentido no Senhor; se é
uma alegria que não é no Senhor, então ela é infantil, ela é imatura;
ela é sem sentido, irracional... E desta “alegria”, o mundo está cheio;
desta aparente alegria, a sociedade está cheia, se enganando, se
“alegrando” para cair na perdição.
A
grande palavra de ordem para nós é “Alegrai-vos, o Senhor se aproxima”.
João Batista já aparece no Evangelho para nos dizer: “Preparai os
caminhos do Senhor!” “Eu não sou o Cristo, não sou o Messias; eu sou
apenas a voz que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor,
endireitai as suas veredas”. Que nós correspondamos urgentemente, porque
já não há mais tempo. Já não há mais tempo para brincadeira, já não há
mais tempo para adiarmos a nossa conversão, porque Aquele que hoje age
para nós com estrondosa misericórdia, amanhã será nosso Juiz, e no Seu
Tribunal, esta grande misericórdia, estas grandes graças enviadas para
nossa salvação serão revertidas no rigor de um julgamento, do qual
ninguém escapará. Lembremos de outra parte do Evangelho que nos diz:
“Servo mal e preguiçoso! Não sabias que eu colho até onde eu não
semeei?” Ora, se há um patrão severo, que irá pedir contas até daquilo
que não deu, quanto mais daquilo que ele deu, que ele dá a cada
instante...
Neste
Domingo da Alegria, alegremo-nos. São Domingos Sávio dizia a Dom Bosco:
“Ensina-me a ser santo depressa, eu quero ser santo depressa”, e Dom
Bosco deu a São Domingos Sávio três conselhos para se chegar à
santidade; e, entre eles, um grande conselho ele deu e que serve para
nós: “Seja sempre alegre”. E esta alegria é no Senhor, porque a alegria
que não é no Senhor é bobeira, é típica de alguém que ficou na eterna
infantilidade, no esquecimento espiritual, é romantismo barato. A
alegria verdadeira é aquela em que o fiel, mesmo na dor, mesmo com o
coração despedaçado, mantém-se livremente alegre no Senhor.
Ouçamos
São Paulo, ouçamos a Igreja que nos exorta a estarmos sempre alegres,
nesta alegria que jamais passará, nesta alegria que vem de Deus, que
penetra o nosso ser e nossa alma, e, penetrando o nosso ser e a nossa
alma, eleva-nos para o Céu, eleva-nos para Deus. Quando na Missa o
sacerdote diz: “Sursum corda” – corações ao alto – estes corações ao
alto são os corações na alegria do Espírito, na alegria de Deus. Que só
esta alegria, que, para nós, é o antegozo do Céu – porque no Céu
gozaremos de uma eterna e profunda alegria – possa permanecer, mesmo no
tempo do Advento – e ela deve permanecer mesmo no tempo do Advento em
nossos corações.
Gaudete in Domino semper, como diz São Paulo e repete com muita firmeza: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete” – “Alegrai-vos, alegrai-vos, alegrai-vos, eu vos digo, eu vos repito, alegrai-vos”.
* * *
3ª Missa Rorate: Convertamo-nos, pois está próxima a Justiça de Deus!
06:51 | Postado por
Sacerdos
Homilia da terceira e última Missa Rorate de 2011, em honra à Santíssima Virgem no Advento
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Estamos, nesta noite, em nossa última Missa Rorate, em preparação à vinda de Nosso Senhor.
Na
vigília noturna, sempre são poucas as pessoas que ali ficam para
vigiar. Foi assim também na época de Nosso Senhor. Em sua suprema
angústia no Getsêmani, poucos estavam ali com Ele. Onde estavam as
multidões? Onde estavam aquelas pessoas que queriam curas e milagres?
Onde estavam aquelas pessoas que queriam favores de Nosso Senhor? Pior
ainda: onde estavam os seus? Dormindo! Enquanto os seus estavam
dormindo, Judas estavam bem desperto. No Ofício das Trevas [n.d.r.: é o Ofício de Matinas do Breviário Romano, rezado nas madrugadas da Quinta-Feira e da Sexta-Feira Santas] um dos cânticos fala para nós que, enquanto todos dormiam, Judas não; Judas permanecia desperto.
Assim
são as trevas. Enquanto os fiéis dormem, as trevas estão despertas.
Judas não dormia. Seus seguidores também não. E nós dormimos. Era para
este ambiente estar cheio de fiéis diante do altar de Deus, em vigília,
com Nossa Senhora, em contemplação a esse mistério tão grande que se
aproxima e que não levamos a sério.
A
sagrada Liturgia nos dá a graça de estarmos juntos com o Senhor nos
seus mistérios. Não se trata de uma recordação, mas de “presença”, de
uma memória que significa “tornar de novo presente”. Por isso que, nas
Santas Missas, sejam quais forem os mistérios [n.d.r.: festas, comemorações]
que se celebram, a Igreja os celebra recordando verdadeiramente, de
fato, aquele acontecimento no tempo. A 15 de agosto, na Festa da
Assunção de Maria, a Igreja canta: “Hoje, a Virgem Maria subiu aos céus de corpo e alma”,
e nós estamos ali, não fazendo uma retrospectiva histórica, mas com
Nossa Senhora, verdadeiramente no momento de sua Assunção aos céus.
E aqui estamos nessa Missa Rorate,
com Nossa Senhora, em suas noites silenciosas que antecederam o Natal
do Senhor. Neste sentido, poderíamos, usando o método de moção de afetos
de Santo Inácio, contemplar todos os sentimentos da alma e do coração
de Nossa Senhora: todas as suas expectativas, todas as suas alegrias e
exultações, todos os seus medos, inquietações diante daquilo que Ela
mesma sabia que iria acontecer.
Então, estamos findando a sequência das três Santas Missas Rorate, implorando a Deus que as nuvens chovam a Sua justiça sobre nós.
A
verdade é que somos muito ingratos com o Senhor, porque em cada
sacramento, em cada mistério, em cada Santa Missa, as nuvens se rasgam, e
caem sobre nós as graças de Deus, das mais abundantes graças. E aí está
a misericórdia de Deus, mas também está a violência do Seu julgamento.
Como disse Santo Agostinho: “Tenho medo do Deus que passa”.
Quanto mais recebemos graças necessárias, eficazes, para que, ao chegar o
Natal, sejamos homens novos, estejamos com o nosso coração pronto para
que o Menino nasça, maior será a nossa responsabilidade e a exigência de
Deus para que, ao chegar o Natal de Seu Filho, estejamos prontos.
Num
outro Evangelho, Nosso Senhor, numa de suas parábolas, cita o patrão
que repreende o servo inútil: “Servo mau e preguiçoso, tu não sabias que
eu colho aonde nem sequer semeei?” Olhem: Nosso Senhor está dizendo que
exigirá de nós até aquilo que não nos deu. Até aquilo que não nos deu,
Ele vai exigir de nós... Ora, se há um Senhor das nossas vidas que nos
exigirá tudo e até aquilo que não deu, significa que temos que cuidar
para que frutifiquemos aquilo que Ele nos deu. Porque se não entregarmos
a Ele aquilo que nos deu, que era nossa obrigação entregarmos
frutificado, sua misericórdia se transformará em violência de justiça.
Porque Ele é misericordioso que Ele é justo. E, por que Ele é justo? Porque Ele é misericordioso.
Nosso
Senhor irá cobrar de nós severamente pelo tempo desperdiçado. Como
somos tíbios! Como somos preguiçosos! Como fazemos pouco caso da Palavra
de Deus! Como não nos damos conta de que, através do rito sacramental, o
mistério se coloca à nossa frente, para que dele bebamos e, para que
através dele, recebamos as graças necessárias para nossa salvação! Por
isso somos merecedores do inferno: porque os desperdiçamos, ou pisamos
nele; somos piores que cães, ou que os porcos! Nosso Senhor já havia
dito: “Não entregueis as coisas santas aos cães, e não jogueis pérolas
aos porcos”. Muitas vezes os porcos somos nós; quantas pérolas, quantas
graças recebemos, e continuamos na mesma, somos incapazes de nos
levantar, de melhorar um pouco!
Chega mais um final do Advento e, nas próximas semanas, começarão as Antífonas Maiores, já nos dizendo que o Emanuel
está próximo, que o Senhor está chegando e a Igreja está avisando...
Aqueles empregados não sabiam quando o senhor iria chegar; mas, a nós
servos inúteis, o Senhor está nos avisando: “Falta pouco tempo!” No dia
17, começam as Antífonas Maiores, e, depois, vem o dia 24, do Nascimento
de Jesus na nossa alma. E o que espera Nosso Senhor? A podridão de
nosso pecado, da nossa incontinência, da nossa insensatez? O que é que,
na verdade, queremos, e para onde estamos indo? Para o Céu ou para o
inferno?
Mais
do inferno somos dignos à medida que mais temos consciência disso tudo,
se continuamos na mesmice de uma vida velha, de uma alma apodrecida
pelo pecado, de um eterno retorno ao pecado, se até hoje não conseguimos
caminhar linearmente, se até hoje não conseguimos crescer nas mínimas
virtudes para, a partir daí, começarmos a caminhar verdadeiramente os
passos de uma vida espiritual reta e santa que nos conduzirá aos
mistérios insondáveis de Deus, que nos aguarda já nesta vida, para que
dEle desfrutemos...
Assim
é a vontade de Deus. Assim é a ação de Deus na alma. Assim é a ação do
Espírito Santo na alma. Não nos iludamos! Não nos iludamos de que
poderemos chegar a um estágio na vida espiritual sem passarmos pelo
necessário, que é a purificação, o processo de eliminar o pecado, de
violência contra a nossa carne, de violência contra nós mesmos – e aí,
entra a penitência, a mortificação, a oração, a vigília para que esta
pedra bruta, que somos nós, seja lapidada e, então, assim comecemos a
adentrar neste mistério da vida espiritual.
Só
os tolos acreditam que qualquer pessoa, de qualquer jeito, mergulhada
no seu pecado, recebe favores místicos de Deus. Só os tolos! Só os
tolos... Só os carismáticos desavisados que podem acreditar que
alguém que há anos não se confessa, que nunca se confessou, pode entrar
em êxtase, ou ter outros merecimentos carismáticos (no bom sentido da
palavra, por ação de Deus na alma) como os Santos tiveram. Só os tolos
acreditam nisso! Então, antes de buscarmos favores de Deus, dos quais
não somos merecedores – e dEle não devemos pura e simplesmente “buscar
favores”, não estamos aqui para isso – devemos buscar a santificação da
nossa alma, coisa que não estamos fazendo.
E, nesta Missa Rorate,
vamos pedir a Nossa Senhora – Aquela que conseguiu tanta graça diante
de Deus – que consiga para nós esta imensa graça de podermos, a partir
de hoje, colocar um ponto final na nossa vida velha, e fazer com que,
nesta data de hoje, nesta noite, esta última Missa Rorate seja o
início de nosso caminhar espiritual, sempre crescente, para o alto, para
o Céu e para Deus. Há de chegar um dia em que teremos de romper com o
pecado – ou nos condenaremos, ou o fogo do inferno será a nossa agonia
para sempre – há de chegar... O que não se pode é um eterno retorno –
“não vai para cá, não volta para lá” –, abandonar a Jesus e não perceber
que as Suas graças estão caindo sobre nós. E, se essas graças são para
nós ação visível da sua misericórdia, elas mesmas se tornarão mais tarde
violência no julgamento.
Às
freiras tíbias de seu convento que já não rezavam e já se preocupavam
com sua vocação, Santa Teresa de Ávila disse: “Sejam ‘homens’!” Nós
precisaríamos muito que uma Teresa de Ávila viesse a nós, a nos dizer:
“Seja viril! Avance! Rompa! Cresça! Almeje coisas maiores, as coisas do
alto!”. Que Nossa Senhora nos ajude, a partir de hoje, a partir desta
noite, a ficarmos livres do diabo. Que as coisas velhas fiquem para trás
e possamos começar agora a nossa vida nova em Deus, com determinação,
com firmeza, nas vigílias, nas penitências, na oração profunda, na
meditação – claro que, tudo isso, com o beneplácito do diretor
espiritual ou do confessor, mas determinadamente rumando para Deus, para
o Céu, para a eternidade.
Que Nossa Senhora, no silêncio desta noite, nos dê a graça de uma conversão profunda, determinada e determinante.
Homilia proferida na 3ª Missa Rorate, em 10 de Dezembro de 2011.
* * *
03/01/2012
2º Domingo do Advento: "Preparai os caminhos do Senhor!"
13:39 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do 2º Domingo do AdventoPe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Segundo Domingo do Advento. Aproximamo-nos do Natal do Senhor.
No
Santo Evangelho de hoje, os discípulos de João vão até Jesus, e lhe
perguntam: “Tu és Aquele que esperamos?” João mandou perguntar. Claro
que São João Batista sabia que Jesus era o Cristo, que Ele era o
Messias. Mas João não responde de forma direta aos seus discípulos; São
João Batista deseja que eles mesmos possam ver e ouvir. E eles se
dirigem até Jesus: “Tu és o Messias, Aquele que esperamos?” “Ou devemos
esperar, aguardar outro?”. Nosso Senhor também não responde “Eu sou o
Messias esperado”, mas faz como João Batista, respondendo: “Dizei a João
que os cegos veem, os coxos andam, os surdos escutam e a boa nova é
anunciada aos povos.”
Quando
eles saem, Nosso Senhor já sabe que João está no cárcere e que vai
morrer. E Nosso Senhor, dirigindo-se àquela multidão que estava ali –
todos, na sua maioria, discípulos de São João Batista, ou, de uma forma
ou de outra, já tinham essas pessoas acorrido a João – pergunta a eles:
“O que fostes ver no deserto? O que vocês foram ver por lá? Um caniço?” O
que é um caniço? O caniço é uma planta que não se quebra facilmente;
ele se dobra, é leve, vai para onde o vento sopra, para onde o vento
está mais forte. “Então o que vocês foram ver no deserto? Um caniço?”
Ora, João jamais fôra um caniço, muito pelo contrário: de palavras
duras, determinadas, fortes, seguiu preparando o caminho do Senhor
destemidamente; quer agradasse, quer desagradasse, anunciava aquilo que,
da parte do Senhor, lhe tinha sido ordenado, sem respeitos humanos, sem
amores, sem paixões, buscando unicamente a Deus.
Logo,
São João Batista não era um “caniço”! “Caniços” são como essas pessoas
que não querem desagradar a ninguém, que não querem descontentar
ninguém. “Caniços” são como essas pessoas que são amigas de todo mundo,
até dos inimigos de Deus, porque não sabem constranger, não sabem dizer
não, não sabem perder! Ora, os inimigos de Deus são nossos inimigos! Os
inimigos da Igreja são nossos inimigos! Quem ama a verdade odeia a
mentira! Quem ama a Deus odeia aquilo que não leva a Deus! Quem ama a
virtude odeia o pecado! De forma que, quanto mais crescemos em Deus,
vamos ganhando amigos e inimigos. Era Aristóteles que nos dizia: “Aquele
que é amigo de todos não é amigo de ninguém.” É uma grande verdade. São
João não é um “caniço”, por isso Nosso Senhor pergunta: “O que vocês
foram ver no deserto? Um caniço? O que vocês foram ver no deserto?...”
E
o Evangelho fala: “João vivia no deserto, fazendo penitências, vestido
de lã, sem nenhum conforto, comendo qualquer coisa.” “Vocês foram ver o
que no deserto? Um homem vestindo roupas finas? Com gestos refinados?
Não! Os homens que vivem assim, vivem nos palácios.” E é próprio do
homem a virilidade, o trabalho duro, pesado; não é próprio do homem
muito conforto, muita fineza... “Vocês não foram ver um homem ‘delicado’
no deserto”, muito pelo contrário! A virilidade de João, sua
determinação, um homem dado à penitência e às vicissitudes do deserto,
sem nenhum conforto. E isso nos lembra que não cresceremos na virtude
enquanto buscarmos trajes refinados, luxo, comodismos, chegando-se ao
absurdo – e, às vezes, isso acontece – de se procurar igrejas que tenham
uma climatização muito boa, para que eu e o outro não passemos por
apuros de calor. Que absurdo! Como se no Calvário tivesse ar
condicionado! E, assim, ainda queremos entrar no Céu, sem nenhuma
penitência, sem nenhuma mortificação! Somos incapazes de fazer um jejum,
somos incapazes de renunciar, no dia a dia, às coisas que nos regalam,
por penitência, por amor a Deus! E, apesar disso, achamos que entraremos
no Reino dos Céus!
Santa
Teresa de Ávila – a “grande Teresa” – diante de sua comunidade composta
de um determinado número de irmãs Carmelitas – a maioria tíbia, pois
não rezavam mais, tudo lhes custava, tudo lhes era peso – energicamente
lhes falou: “Sejam ‘homens’! Sejam viris!” Ah, se Santa Teresa nos
dirigisse a palavra hoje, ela nos diria a mesma coisa: “Sejam ‘homens’!
Sejam determinados, firmes espiritualmente”. Quem muito quer o cômodo,
quem muito quer sombra, quem muito quer conforto, jamais galgará a
santidade.
Então
o que fomos ver no deserto? Não fomos ver um caniço, porque ele
[n.d.r.: São João Batista] não é um caniço. Não fomos ver uma pessoa
delicada, porque ele não é um delicado. “Então, o que vocês foram ver no
deserto?” E Nosso Senhor faz aquele belíssimo louvor a João Batista,
que ninguém outrora tinha feito: “Eu vos digo, ele é mais que um
profeta: João é o mensageiro do Senhor que veio anunciar: ‘Preparai os
seus caminhos’ ”. João Batista, com sua simplicidade, com sua rudeza,
virilidade, determinação e violência, é comparado por Nosso Senhor a um
profeta: “Ele é mais que um profeta, é o mensageiro do Senhor”.
Que
neste segundo Domingo do Advento, São João Batista interceda por nós,
para que possamos, como já dizia um amigo, “fazer das nossas almas,
espadas”. E que esta espada possa cortar aquilo que, na nossa vida, está
nos levando para o inferno. Que tenhamos coragem de eliminar o que é
inútil, de tirar o mal pela raiz; com violência, se preciso for, pois é
melhor extrairmos o câncer com violência para dele ficarmos livres do
que ficarmos na tranqüilidade, até que o câncer invada toda a nossa
alma, até perdermos tudo, até perdermos Deus.
Que
São João Batista nos dê esta graça de, continuando o Advento, chegar à
noite de Natal determinados; não caniços, mas rochas firmes; não pessoas
dadas ao luxo ou ao comodismo, mas homens determinados por Deus, homens
que sabem aonde querem chegar, homens que sabem o que querem, tal como
dizia Santa Teresinha – que de meiga não tinha nada: “Quero o amor e
nada menos; esse amor é Deus, que é violento, que é terrível em excesso
de suavidade.”
* * *
03/01/2012
2ª Missa Rorate: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!”
13:27 | Postado por
Sacerdos
Homilia da segunda Missa Rorate em honra à Santíssima Virgem no Advento
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
A
Igreja celebra hoje a Missa Rorate, a Missa Angélica, em cujo Evangelho
o Anjo se dirige a Maria nestes termos: “Ave, cheia de graça.” Nossa
Senhora é cheia de graça. Se Ela é cheia de graça, então Ela não é
carente da graça, e, sim, toda envolvida na graça, e nós sabemos que a
Graça é Deus. Neste Evangelho vemos a grandeza da alma de Nossa Senhora,
por mérito de Nosso Senhor, pela Sua encarnação que aconteceria logo
depois. E Deus, onisciente, sabendo que a Virgem daria o “sim”, na sua
concepção a fez pura, santa, imaculada. Por isso, o Anjo pôde dizer:
“Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo.” A Virgem se perturba, não
entende o sentido daquela saudação. E o Anjo ajunta: “Eis que conceberás
e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus” (o Emanuel – Deus
conosco).
“Eis
que conceberás.” “Como acontecerá isso se não conheço homem?” Ora,
Nossa Senhora estava neste momento noiva de José. Desposados,
naturalmente teriam filhos logo após o casamento. Como Ela responde ao
Anjo com esta interrogação, embora estivesse noiva de José? É porque
havia em José e Maria o desejo de serem totalmente de Deus. Nossa
Senhora se entrega, assim, ao nosso Deus, assim também como São José.
E
o Anjo a tranquiliza: “O Espírito Santo descerá sobre ti, a força do
Altíssimo te envolverá com a sua sombra.” Como vemos no Antigo
Testamento, o Espírito Santo muitas vezes é relacionado à figura de uma
sombra, uma nuvem. Claro, o Espírito Santo não é substancialmente uma
nuvem, é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, mas é figurado sob a
aparência de uma nuvem; e esta nuvem envolve a Santíssima Virgem.
“O
Espírito Santo descerá sobre ti, a força do Altíssimo te envolverá com a
sua sombra.” No entanto, esta sombra não significa escuridão. Muito
pelo contrário, significa a força de Deus sobre Maria, que se rasgará
como uma “nuvem” de água e, ao rasgar-se, a “nuvem” faz descer toda água
nela contida – ou seja, neste momento o Espírito Santo desce sobre
Nossa Senhora.
São
Luís Grignon de Montfort nos ensina que o Espírito Santo, que era
“estéril” em Deus, desde todos os séculos, tornou-se fecundo no seio de
Nossa Senhora, e, ali, naquele instante, ocorre a Anunciação e Ela se
torna cheia da graça, “grávida”, de Deus. Aquele Deus do Céu e da terra,
o El Shaddai [n.d.r.: expressão hebraica que quer dizer “Senhor dos
Exércitos] agora está sendo formado no seio da Virgem Santíssima, sendo
gerado, assumindo a nossa humanidade, tal como naquele belíssimo Ofício
de Nossa Senhora, tão cantado pelo povo simples: “Para que o homem suba
às sumas alturas, desce Deus do Céu para as criaturas.”
A
Missa Rorate é também conhecida como a Missa Dourada, porque é rezada
entre o crepitar das velas (com suas chamas de cor dourada) e a
escuridão da noite. A noite é o espaço do demônio, mas também é o espaço
da manifestação de Deus. Lembremo-nos que, de noite, Jacó dormia quando
teve a visão da escada, daqueles anjos que subiam e desciam.
Lembremo-nos, também, que, no silêncio da noite, só a noite viu Cristo
no sepulcro; só a noite presenciou a sua Ressurreição. A noite, para
nós, cristãos católicos, é tempo de salvação. É a seara do demônio – o
demônio age na escuridão da noite – mas para nós, filhos de Deus, a
noite significa “a grande esperança”, porque, é na noite, envolta em
trevas, que surgem os candeeiros (as graças de Deus, os santos, os
mártires) que iluminam a escuridão e incendeiam o mundo inteiro.
A
Missa Rorate nos lembra que o Advento é como o deserto, como esta noite
com poucas luzes. Por isso, não é tempo de festa, mas é um tempo em que
a Igreja promove a oração, a penitência. Sobretudo as velas e o roxo do
Advento querem nos lembrar isso: a penitência, a oração redobrada, a
vigilância. No Evangelho, sobretudo segundo São Mateus, Nosso Senhor vai
insistir muito na vigilância: “Vigiai e orai.” Mostra-se esta
vigilância no exemplo da parábola das virgens loucas e das virgens
prudentes; o patrão que viaja para o estrangeiro, mas que volta
inesperadamente para acertar as contas com seus empregados; e em tantas
outras parábolas que Nosso Senhor nos fala para que nós possamos
apressar a nossa conversão.
A
noite esconde aquilo que, diante do sol, ficaria bem claro para nós.
Nossa Senhora é considerada a “Aurora da Redenção”: antes de nascer o
Sol da Justiça, que é Nosso Senhor, vem a Virgem Maria, toda
resplandecente, quase mais do que o sol, como nos ensina São Luiz de
Montfort, “brilhante como o sol, formosa como a lua”. Esta é a nossa
Mãe, Maria Santíssima: embora na escuridão, na noite que envolvia a
terra após o pecado original, Deus, quando disse à serpente: “Porei
inimizade entre ti e a mulher”, naquele instante olhava milênios à
frente, e vislumbrava a figura santíssima, resplandecente de beleza que é
a Virgem Maria.
Por
isso, nestas santas Missas que são celebradas antes da chegada do
Emanuel, estamos com Nossa Senhora. O Natal não está distante. Após a
Anunciação, Ela fica como que espantada diante de tanta grandeza.
Quantas noites, silêncio, expectativas, interrogações, orações, e
vigílias Nossa Senhora não teria feito antes de chegar o dia do Natal!
Se nós, quando estamos e quando vivemos na graça de Deus, buscamos cada
vez mais este Deus com orações redobradas e vigílias noturnas como os
Santos fizeram e nos dão exemplo, quanto mais Nossa Senhora!
Esta
Missa Dourada, a Missa dos Anjos, nos coloca ao lado de Nossa Senhora,
no silêncio, na expectativa misteriosa, no mistério sagrado da noite em
que Deus se encarnou como homem no Seio Virginal de Maria Santíssima,
Virgem e Mãe, para que, chegando a noite santa de Natal, possamos, com
Ela e com os Anjos, cantar o Glória – o Glória de exultação, o Glória de
alegria – não porque estamos cumprindo apenas rituais, mas porque – e
acima disso – ao chegarmos ao dia santo de Natal, já estejamos, então,
preparados: o que era treva em nossa alma tenha sido varrido, de nós as
trevas tenham sido jogadas fora e, pela graça, por uma conversão
constante e por uma decisão de vida nova, assim nos assemelhemos àqueles
pastores e até aos anjos que, na noite, cantavam os mais dignos e
altíssimos louvores a Deus.
Continuando
este Sacrifício da Santa Missa, unamo-nos a Nossa Senhora da
Anunciação, que está conosco, e, diante de todos os anjos que estão
aqui, sobretudo o Anjo Gabriel, o anjo da Virgem Maria, todos os Santos –
sobretudo o Padre Pio, em cujo altar é celebrada esta Missa – nos
ajudem, rezem, intercedam por nós, para que, atravessando a noite da
escuridão, possamos rapidamente, sem demora, contemplar o Sol da
Justiça, que, a cada dia, a cada instante, está mais próximo – cada vez
mais próximo! – de nós, da nossa alma e da nossa vida.
Homilia proferida em 03 de Dezembro de 2011.
* * *
28/12/2011
1º Domingo do Advento: "A necessidade da vigilância"
07:24 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do 1º Domingo do Advento
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
A
santa Igreja, desde ontem nas primeiras Vésperas, entrou no tempo do
Advento e, assim, no ano novo eclesiástico. Ontem às 21 horas,
celebrava-se a Missa Rorate.
Nesta Missa, apenas com a luz das velas, contemplávamos a grandeza, a
magnificência de Nossa Senhora, e contemplávamos os dois extremos desse
mistério: o “Ó” da Virgem, de abnegação, de espanto, como canta a
antífona mariana, “Tu, que geraste espantada Aquele que te gerou”, a
exultação de Nossa Senhora diante desse grande mistério – Deus dentro
dela, sendo gerado e formado, homem como nós; e, no outro extremo o “Ai”
da Virgem, pois Ela sabia muito bem que aquele filho que estava se
formando nEla seria mais tarde imolado como o cordeiro que tira o pecado
do mundo. Nossa Senhora do “Ó” e Nossa Senhora do “Ai”.
E,
hoje, neste Primeiro Domingo do Advento, nós contemplamos essa grande
realidade: o Senhor está próximo. Desde os primeiros momentos da Igreja,
quer seja por São Paulo, quer seja por São Pedro, ou por demais
escritores sagrados, era dito: “O Senhor está próximo, convertei-vos.”
Desde João Batista na preparação, dos caminhos do Senhor, que iremos ler
durante o Advento: “(...) preparai os caminhos do Senhor”, até São
Pedro, que vai nos dizer que Ele está tardando não porque se esqueceu de
nós, mas porque é misericordioso e está aguardando a nossa adesão, a
nossa conversão.
O
Santo Evangelho de hoje fala justamente sobre isso. A necessidade da
vigilância. “Passarão céu e terra, mas minha palavra não passará”; “Não
passará esta geração até que se cumpra a vinda gloriosa do Filho de
Deus.” Aqui, é importante entender: as gerações passaram, não era
daquela geração - à época de Jesus - que Nosso Senhor estava falando,
mas da geração da Mulher. “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e a descendência dela.” Quem é da geração da Mulher?
Todos os batizados de Cristo.
Santo
Agostinho vai nos lembrar que, se Cristo, a cabeça, nasce do seio
santíssimo, imaculado, de Nossa Senhora, todos os membros desta Igreja
têm que nascer obrigatoriamente de Maria. De forma que, aqueles que
rejeitam Maria, aqueles que negam serem seus filhos, aqueles que se
negam a ser desta geração, aqueles que não se entendem gestados no seio
imaculado, são “monstros” na ordem da graça, porque a cabeça não pode
nascer de um lado e os membros de outras partes, de outros lugares. Ou
os membros nascem do mesmo local de onde surge a cabeça da Igreja, ou
não pertencem à Igreja – não são seus membros, são qualquer coisa,
qualquer deformação.
No
Santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor nos fala de Sua volta gloriosa.
Quando menos esperarem, aparecerão os trovões e relâmpagos, os
acontecimentos cósmicos, a terra será abalada, e o Filho do homem
descerá. Para quê? Para o julgamento! É o Juízo Universal, a
glorificação do Pai no Filho e do Filho no Pai. O Filho devolverá ao Pai
o mundo, e a humanidade glorificá-lo-á, e dar-se-á a última palavra do
Filho na história da humanidade. Veremos até onde o nosso pecado pessoal
manchou a humanidade e levou outros a pecarem. Veremos, também, até
onde as nossas virtudes, os nossos atos de bondade, fizeram crescer o
reino de Deus, a nossa colaboração na história. Tudo veremos nesta vinda
do Filho do Homem, de forma que a grande palavra no Tempo do Advento é vigilância, como se fala justamente na Epístola que acabamos de escutar.
Hoje
estamos muito mais próximos da eternidade do que ontem. E não estamos
nos reportando à vinda gloriosa do Senhor, que pode ser hoje, amanhã,
não sabemos. Ninguém sabe quando será a consumação dos séculos e da
história, mas de uma coisa sabemos: estamos nos aproximando dela. E a
gravidade de nos aproximarmos da eternidade é muito grande. Porque, no
momento da nossa morte, estaremos plenos naquilo que fomos durante a
vida nesta terra; e partiremos para a eternidade da forma como vivemos e
deixamos este mundo. Não haverá mais mudança, a eternidade não nos
propicia mudar.
Ora,
o homem deve obedecer à lei natural e divina, de forma que, na
eternidade, já não há como mudar o seu ser e nem o seu agir. Estará
“pleno” para sempre, ou seja: quem parte deste mundo cheio do seu
orgulho, cheio de si, altivo, estará na eternidade orgulhoso,
eternamente. Aqueles que buscam viver na simplicidade, crescendo no
desejo ardente de Deus, partirão para a eternidade cheios do desejo de
Deus. Por isso Nosso Senhor diz em muitas parábolas na Sagrada
Escritura, no Novo Testamento: “Estai preparados.” E nos falou sobre as
virgens prudentes e as virgens loucas: para estas a porta fechou,
ninguém entrará mais. E nos falou do patrão que foi para o estrangeiro e
deixou seus empregados, mas que vai voltar quando eles menos esperarem.
E nos falou do ladrão: se soubéssemos quando este viria arrombar a
nossa casa, estaríamos vigilantes. O Senhor nos falou de muitas formas e
de muitas maneiras para que não brinquemos, mas que estejamos sempre
preparados. “Morrerá bem aquele que viver bem”, incita a Imitação de
Cristo [n.d.r.: importante obra de espiritualidade escrita pelo Pe. De Kempis].
E, também: “Aquele que deixa para se converter amanhã jamais se
converterá.” Aquele que deixa para mudar de vida e buscar a Deus amanhã,
jamais mudará, jamais buscará a Deus. Morrerá no seu pecado. No seu
pecado encontrará o seu fim.
Tal
qual aquela história, já conhecida nossa, de dois oficiais franceses
recém egressos da Academia Militar de Saint-Cyr, e contaminados com a
praga da Revolução Francesa. Entram numa igreja, encarando-a mais como
uma obra de arte, e veem, próximo ao confessionário, um jovem sacerdote.
Um oficial diz para o outro:
– Se você tiver a coragem de se confessar com aquele padre e debochar da fé, eu te presenteio com um jantar.
E o outro, que não tinha temor nenhum a Deus, quis entrar neste jogo, e foi até ao confessionário.
O
jovem padre imediatamente entrou para atender àquela confissão; e o
militar, como tinha prometido ao amigo, começou, ajoelhado no
confessionário, a debochar da fé católica e dos Sacramentos. O sacerdote
– que, embora jovem, era cheio de sabedoria – percebeu que se tratava
de um oficial, e perguntou:
– Você é oficial?
– Sim, sou subtenente.
– Que bom que você é um subtenente e defende a Pátria. Mas, você não pretende subir na carreira militar?
–
Sim. – E o jovem oficial vai dizer como gostaria de subir na carreira
militar, desde tenente até coronel. Ao que o padre perguntou:
– E o que pretende depois?
– Ah, pretendo me casar e ter filhos.
–
Mas que bom que você pretende se casar e ter filhos. – E o padre
começou a insistir: – E depois que você conseguir tudo isso? Não pensa
em algo maior? Ei-lo coronel, com quarenta e dois anos. E depois?
– Depois? Chegarei a general.
– Ótimo. E depois que você conseguir ser general, o que você pretende fazer da vida? E depois?...
O jovem oficial foi ficando intrigado, foi percebendo que não havia mais um depois:
– Depois? Depois? Não sei o que virá depois...
E o sacerdote disse:
–
Você já não sabe me dizer mais do depois, mais eu sei. Eu sei te dizer o
que acontecerá depois: você morrerá; e, se continuar fazendo o que
fazeis, diante de um supremo Juiz será condenado ao inferno, e lá não
haverá mais depois, haverá somente o eterno presente.
O
jovem padre, por uma questão de honra, ainda exigiu do subtenente uma
reparação por ter zombado daquele. No que este não conseguiu fazê-la
integralmente, procurou depois o mesmo sacerdote para se confessar, e,
em meio a lágrimas (mas também interiormente alegre), recebeu a
absolvição. E aquele jovem oficial se converteu com as palavras desse
padre.
Nós
disputamos muita coisa. Padre Pio dizia: “Há três coisas inúteis nesta
vida: dar banho em burro, acrescentar água ao mar, e pregar para
padres.” Mas, para leigos e fiéis já acostumados na sua religiosidade,
também se enquadra o terceiro item.
Escutamos
muito, lemos coisas boas, mas, na maioria das vezes, andamos em
círculos. Não mudamos, romantizamos, achamos o belo em tudo, até na
Santa Missa. Mas não nos convertemos verdadeiramente, não mudamos de
vida verdadeiramente e fazemos a nossa religião, e fazemos a fé
católica, e fazemos a Sagrada Liturgia um sonho romântico da vida
espiritual.
Cuidemo-nos!
O Espírito sopra no deserto, escutemos o que Ele tem a nos dizer,
porque o nosso depois pode não ser tão longo assim. E, terminando o
depois, haverá apenas um eterno presente. Temos sempre a ideia de que
não morreremos, de que depois de nós virá o julgamento e seremos como
que arrebatados. “Todos morrem – o da esquerda e o da direita – mas
“eu”, que estou no centro, não morrerei jamais.” Muitos pensaram assim e
encontraram de forma inesperada o Filho do Homem, não mais como um
pastor misericordioso quando agia no tempo, mas como supremo Juiz,
aquele que tem o nosso livro em Sua mão, e de nós nada Lhe é
desconhecido. Temos planos de vida? Queremos fazer isso ou aquilo?
Queremos viajar para aqui ou para acolá? Sonhamos com um emprego melhor?
Queremos tal ou tal situação? “E depois?” E depois? E depois?...
* * *
14/12/2011
1ª Missa Rorate: "Tu que geraste admirada Aquele que te gerou."
12:27 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa Rorate em honra à Nossa Senhora no Advento
Padre Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Esta Santa Missa, tão particular para nós – a Missa Rorate cæli – surgiu
no século XV com o intuito de incentivar os fiéis a uma contemplação
mais profunda do mistério da encarnação do Verbo; e, neste mistério da
encarnação do Verbo, está a Santíssima Virgem Maria.
É
comum que, quando olhamos para o céu depois de um grande tempo de calor
e seca, nos alegremos ao vislumbrarmos as nuvens pesadas, como que se
elas estivessem “grávidas”. A terra, a vegetação, os rios, enfim, tudo o
que possui vida, deseja as águas, sobretudo nos lugares desérticos. E é
comum que pessoas de fé peçam a Deus a graça de que estas nuvens “sejam
rasgadas” e delas desça a chuva, a água que gerará a bonança.
Assim,
podemos dizer que sobre Nossa Senhora pairou uma “nuvem” vinda dos
Céus, isto é, o próprio Espírito Santo. O Espírito Santo, no dizer dos
místicos, que era “mistério da Igreja” – não gerava, embora fosse a
própria vida – quis ser fecundo no seio puríssimo da Imaculada. E,
assim, no dia 25 de março [n.d.r.: nesta data, comemora-se a Anunciação do Anjo a Nossa Senhora],
o Espírito Santo, como nuvem que se rasga durante a chuva, desce sobre a
Virgem; e, sobre Ela, desce a “chuva” abundante da grande graça, entre
tantas graças já infundidas nEla, e que, diante do Anjo Gabriel
resplandeciam, nenhuma delas era, de longe, a “Graça das graças”, ou
seja, o próprio Senhor. E esta “Graça das graças”, que é o próprio
Senhor, desce a 25 de março no seio puríssimo de Nossa Senhora. Então,
deste dia até às vésperas do nascimento de Jesus, Nossa Senhora fica
como que espantada, admirada: Ela, que contempla o céu e a terra e, por
esta contemplação da natureza, percebe a grandeza do Criador, a grandeza
de Deus, ao mesmo tempo tem a certeza do que este Deus grande, tão
excelso, tão imensurável, se torna pequeno – pequeno entre os pequenos
no seio puríssimo desta Virgem. Por este motivo a Antífona Angélica do
Advento vai nos dizer:
“Tu que geraste espantada, admirada, Aquele que te gerou.”
É com este espanto, com esta admiração, com este silêncio de “Nossa Senhora do Ó”, que nós, nesta noite na Missa Rorate,
também nos deparamos. O silêncio, as luzes parcas querem simbolizar
que, mesmo nas trevas, a humanidade não estava perdida, porque Deus
preparava o momento no qual viria, resplandeceria, o Sol da Justiça,
Cristo Senhor Nosso.
Por
isso a Virgem Maria é, com toda certeza Aurora da Redenção, como assim é
reconhecida pelos Papas: antes de nascer o Sol da justiça, veio a nós,
do meio de nós, do gênero humano, a Virgem Santíssima, glorificada já na
terra tendo em vista a Graça das graças, Cristo Deus, que se faria
criança em seu seio.
Que Nossa Senhora esteja conosco e nos dê a “Graça das graças”, entre tantas graças que já recebemos, entre tantas graças atuais, extraordinárias, santificantes, possamos manter-nos na Graça das graças, que é o Menino Deus, que chegará no santo Natal, a cada dia mais perto, a cada dia se aproximando de nós, a cada dia querendo permanecer definitivamente na nossa vida, na nossa alma, no nosso coração.
Por isso, hoje a Igreja celebra a Missa Rorate cæli,
também chamada de “Missa Angélica” porque nesta Missa é proclamado o
Evangelho da Anunciação: o enviado de Deus, o Arcanjo Gabriel, diante da
Virgem, saúda: “Ave, cheia de graça!”, pois Ela é uma Virgem diferente,
Ela não está carente de graça, Ela não tem um pouco de graça, Ela é
cheia de graça, e a graça é Deus. “O Senhor está contigo.” “Eis que
conceberás.”
A
nuvem do Espírito Santo que pairava sobre a Virgem, a faz “grávida de
Deus”. O mistério profundo do amor de Deus pela humanidade a elege Mãe
não só de Cristo Deus, mas Mãe da Cabeça deste Corpo Místico de Cristo
que é, como dizia Pio XII, a Igreja. E, se a Cabeça da Igreja é gerada
do ventre santíssimo de Maria, os demais membros têm por obrigação
divina (e de graça) também nascer deste ventre santíssimo. Dizia Santo
Agostinho contra os hereges: “É inconcebível que a cabeça nasça da
Virgem e os membros apareçam de outros. Isso seria uma monstruosidade –
afirma ele – na linha da Graça. Se a cabeça da Igreja nasce da Virgem,
os membros têm a obrigação de também nascerem de Maria, de seu ventre
santo, nesta gestação maternal, mística, e renderem este amor filial por
Nossa Senhora.
A
Missa Angélica, a Missa dos Anjos, é também a “Missa Dourada”, a Missa
das luzes. Parcas luzes... Parcas luzes, porque essas pequenas luzes
desaparecerão diante dAquele que é o próprio Sol da Justiça. No silêncio
e na escuridão desta noite, as poucas luzes das velas acesas também nos
mostram Maria no silêncio de tantas noites em sua vida que antecederam o
nascimento de Jesus, em que na contemplação do mistério, Maria, sem
tudo entender, guardava tudo no coração. Quantas noites! Talvez muitas
delas naquela graciosa e dolorosa expectativa da chegada do Salvador.
Ela conhecia bem o que esperava esta criança, e, ao mesmo tempo que
havia em seu coração de mãe o desejo de protegê-lo e o desejo dos
cuidados maternos, havia a presteza maternal que, de certa forma, pela
Anunciação e pelo “sim” contemplava (e já estava) em suas entranhas o
Amor para com todos [n.d.r.: ou seja, o próprio Jesus no ventre de Nossa
Senhora]. Maria é a primeira a contemplar não só o presépio, a criança
que nasce, mas também a cruz escondida, o dardo envenenado (como que por
trás das palhas) do dia do triunfo do Domingo de Ramos, prefigurados
naquelas palhas verdes da estrebaria na qual estava acomodado o Menino
Deus.
Que
esta festa de Nossa Senhora, nesta Missa Rorate possa nos impulsionar
para três coisas: primeiro, para a contemplação desse grande mistério da
Encarnação, no qual está inserida Nossa Senhora; segundo, para a
contemplação do amor de Deus que, imensamente misericordioso para
conosco, fez o Seu Filho descer para que nós pudéssemos chegar até Ele,
para que nós pudéssemos subir até Ele; e, terceiro, para a conversão
imediata do nosso coração.
Diante
de um amor tão grande temos apenas duas ações, duas respostas: a
conversão imediata e o silêncio profundo diante deste grande mistério.
Que
Nossa Senhora do Ó possa, intercedendo por nós, alcançar a graça da
nossa perseverança, da nossa mudança de vida, para fazermos deste
Advento o nosso deserto, no qual estaremos com Deus contemplando este
glorioso mistério que vai unir Nossa Senhora a dois extremos: o “ó” e o
“ai”. O “ó” da contemplação festiva, acompanhado dos sinos da noite de
Natal, e o “ai” da escuridão, do abandono naquela Sexta-Feira Santa. Os
dois extremos, e entre os dois extremos está Deus, a cruz. Entre os dois
extremos devemos também estar, cada um de nós, contemplando um lado e o
outro, vivendo um lado e o outro, com Nossa Senhora do Ó olhando e
adorando a criança que chega, e com Nossa Senhora do Ai contemplando a
cruz, o sangue, o abandono, o sofrimento de Nosso Senhor em meio às
trevas que ficaram por sobre toda a terra neste momento.
Que Nossa Senhora esteja conosco e nos dê a “Graça das graças”, entre tantas graças que já recebemos, entre tantas graças atuais, extraordinárias, santificantes, possamos manter-nos na Graça das graças, que é o Menino Deus, que chegará no santo Natal, a cada dia mais perto, a cada dia se aproximando de nós, a cada dia querendo permanecer definitivamente na nossa vida, na nossa alma, no nosso coração.
Homilia proferida em 26 de Novembro de 2011.
* * *
06/12/2011
"... haverá, então, uma grande tribulação, tal como não houve desde o princípio do mundo, nem voltará a haver!"
14:58 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do Último Domingo Após Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
No
santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor fala do fim último dos homens: a
vinda gloriosa dEle mesmo sobre a terra, que é dogma de fé. Quando isto
se dará, nós não sabemos. Sabemos que, como disse o anjo na Ascensão, da
mesma forma que Cristo subiu aos Céus, dessa mesma maneira Ele voltará.
Mas Ele nos previne: “Ficai atentos: falsos profetas aparecerão, falsos
messias aparecerão e farão grandes milagres, grandes portentos; não
acrediteis neles! Pois serão capazes de arrastar até mesmo os eleitos.
Todo olho O verá, como um raio que sai do oriente e se lança no
ocidente; assim será a vinda do Filho do Homem. Portanto, se vos
disserem que o Senhor está aqui ou acolá, não acrediteis... Se vos dizem
que o Senhor está no deserto, não saiais... Porque o Senhor virá como
Ele subiu, e, do extremo ao outro, do oriente ao ocidente, todos O verão
descer das nuvens com poder e glória. Mas, antes que isso aconteça,
ocorrerá a grande desolação, e os sinais aparecerão.” Nosso Senhor nos
lembra do profeta Daniel: “Quando virdes instalado no lugar santo aquela
trágica abominação profetizada por Daniel, então quem se encontrar na
Judéia, fuja para as montanhas; quem estiver no terraço, não desça para
tomar parte em qualquer coisa. Esta abominação se sentará na casa de
Deus”.
É
evidente que essa sagrada leitura deveria ser mais meditada, refletida
teologicamente... Mas, em suma, a abominação é sempre o inimigo de Deus;
o demônio é o grande inimigo de Deus, já derrotado, já condenado; já
foi anunciada a sua derrota pela Mulher, a Mulher que esmagará a cabeça
da serpente. Quem é esta Mulher? A Virgem Santíssima. Então, há uma luta
descrita desde o Gênesis, que se concluirá conforme escrito em
Apocalipse 12, sobre o grande sinal no céu de que fala João: uma mulher
revestida de sol, tendo a lua debaixo de seus pés e na cabeça doze
estrelas. É o triunfo da Imaculada e, com Ela, o triunfo da Igreja.
Ora,
que abominação é esta que entra na casa de Deus? É o modernismo! O
modernismo nascido antes da Revolução Francesa, com os seus três
pilares, com as suas três bandeiras: liberdade, igualdade e
fraternidade.
Liberdade
de Deus, liberdade de tudo que aprisiona o homem, sobretudo o Dogma,
sobretudo a Fé. Essa falsa liberdade ensina que o homem não precisa
estar preso ao Dogma, não precisa estar preso à Fé: o homem deve
acreditar que está livre para acreditar no que quiser. Se para ele Deus é
uma ideia filosófica, ali está “Deus”, porque para ele essa é a
verdade. É o relativismo, que mina a Fé e faz do homem deus. É o
antropoteísmo, instituído pela liberdade de consciência, pela liberdade
de pensamento, pela liberdade de ação, como se o homem fosse livre para
se opor a Deus, para se opor à verdade objetiva. E nós sabemos que não: a
verdadeira liberdade é orientar-se para o bem que, na sua última
análise e na sua objetividade, é Deus. Então o homem não é livre para
não querer Deus, porque ele foi criado por Deus e para Deus.
Igualdade: a
ideia de que todos são iguais: de que o homem é igual à mulher; de que
não há mais distinção de classes, quando na verdade Deus criou o mundo e
toda a sua criação na desigualdade. Colocou o homem acima dos demais
seres criados, com inteligência e vontade. Então,
não há igualdade na criação, muito pelo contrário: é na desigualdade que
se cria a harmonia, harmonia divina. O homem não é igual à mulher,
jamais... E a grande catástrofe, a grande mentira do mundo de hoje, é
fazer o homem igual à mulher, e a mulher igual ao homem, em todos os
aspectos, destruindo por dentro a família.
Fraternidade.
Fraternidade que quer colocar todos os homens, todas as crenças, no
mesmo patamar. De forma que aquele que acredita que uma lesma foi alguém
no passado, essa lesma seria uma reencarnação de determinadas pessoas,
então esta “verdade”, ou esta “inspiração religiosa”, é colocada em pé
de igualdade com a fé católica, fundada, revelada e pregada por Nosso
Senhor, por nosso Deus... De forma alguma!
Hoje,
estas três bandeiras da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e
fraternidade – entram em cheio nas nossas mentes, muitas vezes das
nossas igrejas, bem como o pensamento relativista que coloca a fé como
“aspiração”, como “um sentimento que está no coração do homem” como se
fosse algo extremamente subjetivo, de forma que não se faz necessário
ser católico, não se faz necessário aderir aos sacramentos, de forma
alguma; basta ter um sentimento harmonioso – “harmonizar-se com o cosmo,
com a natureza, com os seres”...
Esta
abominação que se instala na casa de Deus é o Positivismo. O que é o
Positivismo? É uma heresia – já condenada por papas anteriores – que
quer nos ensinar que aquilo que era do passado já não deve ser mais
repetido hoje, que a Igreja tem que se atualizar, a Igreja tem que
acompanhar o tempo; a Igreja não pode mais pregar como anteriormente
como anteriormente; a Igreja já não pode mais falar da
condenação ao inferno; a Igreja já não pode falar de nada que venha a
constranger as consciências, porque, afinal de contas, o “Senhor Homem”
não pode ser constrangido. É o culto do homem, que se instalou, em
várias situações atuais, dentro da nossa Igreja. O homem não pode ser
constrangido, por isso tudo deve estar a favor do homem.
Muitas
vezes até a sagrada Liturgia é colocada à mercê do homem; não é mais
Deus que diz como quer ser cultuado, adorado, mas é o homem que dita as
normas de como Deus deve ser adorado, louvado e reverenciado... Quantas
vezes o Santo Padre [n.d.r.: o padre alude aqui ao papa Bento XVI] se
pronunciou em relação às celebrações litúrgicas, sobretudo a celebração
da santa Missa. João Paulo II também, com o documento “Igreja da
Eucaristia” (a Encíclica Ecclesia de Eucharistia). Bento
XVI tem insistido em documentos sobre o centro da sagrada Liturgia, que é
Deus! O centro da sagrada liturgia não é o homem, a Missa não é para o
homem! “Ah, mas eu não gosto da Missa por que a Missa é assim...” Mas
você não tem que gostar ou não gostar! A Missa é o culto maior para
Deus! A Missa não é para você se sentir bem: “Eu não vou à Missa porque
não me sinto bem, não saio bem, não saio leve, não saio relaxado...” A
Missa não é terapia de grupo, isso se dá noutro lugar! A Missa é o
sacrifício de Cristo renovado em nossos altares, o mesmo sacrifício que
Cristo, na pessoa do sacerdote, oferece a Deus Pai pelos pecados da
humanidade inteira, pedindo as graças para a humanidade inteira,
intercedendo pela humanidade inteira e por situações particulares da
paróquia, da família...
Então,
a grande abominação que entra pela porta da frente da casa de Deus é
esta: o relativismo, o positivismo, são todas essas ideias novas, uma
teologia nova, estranha à teologia católica, condensada em São Tomás de
Aquino, que é a teologia oficial da Igreja.
“Quando
virdes a abominação...”. E isto nos leva de uma fé relativa para tudo o
que daí advém, como a corrupção da família: querem nos colocar um
modelo diabólico de família. Deus não pensou em uma família onde se
“unam” homem com homem ou mulher com mulher. Isso não é família! Família
é aquela querida e pensada por Deus: “Homem e mulher Deus criou”;
“Deixará o homem sua casa, seu pai, sua mãe e se unirá a uma mulher, e
ali será uma só carne com ela.” É a abominação dos grandes lugares
sagrados: a casa de Deus e a família. A família que é o santuário da
vida; é ali onde a catequese é ensinada, onde Nosso Senhor é conhecido,
onde a vida brota... E essa vida, vida eterna, através do exemplo dos
pais, da catequese paternal complementada na Paróquia, na Igreja.
Então,
nós já não temos mais para onde ir; claro que estamos no fim. Quando
será? Daqui a dois mil anos? Daqui a dez anos? Amanhã? Não sabemos. Uma
coisa sabemos: vivemos em dias piores do que o dilúvio! E, se esse mundo
já não foi invadido pelas águas, é por causa da misericórdia de Deus.
Como diz São Pedro: “Se Ele não voltou ainda, não é porque se esqueceu
de nós”, é porque Ele está nos dando uma chance de mudarmos de vida,
“porque está pacientemente à nossa porta”, esperando de nós uma tomada
de consciência, e uma adesão de verdade, sem mentiras, sem fingimentos,
à Sua verdade única, católica, de conversão.
Que
o santo Evangelho deste Último Domingo Após Pentecostes, portanto, nos
abençoe e, tocando a nossa consciência, possa fortificar o nosso
conhecimento da verdade, e abrir os nossos olhos contra a grande praga,
contra a grande abominação que assola a nossa família, que assola a casa
de Deus: o liberalismo, e do liberalismo sempre advém a grande
apostasia. Não há grande desolação sem a grande apostasia; e a grande
apostasia nada mais é do que tirar Cristo do centro, tirar Cristo como
Senhor dos tempos e da sociedade. Com efeito, uma grande onda que está
acontecendo na Europa já chega ao Brasil – como vimos, em Manaus, no uso
sacrílego da palavra “Missa” – e isso é o que se está chamando de Cristofobia:
um grande ódio da sociedade atual contra a sociedade cristã, sob forma
de blasfêmias, injúrias, depredações, desrespeito com a pessoa de Nosso
Senhor e com a pessoa do Papa – como agora há pouco aconteceu na Itália
com uma maldita marca de roupa, que quis denegrir a figura do Santo
Padre para ganhar mais. Todos odeiam a Igreja, mas não vivem sem a
Igreja!
Rezemos pelo Papa, rezemos pela Igreja, rezemos sobretudo pelo Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim seja.
* * *
18/11/2011
"Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus."
04:44 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do XXII Domingo Após Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
℣. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
℟. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Na
epístola aos Filipenses, São Paulo lhes escreve, exortando-os a
perseverarem na santidade de vida, lembrando: “Aquele que começou em vós
esta obra (da vossa santificação), a levará a bom termo até ao dia de
Jesus Cristo”. Esta obra de Santificação, que começou em nós desde o dia
do nosso batismo, realizada pelo Espírito Santo, é uma obra que devemos
com ela colaborar. São Paulo está falando que Aquele que começou esta
obra saberá dar bom termo a ela. É verdade: não nos faltaram até hoje,
desde o dia do nosso Batismo, as graças necessárias para que vivêssemos
esta fé batismal sem eclipses, sem equívocos, mas na verdade e na pureza
própria que a fé exige, mas, sobretudo, na pureza espiritual, na
santidade de vida.
Ora,
nós recebemos uma veste nova, límpida, e ficamos com a alma
resplandecente no dia de nosso Batismo, e, logo em seguida, perdemos
esta veste batismal, esta pureza, esta alvura, esta santidade que nos
colocava em união perfeitíssima com Deus quando cometemos um pecado
mortal. Mas, ora, se cometemos o pecado mortal em plena consciência que
nos dá a razão, por que continuamos a cometê-lo?
Há
quem cometa pecado mortal de forma tranquila, na semana várias vezes...
Isso é um absurdo, isso é um suicídio espiritual, isso é brincar com
Deus! Deus dará, sim, um bom término àquilo que Ele começou em nós, mas
com a nossa colaboração, com a nossa eficiência, com a nossa
participação. “Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti”.
Uma
alma que sempre cai em pecado mortal, volta ao confessionário, cai em
pecado mortal novamente e volta ao confessionário, é uma alma que está
condenada ao inferno! Só falta morrer. Por quê? Porque a nossa caminhada
para Deus não é uma caminhada em espiral; em espiral não se chega a
lugar nenhum, só ao centro, a nós mesmos.
Por
que pecamos? Porque queremos satisfazer a nós mesmos, não a Deus. Isto,
então, é um caminho para o nada, é um caminho em espiral. A nossa vida
para com Deus, o nosso caminhar para a eternidade, é linear, como a
História da humanidade: teve um início que deve ser conduzido [n.d.t.: em linha reta],
além de lembrar-nos que somos chamados a crescer na vida espiritual,
não ficar comendo migalhas, recebendo de Deus o mínimo. Deus nos criou
para as alturas e há caminhos espirituais que temos de trilhar. Os
santos trilharam a seu modo, cada um da forma como o Espírito Santo
conduz. E todos somos chamados a galgar degraus maiores na vida
espiritual, mas nem saímos do chão. Nem saímos do chão... E assim
passamos a vida, e assim vamos envelhecendo, e assim continuamos, e o
pior: estamos nos enganando, achando que porque buscamos a confissão,
estamos tranquilos diante de Deus... De forma alguma! De forma alguma...
Deus quer a conversão imediata, Deus quer o abandono radical do pecado,
para aí sim, após a confissão, crescermos na vida da graça em Deus.
Esta é a verdadeira vida em Deus. Dar a Deus o que é de Deus. E o que é
de Deus? Tudo.
O
Evangelho de hoje traz para nós “dai a César o que é de César, e dai a
Deus o que é de Deus”. Os fariseus, que estavam reunidos com os
herodianos para tramarem como pegar Jesus em contradição, vão até Jesus
com palavras elogiosas, com palavras cheias de veneno, com palavras
lisonjeiras... “Ah, sabemos que és isso, sabemos que és aquilo, sabemos
que falas a verdade, sabemos que não julgas pela aparência...”
“Hipócritas!”, diz nosso Senhor.
Hipócritas,
assim somos nós! “Ah, Deus, meu Deus e meu tudo,...” “Ah, Senhor, é a
vossa face que eu procuro.” “Ah...” Hipócritas, nós somos, porque não
saímos do canto! Não saímos do canto... Parece que estamos andando como
um sujeito que está numa esteira elétrica, fazendo exercício: parece que
ele está caminhando para algum canto, caminhando para onde? Para o
nada! Para o nada: não sai do lugar, mas se cansa.
Nosso
Senhor chamou e chama, neste Evangelho de hoje, os fariseus e os
herodianos de hipócritas. Por quê? Porque não buscavam a verdade;
estavam buscando simplesmente seus próprios interesses, o seu eu. “Dá-me
a moeda do tributo”. O que é tributo? É pagamento, oferta. Ora, ninguém
poderia entrar no templo com a moeda do Império, com a moeda de César;
por isso, na entrada do templo havia os cambistas, que trocavam a moeda
do Império – que eram profanas – por moedas do templo. Como é que os
fariseus, que defendiam a lei, que defendiam a tradição religiosa,
estavam próximos ao Santo dos Santos [n.d.t.:
“Santo dos Santos” era a parte mais interna, reservada, do Templo de
Jerusalém, onde ficava guardada a Arca da Aliança; no Santo dos Santos,
só o Sumo Sacerdote podia entrar, uma vez por ano.] até com
moedas do império, do tributo? Existiam dois tributos: o tributo a César
e o tributo a Deus, este com moedas de Deus, com moedas do templo. Os
hipócritas estavam no templo de Deus com moedas do Império. Tanto que
Nosso Senhor disse: “Dá-me a moeda do tributo”. “Qual rosto que traz a
moeda?” Não era para ser o de César, era para ter o símbolo do templo.
“É de César”. “Pois bem,” – e Nosso Senhor desmascara a hipocrisia dos
fariseus diante de todo mundo – “dai a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus”. O que é de César? Nada, nada é de César. O que é de
Deus? Tudo é de Deus.
Na
nossa vida, que moedas trazemos na Santa Missa? Moedas para Deus ou
moedas para César? A quem verdadeiramente servimos? Ou, a quem estamos
mentindo hipocritamente pela tonsura, como diz São Bento na Regra?
“Certos tipos de monges que mentem a Deus pela tonsura: parecem monges
formosos, santos e piedosos; são demônios revestidos de hábito”. Assim
podemos ser: parecemos piedosos e bons religiosos; podemos ser piores
que os demônios. Podemos ser piores que os demônios...
Que
o santo Evangelho abra o nosso olho, para que possamos enxergar aquilo
que verdadeiramente somos, para que possamos enxergar verdadeiramente as
moedas que trazemos em nós: se são as de César, não devem estar aqui
dentro da Igreja, melhor nem entrar com elas; se estas moedas são de
Deus, a Deus estas moedas devem ser ofertadas.
Não
bajulemos Nosso Senhor. Não cheguemos diante dEle com palavras bonitas.
Ele não se deixa impressionar com nosso repertório. Mas cheguemos
diante dEle com nosso coração sincero e a nossa alma contrita. Isto,
sim, valerá a pena; isto, sim, Ele escutará com apreço. Mas não
queiramos, de forma alguma, escutar terríveis palavras, estas violentas
palavras de Nosso Senhor: “Afastai-vos, malditos, vós que praticastes a
iniquidade".
Homilia proferida em 13 de Novembro de 2011.
* * *
16/11/2011
“É assim que vos tratará o meu Pai celeste se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.”
09:44 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do XXI Domingo Após Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
“É
assim que vos tratará o meu Pai celeste se cada um de vós não perdoar
ao seu irmão do íntimo do coração.” Acabamos de escutar o santo
Evangelho; mais claro do que isso, impossível. O rei, o senhor, resolveu
ver como andavam as questões dos seus empregados, e havia um que devia
uma grande soma. Tinha que lhe pagar, não tinha dinheiro para isso.
Teria que ser vendido como escravo – ele, a esposa, os filhos, todos os
seus bens para quitar a dívida. Esse empregado foi aos pés do patrão, do
senhor, do rei, pedindo-lhe: “Tende paciência, dai-me um tempo que eu
vos pagarei”. O rei ficou extremamente comovido e resolveu perdoar toda a
dívida. O rei não parcelou, não dividiu, não pegou uma parte de
entrada, mas perdoou toda a dívida. Saindo dali, esse empregado
encontrou-se com um amigo que lhe devia bem pouco; foi-lhe ao pescoço,
tentando sufocá-lo, insistindo que lhe pagasse a dívida. E esse amigo
lhe disse: “Tem paciência, dá-me um tempo, eu te pagarei tudo”. Ele não
quis escutar o pobre do amigo, e o lançou na cadeia porque não tinha
como lhe pagar. E algumas pessoas que viram aquela cena foram comentar
com o senhor, com o rei, com o patrão. E o patrão ficou irado, e mandou
chamá-lo: “Servo mal! Eu te perdoei a dívida inteira, eu fui
misericordioso para contigo... E tu não soubeste ser misericordioso para
com aquele que te devia!” E diz o santo Evangelho: "Não devias tu, por
teu lado, ter pena do teu companheiro como também eu tive pena de ti?
Entregai-o aos carrascos, até ficar reembolsado de toda a dívida!”
Noutro evangelho: “Lançai-o fora, na prisão, e dali não sairá até que
pague tudo”. E conclui, com estas palavras terríveis: “É assim que
tratará meu Pai celeste se cada um de vós não perdoar ao vosso irmão do
íntimo do coração”.
Pois
bem. Deste santo Evangelho, nós temos duas verdades importantes.
Primeiro, a dívida para com a justiça, esta justiça que não é uma
justiça humana: é a Justiça Divina, que requer a completa reparação, a paga da dívida. E nós contraímos dívidas contra a Justiça Divina através do pecado. É pelo pecado que nos tornamos devedores desta Justiça Divina. A outra verdade é que nunca conseguiremos pagar a Justiça Divina, porque a grandeza daquele que é ofendido dispensa qualquer tentativa de repor a esta Justiça Divina aquilo
que perdemos pecando contra a sua magnitude. Por isso que, quando nos
confessamos, nunca temos certeza do perdão, mas saímos do confessionário
na esperança de que fomos perdoados. É difícil alcançar uma contrição
perfeita diante daquele que é ofendido; mesmo assim devemos desejar
profundamente esta contrição, à medida que nossa humanidade consegue,
para alcançar esta contrição perfeita. Portanto, se temos duas verdades,
é que: primeiro, diante da Justiça Divina, temos uma dívida; e, segundo, nunca conseguiremos pagá-la, a não ser que Ela nos perdoe toda a dívida.
Dever
é justamente ter que restituir ao outro aquilo que é devido. O que
estamos devendo à Justiça Divina? Aquilo que é devido. E o que é devido
à Justiça Divina?
A glória de Deus, para a qual nós fomos criados. E como é que damos
Glória a Deus? Com os nossos atos. É através dos nossos atos que damos
glória a Deus, sobretudo, através da caridade fraterna, que é o que o
santo Evangelho nos ensina. No “Pai Nosso”, pedimos ao Senhor que Ele
perdoe as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores. E
como é que perdoamos aos nossos devedores? “O Pai celeste vos tratará
assim se não perdoardes de todo o coração... se não perdoardes do íntimo
do vosso coração”. É o perdão pleno. “Dai-me um pouco de tempo, tende
paciência, e eu vos restituirei tudo”, falou aquele indivíduo para o
rei, e o rei aceitou.
Nós estamos no tempo da paciência divina para conosco. Mas Ele exige de nós coerência. Santa Teresa D'Ávila ensinava
que o chão do inferno está cheio de cabeças de padres, de freiras e de
pessoas piedosas. Não se entra no céu somente com o terço na mão, nem
lendo livros piedosos somente. Como o terço é importante! Como as santas
leituras são importantes! Mas, mais importantes que o terço e as santas
leituras, é a coerência de vida! É o temor de Deus na prática.
Tememo-lO não por que é um Deus carrasco, mas porque temos a obrigação
de estarmos na amizade com Ele; há uma dívida, e esta dívida temos a
obrigação de pagar enquanto estamos no tempo da paciência. E aqui se
trata do amor a Deus sobre todas as coisas, do amor ao próximo mais do
que a nós mesmos, este amor que não dispensa a verdade, este amor que
não dispensa a correção; mas temos que viver isto que o santo Evangelho
nos ordena.
Conta-se
que São Gregório Magno, na sua cela pobre, em seu leito de morte,
estava dormindo, e acordou com um tumulto em seu quarto. Eram seus
familiares que tinham acabado de prender um jovem herege que estava com
um punhal na mão. Esse herege conseguiu driblar as pessoas, os
seguranças e chegou até o quarto de São Gregório Magno, sorrateiramente,
para matá-lo, porque a pregação de São Gregório Magno o incomodava. E,
naquele pandemônio, São Gregório acorda e vê seus familiares agarrando
aquele jovem e pergunta: “O que está acontecendo? O que significa
isto?”. E pergunta ao próprio jovem: “O que significa esta mão em punho,
este punhal, esta arma?” E os familiares: “Tu não vês? É um herege que
queria te matar; se nós não chegássemos a tempo, tu estarias morto
agora!”. São Gregório mandou que o rapaz se aproximasse e disse ao
jovem: “Eu te perdoo; vá em paz, ninguém fará nada contra você”. E
aquele jovem, com lágrimas nos olhos, disse: “A partir de agora,
tornar-me-ei católico”, e foi embora. Gesto de caridade, de piedade, o
perdão extremo diante daquele que merecia a guilhotina, que merecia um
grande castigo.
Eis
o tempo da paciência de Deus; sabemos que depois do tempo da paciência
de Deus, vem o tempo da cólera de Deus. Aqui nós temos dois tempos: o
tempo da paciência – o Deus que perdoa tudo e que exige que perdoemos
também – e o tempo da cólera, e quando chegar o tempo da cólera, não
haverá mais apelação diante do tribunal de Deus.
Da
mesma forma, agiu São Cristóvão. Quando alguém, ao passar pela rua lhe
deu um grande soco no rosto, São Cristovão forte, robusto, correndo
atrás daquele indivíduo aos gritos da população que dizia: ”Mata,
mata!”, derrubou o indivíduo; retirando a espada para cortar-lhe o
pescoço. De repente se lembrou destas palavras: “Assim o Pai celeste
fará convosco, da mesma forma o Pai celeste fará convosco se não fordes
misericordiosos, se não perdoardes, no íntimo, o vosso irmão”. Ele
guardou a espada e perdoou aquele sujeito, e disse à população: “Não
posso fazer isto porque eu sou cristão”. Oxalá fizéssemos a mesma coisa!
Não
existe “meio perdão”, porque não existe “meio cristão”. “Meio cristão” é
um hipócrita total, “meio cristão” é um fariseu robusto. Ou se é
cristão, ou não se é cristão; ou se vive o santo Evangelho, ou não se
vive o santo Evangelho; ou se cresce na prática das virtudes, ou não se
cresce nunca! É um ledo engano, um ledo engano: "não existe algo mais
demoníaco, mais diabólico do que um religioso que mente a Deus pela
tonsura", como diz São Bento na sua regra; “melhor um depravado que já
está condenado, melhor um depravado que já escolheu decididamente o
inferno do que aquele religioso morno”. Como, no Apocalipse, o próprio
Nosso Senhor diz: “Como eu gostaria que você fosse quente ou frio de uma
vez; porque você é morno, eu te vomitarei da minha boca”.
Guardemos
estas palavras de Nosso Senhor no santo Evangelho de hoje: “É assim que
vos tratará o meu Pai celeste se cada um de vós não perdoardes ao vosso
irmão do íntimo do vosso coração”. Se assim não for, não se é cristão
católico. Sem isso, não há prática das virtudes. Sem isso, não se pode
aproximar da mesa da comunhão.
Homilia proferida em 06 de Novembro de 2011.
* * *
Para que louvar os Santos?
09:43 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa da Festa de Todos os Santos
Sermão lido pelo Pe. Marcelo Tenório, retirado dos sermões de São Bernardo de Claraval, abade (Séc. XII).
PARA QUE LOUVAR OS SANTOS?
Para
que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta
solenidade? Que lhes importam as honras terrenas, a eles que, segundo a
promessa do Filho, o mesmo Pai celeste glorifica? De que lhes servem
nossos elogios? Os santos não precisam de nossas homenagens, nem lhes
vale nossa devoção. Se veneramos os Santos, sem dúvida nenhuma, o
interesse é nosso, não deles. Eu por mim, confesso, ao recordar-me
deles, sinto acender-se um desejo veemente.
Em
primeiro lugar, o desejo que sua lembrança mais estimula e incita é o
de gozarmos de sua tão amável companhia e de merecermos ser concidadãos e
comensais dos espíritos bem-aventurados, de unir-nos ao grupo dos
patriarcas, às fileiras dos profetas, ao senado dos apóstolos, ao
numeroso exército dos mártires, ao grêmio dos confessores, aos coros das
virgens, de associar-nos, enfim, à comunhão de todos os santos e com
todos nos alegrarmos. A assembleia dos primogênitos aguarda-nos e nós
parecemos indiferentes! Os santos desejam-nos e não fazemos caso; os
justos esperam-nos e esquivamo-nos.
Animemo-nos,
enfim, irmãos. Ressuscitemos com Cristo. Busquemos as realidades
celestes. Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos aqueles que nos
desejam. Apresemo-nos ao encontro dos que nos aguardam.
Antecipemo-nos pelos votos do coração aos que nos esperam. Seja-nos um
incentivo não só a companhia dos santos, mas também a sua felicidade.
Cobicemos com fervoroso empenho também a glória daqueles cuja presença
desejamos. Não é má esta ambição nem de nenhum modo é perigosa à paixão
pela glória deles.
O
segundo desejo que brota em nós pela comemoração dos santos consiste em
que Cristo, nossa vida, tal como a eles, também apareça a nós e nós
juntamente com ele apareçamos na glória. Enquanto isso não sucede, nossa
Cabeça não como é, mas como se fez por nós, se nos apresenta. Isto é,
não coroada de glória, mas como com os espinhos de nossos pecados. É uma
vergonha fazer-se de membro regalado, sob uma cabeça coroada de
espinhos. Por enquanto a púrpura não lhe é sinal de honra, mas de
zombaria. Será sinal de honra quando Cristo vier e não mais se
proclamará sua morte, e saberemos que nós estamos mortos com ele, e com
ele escondida nossa vida. Aparecerá a Cabeça gloriosa e com ela
refulgirão os membros glorificados, quando transformar nosso corpo
humilhado, configurando-o à glória da Cabeça que é ele mesmo.
Com
inteira e segura ambição cobicemos esta glória. Contudo para que nos
seja lícito esperá-la e aspirar a tão grande felicidade, cumpre-nos
desejar com muito empenho a intercessão dos santos. Assim, aquilo que
não podemos obter por nós mesmos, seja-nos dado por sua intercessão.
Homilia proferida em 1º de Novembro de 2011, na Festa de Todos os Santos.
* * *
A verdade não está no relativismo, e, sim, no Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo
09:42 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa da Festa de Cristo Rei – Último Domingo de Outubro
Pe. Marcelo Tenório
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
V. Ora pro nobis Sancta Dei Genitrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Celebramos
hoje a festa de Cristo Rei das nações. É uma proclamação solene do
reinado universal de Nosso Senhor. Esse reinado universal de Nosso
Senhor, que está justamente para a verdade. O que é a verdade? A verdade
é o próprio Senhor. Quando Pilatos, após a colocação de Jesus, O
indaga: “O que é a verdade?”, Nosso Senhor nada responde, porque a
verdade é Ele mesmo, e também porque Pilatos não teve a capacidade de
reconhecê-lO.
A
verdade não é relativa. E não existem várias “verdades”. Há uma ideia
moderna de que cada um traz em si a sua própria verdade, de forma que,
se cada um traz em si a sua própria verdade, ou se cada um é livre para
buscar a sua própria “verdade”, não existiria mais a verdade objetiva, o
que é uma lástima, o que é uma mentira!
Por
exemplo: o que nós estamos vendo acesas sobre o altar, neste momento,
são velas. Esta é a verdade objetiva; ninguém pode dizer que o que está
aceso sobre o altar é outra coisa! Mesmo que acredite e pense o
contrário, terá que, após uma análise racional, se converter a esta
verdade objetiva, que é: “o que está crepitando no altar (neste instante) são seis velas”.
De forma que nós nos rendemos à verdade objetiva. Então, não somos
livres para buscarmos “verdadezinhas”, porque a verdade não está no
“relativismo”.
Na
Santíssima Eucaristia, há a presença real de Cristo, e nela, Ele está
vivo e ressuscitado, como está no Céu: em corpo, sangue, alma e
divindade. Mesmo que alguém não acredite na presença real, Ele não deixa
de ser, Ele não deixa de estar presente na Santíssima Eucaristia só
porque “A, B ou C não acreditam nisso”. Não! Porque isso é verdade, e a
verdade é o que importa.
De
forma que não existe liberdade no homem para encontrar outras
“verdades”. A liberdade nada mais é do que uma orientação para o bem. É
uma capacidade natural que Deus colocou no homem, para que ele se
oriente para o bem. Em última análise e, objetivamente, este bem supremo
é Deus. O livre arbítrio, se usado para excluir o arbítrio divino, tira
essa capacidade natural de se orientar para Deus e para o bem – que é a
verdadeira liberdade – e, mesmo se tendo consciência de que fora disso
só encontrará o caos, que fora disso só encontrará decrepitude e o nada,
mesmo assim insiste-se de forma irracional no erro, e depois vai colher
a consequência de não ter dado adesão à verdade.
É
como alguém que tem plena consciência de que, havendo ali uma tomada, e
de que naquela tomada há energia, descargas elétricas, sabe que não
pode meter lá o dedo porque sofrerá as consequências de um choque
elétrico; racionalmente, a compreensão é perfeita, mas, mesmo com essa
compreensão, em vez de esse alguém agir livremente orientado para o bem,
não: ele toma mão do livre arbítrio para, mesmo na consciência das
coisas, mesmo tendo plena certeza de toda e qualquer consequência, mesmo
assim vai e põe o dedo na tomada, e sofre as consequências.
O
homem foi criado livre, e a liberdade não é fazer o que se quer. A
liberdade é orientar-se para Deus. E no fazer também está o crer. Então o
homem não é livre para acreditar em verdadezinhas, mesmo por que não
existem “verdades”, existe a verdade. Então, o homem não é
livre para tomar outro caminho ou outra orientação que não seja Deus,
este Deus revelado, e este Deus na pessoa de Jesus Cristo, Rei do
universo, de forma que a vontade de Deus para a humanidade é de que
todos reconheçam seu Filho e O tenham como Senhor absoluto, como Senhor e
Rei do universo.
Claro
que, antes da Revelação, havia outras religiões – budista, animistas,
etc. – que, naturalmente, procuravam um ser transcendente. Mas, com o
Cristianismo, com o advento do Cristianismo católico, Nosso Senhor se
revela, o Deus verdadeiro se revela. E culmina com a fundação da Igreja,
que tem a missão, no mundo, de anunciar a verdade de Cristo. Não de
compactuar, não de dialogar até chegar na “igualdade” de duas coisas que
não são iguais. Cristo é Cristo, é Deus verdadeiro; as outras crenças
devem ser convertidas à Verdade plena, que é Cristo, único caminho,
verdade e vida. De forma que a Igreja é, no seu ser íntimo, missionária.
Por quê? Porque fundada para anunciar o Reino de Deus a todas as
criaturas, e a perpetuar-se na história até a consumação dos séculos,
renovando, pela sua ação sacramental, Cristo que salva, Cristo que
santifica, Cristo que ensina, Cristo que governa.
Então
o homem não é livre para tomar, de forma confortável, decisões quanto a
querer abraçar tal fé, tal credo – não, ele não é livre para isso! O
homem é livre, sim, para, no exercício próprio da sua racionalidade e na
busca pela verdade, chegar até a verdade católica, que é Cristo. Esta é
a verdade! É esta a fé, uma só fé, um só batismo, é esta fé revelada, é
esta fé que nos traz a salvação, é esta fé que o Deus Altíssimo deseja
que a humanidade toda abrace. Então, que os budistas se tornem
católicos! Que os protestantes se tornem católicos! Que os muçulmanos se
tornem católicos! Que todos os outros que professam determinadas
crenças, ou até sentimentos “bem naturais” – todos são chamados a aderir
à fé católica.
E,
se eles não aderem por ignorância, aí entra o papel da Igreja, o
apostolado católico de anunciar, em todas as partes, Cristo Rei das
nações. É esta a missão de todos os batizados, de todos os filhos da
Igreja: a de fazer com que Cristo seja conhecido; e, sendo conhecido,
amado; e, sendo amado, seguido. Aí está aquilo que a Igreja nos ordena
pelo nosso batismo: batismo que recebemos, e pelo qual nos tornamos
filhos da Igreja, filhos adotivos de Deus, com a herança dos Céus.
Muitos estão no erro, muitos estão nas trevas, porque muitas vezes nós
nos calamos, não somos capazes de anunciar àqueles que passam em nossa
vida a fé católica, o Catecismo da Igreja. Se muitos, por nossa culpa,
se perdem, teremos que dar contas a Deus de suas almas. É missão da
Igreja, mas é missão de cada um, como membro da Igreja, no seu
apostolado, quer aonde se encontre, anunciar a verdade. E esta verdade é
Cristo, custe o que custar, doa a quem doer. E, deixe-se bem claro: sem
admitir, em relação à fé, a plena liberdade de escolha.
O
homem não é livre para escolher se voa ou se anda, porque o homem não
pode voar sem aparelhos; ele não é livre para escolher. Nós fomos
criados para Deus; a nossa felicidade está em Deus. Deus que se revelou.
Deus que enviou Seu Filho. Deus que fundou a Igreja Una, Santa,
Católica e Apostólica. É esta a verdade! É esta a única barca de
salvação para a humanidade inteira! A nossa missão é: vivendo esta
verdade, anunciando esta verdade, chamar, ensinar a quantos possamos,
para que todos possam aderir a esta verdade de Cristo, a esta verdade
católica. Esta é a verdade, ou a verdadeira ação do nosso apostolado, a
verdadeira liberdade do homem, que não é “fazer o que se quer”, que não é
“fazer o que se gosta”, mas que é aderir, que é dobrar-se, pela
inteligência, à verdade. E esta verdade é a verdade Católica!
Homilia proferida em 30 de Outubro de 2011, na Festa de Cristo Rei.
* * *
08/11/2011
É preciso preparar-se bem para adentrar no Reino dos Céus
03:26 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do XIX Domingo Pós Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
Ave
Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et
benedictus fructus ventris tui Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro
nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
V. Ora pro nobis Sancta Dei Genitrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
No
santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor fala mais uma vez a parábola
sobre o Reino dos Céus. Ele começa dizendo que o Reino dos Céus pode se
comparar ao Rei que ofereceu um banquete para celebrar as bodas de filho
e mandou que seus servos chamassem
os convidados para a celebração. Mas os convidados não quiseram estar
presentes. Ele ordenou, então, que seus emissários os chamassem
novamente, mas os convidados os espancaram e mataram. Ora, então esse
Rei, irado, mandou o seu exército para que punisse severamente aqueles que se negaram a aceitar seu convite.
E
o Rei disse aos servos: “As núpcias estão prontas, mas os convidados
não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias
todos os que encontrardes”. A sala encheu-se de convidados, bons e maus.
O
Rei passa em revista, entra pela sala, observa os convidados, e vê ali
um que não está vestido dignamente. “Amigo, como entraste aqui sem a
veste nupcial?”. Este ficou calado, pois sabia que não poderia
estar ali sem a veste adequada. O que falar diante do óbvio? Então,
chamando os empregados, mandou que fossem-lhes atados mãos e pés, e que
fosse lançado nas trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes.
Ora, ninguém convida o inimigo para
sentar-se à mesa, mas sim os filhos e os amigos. Aqui o Rei convida a
todos, no entanto, uns têm tais compromissos, outros estavam ocupados
demais para prestar atenção ao chamado do Rei, de forma que desdenham do
convite.
O Reino dos Céus é para todos.
A celebração dessas bodas é um convite dado à humanidade inteira.
Primeiro, ao povo judeu, que rejeitou esse convite; depois, o convite é
aberto a todos os povos, bons ou maus, judeus ou pagãos, todos foram
chamados para o Reino dos Céus. Mas é preciso
preparar-se bem para adentrar no Reino dos Céus, “estar com a roupa
adequada”. Sem a roupa adequada, bons ou maus não poderão permanecer na
sala da celebração. Bons e maus foram convidados: os bons, para
tornarem-se santos; os maus, para deixarem a maldade e se apresentarem com a roupa ornada de pérolas, que são as virtudes.
+++
São
Paulo nos ensina na Epístola que devemos viver uma vida digna de filhos
de Deus. Que vivamos a vida de filhos de Deus, que a vivamos
dignamente, dignos daqueles que são chamados ao banquete, que são
chamados à festa, que são chamados à casa do Pai. Para isso, São Paulo nos exorta a uma renovação espiritual, a sermos revestidos do homem novo, à imagem de Cristo ressuscitado.
Somos convidados a nos revestir com uma veste nova, a veste batismal que recebemos no dia do nosso batismo. Muitos a perdem! Mancham-na
ao cometerem pecado mortal! Exorta-nos São Paulo: “Se vos irardes, não
pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deem entrada ao
demônio”. Ou seja, que vivamos dignamente a vida como filhos de Deus,
porque somos chamados ao banquete celeste,
isto é, à intimidade na casa do Pai. Diz São Paulo: “Quem roubava, que
não roube mais; quem adulterava, que não adultere mais”! Também o
Apóstolo nos faz lembrar a pregação de São João Batista: “Quem estava no
pecado, que venha para a graça; quem estava
mal vestido, que se arrume; quem era leproso, que deixe a sua lepra, e
se agarre, e se confie inteiramente na misericórdia de Deus”.
Não teremos desculpa para nos justificarmos se não estivermos prontos para o banquete que Deus nos oferece. O convite
nos foi feito desde o dia do nosso batismo. Éramos pequenos, mas nossos
padrinhos disseram “sim” por nós. Estamos crescidos, muitos já
receberam o Sacramento da Crisma e outros já reafirmaram seus filhos
para participarem deste banquete no Reino dos Céus.
E
o que nos resta? E o que nos falta? São Paulo afirma que, a respeito
dos dons espirituais, não nos falta nada! Deus já nos deu tudo: onde
abundou o pecado, superabundou a graça, de forma que fomos revestidos
das vestes do homem novo.
E é necessário
que aquela veste branca, que um dia foi posta sobre nós em nosso
batismo, possamos trazê-la incólume, límpida para o encontro nesta festa
com o Rei, pois Ele adentrará na sala e nos procurará.
E ai de nós se estivermos mal vestidos! E ai de nós se,
por culpa ou negligência, tivermos deixado este mundo para entrar na
eternidade manchados com o pecado, desdenhando assim da Justiça Divina!
Acontecerá conosco o que aconteceu com este homem: “Amarrai-lhe mãos e
pés e lançai-o fora. Lá haverá choro e ranger de dentes”.
Este
é o tempo em que vivemos, que é para nós o tempo da graça, o tempo da
misericórdia de Deus, o tempo em que Deus sempre nos manda graça sobre
graça. Graças atuais e a graça santificante através dos sacramentos, e,
por vezes, graças extraordinárias para nossa conversão, para nossa nos dar firmeza, para a nossa salvação.
E
o que estamos fazendo com tais graças? Como estamos recebendo essas
dádivas de Deus que permitem prepararmo-nos uns aos outros? Não pensemos
que o amor de Deus dispensará a sua justiça.
Muito pelo contrário: Ele é a justiça. Se não estivermos prontos,
seremos contados entre aqueles que serão expulsos, jogados fora nas
trevas exteriores!
O ranger de dentes nada mais é do que a suprema angústia, a eterna angústia, a eterna agonia, a eterna dor de ter perdido o bem supremo – conscientemente – por ter desdenhado de seu convite.
Façamos
a nossa parte enquanto há tempo; terminado este tempo, abrir-se-á para
nós a eternidade, onde não teremos mais tempo para arrumar as nossas
roupas: aquilo que faltou, faltou, e, tal como deixamos este mundo, nos apresentaremos diante de Deus.
Daqui não levaremos nada, a não ser os frutos de nossa vida. É com esses frutos que iremos nos apresentar diante do Tribunal de Deus.
Cuidemos, imitando São
Paulo nesta Epístola de hoje, para que, vivendo bem, possamos deixar
bem este mundo e podermos ser contados entre os convivas, entre os
eleitos, entre aqueles que irão, eternamente, se banquetear no Reino de
Deus.
* * *
22/10/2011
Maior do que ressuscitar mortos; maior do que curar cegos e coxos é curar a alma
08:08 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do XVIII Domingo Pós Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
Ave
Maria, gratia plena; Dominus tecum: benedicta tu in mulieribus, et
benedictus fructus ventris tui Iesus. Sancta Maria, Mater Dei ora pro
nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
Está
diante de Nosso Senhor um paralítico deitado em seu leito. Não é
difícil imaginar uma grande multidão ao redor de Nosso Senhor. Não se
sabe como conseguiram colocar esse paralítico próximo a Ele com tamanha
multidão que O seguia...
Ora,
o que aquele paralítico desejaria? Evidentemente, queria a cura física.
Muitos vinham de todos os lugares, cegos, aleijados, coxos, todos com
problemas físicos ou espirituais e outras coisas indesejáveis e queriam a
cura. Nosso Senhor fala ao paralítico: “Tem coragem, tem confiança
filho. São-te perdoados os teus pecados”. Nosso Senhor perdoa os
pecados, mas, num primeiro momento, não cura a enfermidade, pois para
Ele está claro: são os pecados que devem ser retirados, perdoados. O
importante não é a cura física, mas a cura interior, a cura da alma, ou
seja, a purificação plena da alma com a misericórdia de Nosso Senhor,
com essa imensa graça que é o poder de perdoar os pecados.
Pois
bem, parece um contrassenso de Nosso Senhor. Todos esperavam milagres,
curas físicas. Nosso Senhor constrange as expectativas daqueles que
estão ali, mas não só isso: Ele deseja, principalmente, atacar a
hipocrisia dos fariseus.
Ali
estavam os fariseus, os Escribas, os Doutores da Lei, não buscando a
verdade, mas para “testar” Nosso Senhor. E Ele, com sua divina
sabedoria, sabia bem a intenção daqueles; sabia que se escandalizariam
muito mais se dissesse: “Seus pecados estão perdoados”.
“Mas
como pode?!”, diriam, “Só Deus pode perdoar os pecados! Blasfemou!
Blasfemou!”, disseram entre si. E Nosso Senhor, conhecendo o coração
deles, interroga-os: “O que é mais fácil: Dizer ao paralítico: Teus
pecados te são perdoados! Ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e
anda?”
Dizer
que os pecados estão perdoados é muito fácil, mas não há mudanças
aparentes. Mas ao dizer “levanta-te e anda”, o paralítico tem que se
levantar e andar. Então, “Para que saibais que o Filho do Homem tem na
terra o poder de perdoar os pecados: ‘Levanta-te’, disse ele ao
paralítico, ‘toma o teu leito e vá para tua casa’. E imediatamente, o
homem se levantou.
+++
Nosso
Senhor não faz milagres de forma gratuita. No mundo de hoje se procura
um Deus milagreiro; um Deus que faça espetáculos de poder. Não! Deus não
costuma agir no extraordinário, pois que os milagres tem apenas a
função de informar, confirmar alguma verdade. No entanto, é o ordinário
que nos forma. Mas por que os milagres? Para que Deus possa assinalar [n.d.r.: confirmar] a sua doutrina.
Nosso
Senhor fala muito claro: “Para que saibais que o Filho do Homem tem o
poder de perdoar pecados”, ou seja, o perdão dos pecados é muito mais
importante, na ordem da graça, do que a cura física.
“Para
que saibais que Eu tenho o poder de perdoar pecados, então levanta-te e
anda”. É a autoridade divina, plena, suprema que realiza o milagre,
pois Deus “assina” a Sua verdade com autênticos milagres.
+++
A
Eucaristia... “Isto é o meu Corpo; Isto é o meu Sangue”, o Corpo e
Sangue de Nosso Senhor. Ele está verdadeiramente presente, é a Presença
Real de Nosso Senhor na Hóstia consagrada. No momento da consagração, o
que era pão já não é mais pão: é Carne; o que era vinho já não é mais
vinho: é Sangue do Deus vivo! E ali está Cristo inteiro, em corpo,
sangue, alma e divindade.
E
Deus assina essa verdade com portentosos milagres eucarísticos, entre
eles, o famoso “Milagre de Lanciano”, ocorrido no século VIII, na
Itália. Até hoje a hóstia está ali, à vista de todos, transformada em
carne e sangue de Nosso Senhor. Há treze séculos! Analisado pela ciência
mais moderna, foi comprovado que a carne é do coração e tem o mesmo
tipo sanguíneo do sangue, além de estarem num estado como se fosse de
uma pessoa viva.
Milagres, assinaturas de Deus a uma verdade!
+++
Sobre a veneração que a Igreja desde o início teve pela a Mãe de Deus...
“Porei
inimizade entre ti e a Mulher”, diz Deus no livro do Gênesis,
dirigindo-se ao demônio. Portanto, há uma guerra, uma inimizade entre a
serpente e a Mulher; entre a descendência da serpente e a da Mulher. Há
uma guerra! Não há paz entre a mulher e a serpente, o demônio; não há
paz entre a descendência da Mulher e a descendência da serpente. “Tu lhe
ferirás o calcanhar e ela lhe esmagará a cabeça”.
Há
uma geração da Mulher e é esta geração que A proclama Bem-aventurada
por todas as gerações! E onde está quem a proclama Bem-aventurada?
Somente na Igreja Católica Apostólica Romana, de forma que unicamente na
Igreja Católica, onde está a verdade plena, encontramos os milagres
autênticos.
O culto a Nossa Senhora, por exemplo, é assinado por muitos milagres de Deus, entre eles, o milagre de Nossa Senhora de Guadalupe. A imagem da mãe de Deus foi “impressa” na roupa [n.d.r.: poncho ou tilma, vestimenta tradicional mexicana] do índio. Nesta aparição inúmeros milagres foram testemunhados. E depois de tantos séculos [n.d.r.: 5 séculos],
com o desenvolvimento da ciência, o “poncho” é analisado e nele
constatam-se coisas impressionantes, como por exemplo, a pintura. Não é
de origem mineral, nem vegetal, nem animal, ou seja, o material usado na
pintura não é de origem natural. Algo sobrenatural, que não foi
pintado, mas impresso, como uma fotografia; a imagem também permanece
como que “flutuando” sobre o pano [n.d.r.: cientistas constataram que a pintura está a 3 décimos de milímetro distante da tilma]. Também uma Mulher [n.d.r.: Nossa Senhora]
está “viva” naquela imagem, pois foi constatado que há temperatura em
seu corpo; está grávida por que ouvem-se batimentos cardíacos em seu
ventre; em seus olhos pode-se ver a cena em que o índio, Juan Diego,
abre o pano, seu poncho, diante do Bispo. Esta cena aparece na pupila
dos olhos da Virgem.
+++
Milagres que a ciência não tem como explicar, e tantos outros milagres com que Deus vai assinando a sua verdade, a sua doutrina.
É
por este motivo que não existe, não pode existir, milagres fora da
Igreja Católica, na mentira, no erro, na discórdia, na divisão. Deus não
assina a mentira, logo, não existe, e nunca existirá, nenhum milagre
fora da Igreja Católica. Por quê? Porque Deus não se contradiz. Deus não
assina aquilo que é falso.
“Mas
houve curas!”, dirão. Ora, curas psicossomáticas! A psicologia e a
ciência podem curar, mas não podem fazer milagres. Milagres somente na
Igreja Católica. Não existe nenhum milagre, nenhum conhecido que pela
ciência tenha sido comprovado, certificado, fora da comunhão da Igreja.
Por quê? Porque Deus realiza o que Ele fez na pessoa de seu Filho,
Jesus: assina Sua obra com autênticos e verdadeiros milagres.
+++
Um
dos maiores milagres que Nosso Senhor nos deixou é a Santa Missa, onde
comungamos, verdadeiramente, Seu Corpo e Sangue. Também a confissão é um
milagre realizado por Deus, através do sacerdote. Este é o maior dos
milagres.
Maior do que ressuscitar mortos, maior do que curar cegos e coxos é curar a alma.
São
João Maria Vianney dizia aos seus paroquianos: “Ide, falai aos anjos,
pedi aos anjos que vos deis o Pão dos Céus e eles vos dirão: ‘Não
podemos’. Ide, pedi à Santíssima Virgem que perdoe os vossos pecados e
Ela vos dirá: ‘Não posso’. Mas procurai o mais simples dos sacerdotes,
só ele poder-vos-á dizer: ‘Os teus pecados estão todos perdoados’”.
Homilia proferida em 15 de Outubro de 2011, na festa de Santa Tereza D’Ávila.
Ave
Maria, gratia plena; Dominus tecum: benedicta tu in mulieribus, et
benedictus fructus ventris tui Iesus. Sancta Maria, Mater Dei ora pro
nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
Homilia proferida em 12 de Outubro de 2011, na festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil.
Homilia proferida em 09 de Outubro de 2011.
* * *
19/10/2011
Nela está a prefiguração daquilo que Deus desejou para toda a humanidade
07:45 | Postado por
Sacerdos
Celebramos
hoje a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora com o título
de Nossa Senhora Aparecida. É a Santa Missa em honra de sua concepção
imaculada.
Nossa
Senhora desde primeiro instante da sua concepção foi preservada de todo
pecado original. Em nenhum momento, nenhuma mancha, nenhuma sombra,
nenhum resquício de nossos pais [n.d.r.: Adão e Eva], nada a atingiu. Por isso a Igreja canta “Toda Pura és, Maria, e em Ti não há mácula”.
+++
A
Imaculada Conceição de Nossa Senhora nos aponta para ensinamentos
extremamente importantes. Nós somos criados para Deus, para estar em
Deus. Estar em Deus é estar na graça e nossos pais [n.d.r.: Adão e Eva]
foram criados na graça, na graça santificante, na vida santa, foram
criados puros e imaculados. Neles toda a humanidade deveria também ser
pura e imaculada. No entanto, foi quebrada a unidade com Deus. Pelo
pecado original nossos pais foram expulsos da presença divina e nós,
seus filhos, recebemos por conseqüência essa mancha original, que nos é
retirada no dia de nosso Batismo.
Nossa
Senhora, na festa da concepção Imaculada, nos lembra que Ela, pela
santa vontade de Deus, foi preservada do pecado original e nEla está a
prefiguração daquilo que Deus desejou para a humanidade inteira, que era
permanecer sempre formosa [n.d.r.: pura], sempre santa, sempre imaculada.
+++
Chamamo-la
hoje sobre o patrocínio de “Aparecida”, pois fazemos referência àquele
belo milagre ocorrido no século XVIII, quando aqueles pescadores foram
atrás de peixes para a festa que seria oferecida a um homem importante, a
uma autoridade importante. Não conseguiram nada, não pescaram nada.
Lembra-nos a pesca milagrosa, sobre a qual narra o santo evangelho. De
repente, um dos pescadores “pesca” o corpo de uma imagem, e, logo em
seguida, lançando as redes novamente, vem a cabeça daquela mesma imagem,
que é a de Nossa Senhora da Conceição. Em seguida, lançando novamente
as redes, conseguem pescar uma enorme quantidade de peixes, a tal ponto
que tiveram medo de que a barca viesse a naufragar. A partir daí, Deus
vai firmando o culto daquela pequena imagem da Virgem Santíssima com
milagres, e ela foi chamada de Aparecida, por que, de fato, aparece
milagrosamente nas águas do Rio Paraíba, e se torna nossa Rainha,
padroeira do Brasil.
+++
Vários
papas na história da Igreja condenaram a nefasta idéia da separação da
igreja e do estado. Condenaram a nefasta idéia do estado laico. Ora, não
existe estado laico, se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e
fundiu o coração do homem com o desejo dEle mesmo. Deus coloca a sua Lei
no coração do homem. Portanto, não pode existir estado laico. É uma
loucura, um suicídio, querer promover a ideia do estado laico, separado
da Igreja. Não pode de forma alguma existir leis contra a Lei Divina,
tampouco contra a lei natural; não pode coexistir um estado laico se o
povo é profundamente e essencialmente religioso.
A
Sagrada Escritura nos fala que Jesus Cristo é o Senhor e que diante
dEle todos os joelhos devem dobrar-se. Ele é o Senhor de tudo! Ele é o
Senhor de todos os povos! Ele é o Senhor também e, sobretudo, da nossa
Pátria, de forma que não somos “neutros” em matéria de fé e religião! E
como só existe uma fé verdadeira, um só Batismo, somente uma fé para a
conversão dos pecados deve trilhar o solo de nossa pátria: a verdade
católica.
Enquanto
muitos dizem o contrário e promovem o contrário, então vamos nós rumo
ao Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, através do Coração
Imaculado de Maria, Rainha e Padroeira do Brasil.
* * *
13/10/2011
Às coisas, aos bens, o nosso desprezo. Fiquemos com Deus!
12:51 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do XVII Domingo Pós Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
Ave Maria, gratia plena; Dominus tecum: benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Iesus. Sancta Maria, Mater Dei ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
Pe. Marcelo Tenório
Ave Maria, gratia plena; Dominus tecum: benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Iesus. Sancta Maria, Mater Dei ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
Acabamos de escutar o Santo
Evangelho deste domingo. Os fariseus, mais uma vez, queriam pôr Nosso
Senhor à prova. E um deles, que era doutor da Lei, perguntou-Lhe: “Qual
é, Mestre, o maior mandamento da
Lei?” A lei hebraica possuía cerca de 613 mandamentos. Eles sabiam os
mandamentos de cor. O grande entrave de Jesus com os fariseus é que eles
eram hipócritas: pregavam, mas não faziam; impunham aos outros grandes
pesos, mas nem eles mesmos praticavam a sua religião.
Nosso Senhor, dando-lhes a resposta, mostra a necessidade de apenas dois grandes Mandamentos. Um é dependente do outro. E esses dois Mandamentos foram tirados da própria lei judaica. O primeiro deles: “Amarás o Senhor de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua mente...”. O segundo mandamento é dependente deste: “... e a teu próximo como a ti mesmo”. “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo”. Ou... mais do que a ti mesmo.
Nosso Senhor, dando-lhes a resposta, mostra a necessidade de apenas dois grandes Mandamentos. Um é dependente do outro. E esses dois Mandamentos foram tirados da própria lei judaica. O primeiro deles: “Amarás o Senhor de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua mente...”. O segundo mandamento é dependente deste: “... e a teu próximo como a ti mesmo”. “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo”. Ou... mais do que a ti mesmo.
+++
Conta uma estória
que um príncipe russo vinha por uma aldeia e viu uma jovem mulher com
uma criança no braço. De repente, escutou aquela mulher dar um grande
grito (mas um grito de alegria), olhar para o céu e fazer o sinal da
cruz. E o príncipe foi interrogar aquela aldeã,
que lhe disse: “Alteza, é a primeira vez que meu filho me dá um
sorriso”. Se uma mãe, um ser humano, fica tão feliz com um simples
sorriso do seu filhinho, que é sinal de agradecimento, reconhecimento de
sua maternidade, quanto mais Deus fica também feliz
conosco com nosso sinal de amor para com Ele. E (a mãe) estava
agradecida a Deus por causa do seu filho pequeno que lhe sorria pela
primeira vez. Assim somos nós: deveríamos ser agradecidos a Deus por
tanto amor, até ao ponto de doar Seu único Filho em nosso resgate.
+++
Amar a Deus sobre todas as coisas.
Primeiro, com toda a nossa mente. Somos ordenados a amar a Deus com toda
a nossa mente. Não com a metade, não com o pouco dela, mas toda a nossa
mente. O amor é radical. Deus nos amou “radicalmente”. É
extremo, é imensurável esse amor de Deus, é extraordinário: nós não
somos nada, e a Ele nada acrescentamos, mesmo assim Ele quis nos amar,
sabendo de tudo (porque era Deus), nos amou e deu Seu Filho, para ser
massacrado por nós. Então, este amor para com
Aquele que é radical no seu amor, também deve ser um amor radical. E
Ele nos ordena a isso. Ele não se satisfaz com a metade do nosso coração
– nosso coração e nossa mente. Afirma Santo Agostinho: “Ou se ama, ou
se não ama. Ou se é santo, ou não se é santo.
Ou se é honesto, ou não se é honesto.” Ou uma coisa ou outra; o “meio
honesto” não é honesto; ou se é honesto, ou não se é honesto. Ou se ama a
Deus, ou não se ama a Deus. Não podemos amar a Deus pela metade, por
isso a exigência: “com toda a nossa mente”; e essa mente está livre (para amar a Deus).
+++
Em 1512, conta a história, viveu um
um certo Boscoli (Pier Paolo Boscoli): a família Medici o aprisiona, e
leva à morte aquele grande republicano. Pois bem, no momento derradeiro,
no momento da morte, estava ele
angustiado. Ele pedia insistentemente a um amigo, um artista chamado
Luca, que o ajudasse. A mente de Boscoli, com tantas e tantas
filosofias, tantas e tantas idéias revolucionárias, tantas e tantas
divagações... Mas, naquele momento, ele queria
poder focar-se, focar sua mente, somente em Deus. Uma angústia tremenda
de uma mente apavorada, de uma mente cheia de muitas e muitas coisas
que jamais seriam capazes de ajudá-lo a morrer bem, a ter uma contrição
perfeita, a fazer um ato de piedade, com toda
a sua mente... Uma alma realmente cheia de devassidão, uma alma
realmente cheia de pornografia, uma alma realmente cheia das coisas e
dos amores desse mundo, jamais, jamais conseguirá amar a Deus com toda a
sua mente. E se não se ama a Deus com toda a sua mente, por fim o que isso trará?
Para isso é necessária a purificação da mente, a mente purificada, a mente convertida, a mente livre, a mente cheia de Deus... Daí a necessidade da meditação, da oração freqüente, da meditação nos Mistérios de Cristo, sobretudo nos Mistérios da Paixão. Os santos se fizeram santos, amaram a Deus sobre todas as coisas, de toda a sua mente, justamente esvaziando-se do mundo para encher-se das coisas sagradas. E aí entra uma boa meditação. Nas meditações da Paixão de Cristo, tantos e tantos nela se fortificaram, nela se santificaram, de todo o coração.
Para isso é necessária a purificação da mente, a mente purificada, a mente convertida, a mente livre, a mente cheia de Deus... Daí a necessidade da meditação, da oração freqüente, da meditação nos Mistérios de Cristo, sobretudo nos Mistérios da Paixão. Os santos se fizeram santos, amaram a Deus sobre todas as coisas, de toda a sua mente, justamente esvaziando-se do mundo para encher-se das coisas sagradas. E aí entra uma boa meditação. Nas meditações da Paixão de Cristo, tantos e tantos nela se fortificaram, nela se santificaram, de todo o coração.
+++
Santo Agostinho certa vez se
encontrava pregando para uma multidão em sua igreja, e perguntava: “Mas
existe alguma coisa nesta vida que a gente possa preferi-la a Deus –
poderes, riquezas, bens –, tudo isso, todas estas coisas são capazes de
preencher em totalidade a vida de um homem a tal ponto dele preferir
tudo isso a Deus? Nós, cristãos – indagava Santo Agostinho – teríamos a
coragem de aderir, de querer todas estas coisas,
se fosse para escolher entre Deus e elas?” E do meio do povo, uma voz
entusiasta gritou: “Fiquemos com Deus! E que as coisas possam ir embora,
que as coisas possam desaparecer, que os amores humanos possam ser
desprezados. Nós, fiquemos com Deus!” É
uma atitude que deve ser tomada por cada um de nós, na nossa vida, no
nosso dia a dia, nas coisas que querem tentar os olhos e a carne, nas
coisas que batem à nossa porta, nos amores humanos, o mundo, as
seduções; os cantos ou os cantares do paganismo insistentemente
nos dias de hoje... A todos eles, possamos dizer: “A vós, o nosso
desprezo! Fiquemos com Deus! E somente com Ele, e com todas as nossas
obras, de toda a mente, de todo coração”.
+++
Deus espera de nós um amor operoso, não sensível. A sensibilidade
nos faz cair no mundo do subjetivismo, romântico, e dali não saímos; é
uma areia movediça, atrofia a alma. O que mais existe hoje,
infelizmente, na Igreja, é a ideia de um amor sensível, tanto de Deus
para conosco como de nós para com Deus, que tira,
pelo menos da nossa parte, o heroísmo, o heroísmo autêntico, a força, a
determinação, porque caímos no vendaval das coisas sensíveis e olhamos
para Deus com amor meramente romântico, sensitivo... Não! Não é este
amor com o qual Deus nos amou. Deus não nos
amou com amor sentimental, e Ele espera de nós justamente isto: o nosso
amor operoso, o “faça-se”, o concreto. Alguém diz: “Deus, eu rezo
muito, faço penitências, mas eu não consigo sentir o amor de Deus”. Mas
não se precisa sentir o amor de Deus. O amor
de Deus não é para ser sentido, mas constatado (...). Também com
relação a Ele precisamos agir, precisamos falar e fazer concretamente o
que esse fiel no seio da igreja de Santo Agostinho disse com a vida,
gritou com a alma:
Às coisas, aos bens, o nosso desprezo. Fiquemos com Deus!
Homilia proferida em 09 de Outubro de 2011.
* * *
26/09/2011
A palavra de Deus é uma espada que deve penetrar em nossa alma
16:52 | Postado por
Sacerdos
Homilia da Missa do XVI Domingo Após Pentecostes
Pe. Marcelo Tenório
Ave
Maria, gratia plena; Dominus tecum: benedicta tu in mulieribus, et
benedictus fructus ventris tui Iesus. Sancta Maria, Mater Dei ora pro
nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
No Evangelho de hoje, Nosso Senhor fala duas coisas extremamente importantes.
A
primeira, em relação à lei: Ele é o Senhor de tudo e também do sábado.
Estava diante dos fariseus, dos mestres da Lei, daqueles que "seguiam"
todos os preceitos judaicos – pelo menos exortavam ao povo que seguisse
(...). Dos grandes milagres de Nosso Senhor, é sobretudo contra os
fariseus; a eles, Nosso Senhor dirigiu grandes e fortes palavras,
violentas palavras, entre elas, “raça de víboras”, ainda “sepulcros
caiados, por fora são formosos, mas por dentro, cheios de podridão”,
“quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?” As palavras mais violentas
de Nosso Senhor, na Sagrada Escritura, no Novo Testamento, nos Santos
Evangelhos, essas palavras justamente são para os fariseus, não porque
fossem mestres da Lei – de certa forma foram os fariseus que preservaram
o povo de Deus da idolatria. De certa forma... Mas Nosso Senhor não
admitia a sua hipocrisia: pregavam, mas não faziam; impunham aos outros
grandes pesos, quando na verdade, não seguiam a lei e o testemunho que
defendiam.
Um
momento claro disso é a famosa cena do “Daí a César o que é de César”:
os fariseus pregavam, por esta Lei, que ninguém poderia entrar no templo
com a moeda romana já que o Império não aceitava o culto de Deus. Era
considerado impuro todo aquele que tivesse com a moeda do Império,
império pagão... Então ao entrar no templo, teriam que fazer câmbio,
troca das moedas: deixavam as moedas [n.d.r.:do Império]
no templo (na parte de baixo), e recebiam as moedas sagradas do templo.
Quando os fariseus querem pôr Jesus à prova – “Mestre, é lícito ou não é
lícito pagar imposto a César?” – Nosso Senhor tira uma moeda. Por quê?
Para desmascará-los! Para que, diante de todo mundo, eles fossem
desmascarados, na sua hipocrisia, na sua farsa. Jamais um fariseu, um
doutor da lei, poderia estar dentro do templo com moedas romanas. E
Nosso Senhor ainda pergunta: “O que tem na moeda? De quem é o desenho na
moeda?” Claro, (de) César. Aquele fariseu ficou extremamente injuriado
por Nosso Senhor; e Nosso Senhor juntou: “Dai a César o que é de César, e
dai a Deus o que é de Deus”.
Aqui [n.d.r.: no Evangelho deste Domingo]
é Nosso Senhor quem provoca. Nosso Senhor aponta o dedo aos fariseus
hipócritas: “É lícito ou não é lícito fazer o bem em dia de sábado?”, já
que os fariseus estavam ali observando a Jesus; os fariseus estavam ali
não porque seguiam a Jesus, mas porque queriam pegar, nas palavras de
Jesus, algo contra ele, para acusá-lo. E outra coisa que os fariseus não
admitiam é que Jesus curasse quem quer que fosse em dia de sábado – dia
de sábado é dia de descanso. E Nosso Senhor pergunta: “É lícito ou não é
lícito fazer o bem em dia de sábado?” “Quem de vocês, se um boi ou
jumento cai no buraco em dia de sábado, não o tiram?” Claro que eles
tiravam! Claro que eles tiravam... E Nosso Senhor cura aquele jovem
diante dos fariseus...
Em
seguida, Nosso Senhor vai para outro lugar, e vai terminar com uma
máxima: “Quem se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado”.
Para quem é esta máxima? Contra quem é esta máxima? Por que esta máxima?
Parece que Nosso Senhor muda de assunto: está falando da lei do sábado,
permitido ou não permitido em dia de sábado, e por que agora esta
máxima da humildade? Justamente por causa do orgulho dos fariseus. Eram
orgulhos, eram vaidosos; amarravam a lei do shema em caixas na testa e
nos pulsos para todos verem que eles eram extremamente religiosos;
gostavam de ser vistos nas sinagogas, de estarem nas assembleias e nos
grandes banquetes; buscavam os primeiros lugares. E Nosso Senhor ensina:
“Quando vocês forem a um banquete, não procurem sentar nos primeiros
lugares, porque pode ser que aquele lugar não seja para você, e alguém
vai se sentar e pedir [n.d.r.: para deixar o lugar],
e você se sentirá humilhado. Mas, pelo contrário, que você se assente
no último lugar, porque aí o dono do banquete, vendo-o, te chamará a
frente, e será para ti uma honra. Por que aquele que se exalta será
humilhado, e quem se humilha será exaltado”.
Isto
serve muito para nós. Palavra de Deus, não é para os fariseus; eles já
morreram, já foram julgados, é para nós que estamos aqui hoje.
E nós, fazemos o bem ou praticamos o mal? E nós praticamos a misericórdia, ou somos todos rigoristas, como os outros? (Nós não aprendemos nada daquilo que admoestamos, nem aos nossos filhos, nem aos nossos amigos, somos fariseus...)
A palavra de Deus é uma espada que deve penetrar toda a nossa alma.
E nós, fazemos o bem ou praticamos o mal? E nós praticamos a misericórdia, ou somos todos rigoristas, como os outros? (Nós não aprendemos nada daquilo que admoestamos, nem aos nossos filhos, nem aos nossos amigos, somos fariseus...)
Buscamos
que os outros nos vejam de que forma? Buscamos os primeiros lugares, em
tudo, até em nossas orações diante de Deus, achamos que valemos alguma
coisa e que Deus tem a obrigação de se encurvar diante de nós, de se
abaixar para nos escutar? “Ah, meu Deus, o tanto que eu rezo, e o Senhor
não me escutou...” Hipócrita! Sepulcro caiado! Se Deus não te escuta, é
porque tu não mereces nada de Deus, porque Deus quer provar, porque
Deus quer que você se rebaixe mais ainda! Nosso lugar não é no alto, é
no chão, de joelhos diante do Senhor. Nós não somos nada, nós já somos
devedores desde o inicio... Deus não nos deve nada. Nós Lhe devemos
tudo.
O
Santo Evangelho de hoje, desta grande máxima, traz para nós esta
doutrina da infância espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus e da
Sagrada Face; ela que disse, sabiamente disse: “Ha uma só coisa que não é
motivo de aflição, de disputa de ninguém, que é o ultimo lugar. E é
esse o lugar que eu quero para mim: o ultimo lugar”. Escondeu-se.
Escondeu-se do mundo. Quis ser um grão de areia, uma bolinha nas mãos do
Menino Jesus. E o que acontece com esta Teresinha que se humilhou e se
ocultou? (Se ocultou?) no mundo inteiro. Não há igreja, não há local,
não há região que não conheça a glória de Teresinha, daquela que se
ocultou, daquela que se fez nada, daquela que desejava ser tudo para
Deus, desejava ser uma bola, uma bolinha nas mãos do Menino Jesus, para
que o Menino Jesus pudesse brincar, para lá e para cá, e quando não
quisesse mais, pudesse deixar em qualquer canto aquele “brinquedo”.
“Quem se humilha será exaltado.” E hoje a Igreja canta, o mundo inteiro
canta a glória de Santa Teresinha, porque se fez nada, e fazendo-se nada
ganhou tudo: tudo que é Deus, os dons de Cristo, os dons do Menino
Jesus na sua alma. Imitemos a sua determinação, imitemos os seus
exemplos, e corramos ao encontro dessa grande virtude, na prática dessa
grande virtude. Cada vez mais que nos rebaixamos diante de Deus, mais
Deus nos exalta, mais Deus concede-nos a sua graça, mais Deus se achega a
nós. Que Santa Teresinha, com seu exemplo, com a sua glória, a glória
daquela que se fez nada diante do Altíssimo, possa rogar por nós, para
que convertamos a nossa mente, o nosso coração, e possamos dizer como
ela, como os Santos, como São Francisco de Assis: “Meu Deus e meu tudo”.
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